Crítica | Pecadores
- Ávila Oliveira
- 15 de abr.
- 2 min de leitura
Suingada e inspirada, fantasia sobrenatural é impactante e surpreendente.

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Ryan Coogler apresenta Pecadores, uma nova e visionária imaginação do terror, estrelada por Michael B. Jordan. Dispostos a deixar suas vidas conturbadas para trás, irmãos gêmeos (Jordan) retornam à sua cidade natal para recomeçar suas vidas do zero, quando descobrem que um mal ainda maior está à espera deles para recebê-los de volta.
O primeiro esforço positivo do filme do versátil cineasta Ryan Coogler é a constante luta para fugir do óbvio. O texto é encorpado como um volumoso livro que se impõe sobre uma estante de livros do mesmo gênero. Embora a cena inicial indique o tom que o longa seguirá eventualmente, a maneira com que a contextualização se desdobra em todo o primeiro ato faz o espectador por alguns momentos esquecer do que está por vir, tamanha a imersão nas personalidades, no cenário e nos detalhes. E o roteiro não leva nada do que é apresentado ao público em vão, tudo é deliciosamente mostrado, todos os personagens importam, todas notas musicais somam ao ritmo da narrativa. É muita coisa para digerir e o filme saboreia cada pedaço com calma e com vontade.
É importante distinguir que a produção em nenhum momento tenta esconder suas verdades, suas pautas, seus questionamentos e seu gênero. Não é porque existem subtextos e camadas que o cerne daquele argumento é deixado de lado, pelo contrário, ele fica embrulhado como um aguardado presente cuja vontade de se abrir é tão grande quanto o cuidado e a beleza com que é construída a embalagem.
E quando o filme resolve se mostrar ao público é quando a diversão, de fato, se inicia. Entre Um Drink no Inferno (1996) e A Última Noite (2006), Pecadores não precisa se esforçar para impor sensualidade, tensão e misticismo. Ainda assim, algumas decisões como a de evocar falas já ditas e situações já explicadas para justificar escolhas criativas, que poderiam ter sido evitadas para deixar o filme mais solto, mais livre. Mas nada disso chega a prejudicar a estrutura ou o apurado. A facilidade e a leveza com que tantas abordagens permeiam o mesmo tom constante por todo o longa é de encher os olhos. E o espetáculo sensorial é também agradável aos ouvidos. Usando a música como ritual, de fé ou social, ele transborda identidade e sonoridade. Existe uma sequência específica que mostra a fluidez e a força da música através do tempo, que é um dos momentos mais bonitos criados pelo cinema estadunidense até hoje.

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Da mesma forma que falei que todos os personagens são importantes, todo o elenco está à altura dessa relevância. Michael B. Jordan brilha em seu trabalho e desenha bem, em suas distinções, seus dois protagonistas. Miles Caton, Delroy Lindo e Jayme Lawson são apenas alguns dos nomes que resolvi destacar entre todos que ganham espaço em cena. O elenco por completo entendeu a autoridade dos diálogos e expressam cada palavra com veemência, autenticidade e domínio do texto.
O resultado é revigorante, empolgante e efervescente. É afrocentricidade empregada de forma inteligente, com alegorias ricas, e sem esquecer o divertimento.
Nota: 4/5
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