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Crítica | Cais (Olhar de Cinema 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 17 de jun.
  • 2 min de leitura

Safira Moreira rejeita moldes tradicionais e ocidentais do documentário para construir obra poética que discorre sobre o luto, ancestralidade e esperança.

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

Como se filma o luto? Como se expressa na forma fílmica a perda e a dor? O cinema sempre foi um espaço de experimentos para traduzir sentimentos aparentemente intraduzíveis, das mais variadas maneiras possíveis. A diretora baiana Safira Moreira encontra a sua em Cais, filme que surge do seu desejo não de lamentar o luto por sua mãe Angélica, mas de reencontrá-la nos cenários filmados, nas memórias deixadas e na ancestralidade que a rege em um nível espiritual.


Filmado na região banhada pelas águas do Rio Paraguaçu, ancora-se entre passado e futuro, entre dor e esperança, conforme parte da ausência (e presença) da mãe de Safira para também posicioná-la enquanto mãe do pequeno Armani. É como um fio invisível que conecta gerações distintas, ainda que tais articulações se deem de uma perspectiva mais geral, que abrange espiritualidades e cosmovisões que desafiam e subvertem a lógica ocidental, como nas passagens voltadas ao Jarê, prática religiosa de matriz africana oriunda da Chapada Diamantina.

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

O próprio documentário, portanto, incorpora essa cosmovisão para sua própria forma fílmica, rejeitando os moldes tradicionais do cinema documental e de suas narrativas. Mesmo a presença dos personagens (como Mateus Aleluia) não surge para dar conta da dor particular de Safira, mas sim para integrar a jornada que ela assume a uma dimensão e cosmovisão muito mais amplas. São passagens pontuais, que quebram o silêncio e a sensorialidade assumidas pela obra, a qual busca muito mais os sons ambientes (bem como as canções religiosas) para conferir cadência ao seu ritmo.


Esse ritmo, porém, pode parecer um tanto sôfrego em alguns momentos, apesar da curta duração. Além disso, a abordagem mais ampla pode fazer parecer que não há um foco particular na própria figura da mãe de Safira ou da maternidade desta. Problemas próprios do filme ou apenas uma forma ocidental de pensamento e cinema enraizados em mim? Difícil dizer, mas é inegável que Cais encontra poesia em sua forma subversiva e imersiva.


Nota: 3/5


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