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Crítica | Sereias (Minissérie)

  • Foto do escritor: Filipe Chaves
    Filipe Chaves
  • 23 de mai.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 25 de mai.

Ótimo elenco não consegue salvar esta tentativa de sátira da bagunça que ela é

Divulgação
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Criada por Molly Smith Metzler, que também criou a sensacional Maid (2021), Sereias conta a história de Devon (Meghann Fahy), que precisa da ajuda da irmã Simone (Milly Alcock) para cuidar do pai com demência. A vida de Devon é um trem descarrilhado, mas ela faz o que pode, e quando Simone não responde as mensagens e nem atende ligações, a moça resolve ir buscá-la pessoalmente em uma luxuosa propriedade litorânea onde ela trabalha como assistente de Michaela (Julianne Moore), uma mulher muito rica por quem Simone parece ter verdadeira adoração. Esta premissa básica é bem interessante e a minissérie tem uma identidade própria, apesar de ser mais uma pós The White Lotus. No entanto, a tentativa de satirizar a excentricidade dos ricos da vez cai por terra quando há um forte desequilíbrio entre o drama e o humor, que não ornam com as estranhezas que a produção propõe. É como se algumas cenas funcionassem isoladamente, mas não se conectam muito bem com o que a série constrói e como desenvolve seus personagens.

As três protagonistas estão excelentes nos papéis e é uma pena que o material não esteja à altura. Meghann Fahy consegue dar alguma humanidade à sua Devon barraqueira e sem papas na língua e tem um surpreendente timing cômico muito afiado. Milly Alcock, revelação de House of the Dragon como a jovem Rhaenyra, em nada lembra a rainha. Aqui ela é uma jovem ambiciosa que quer ter sempre o controle da situação, mas quando isso foge das mãos dela, é seu momento de brilhar. Julianne Moore parece estar à base de medicamentos quase o tempo todo, o que casa bem com o que o texto e a direção pedem dela, sem perder a elegância quando sua Kiki – como é conhecida – precisa se impor de outra forma. Kevin Bacon é o marido de Kiki, Peter e o ator está bem, mas não se sobressai. Glenn Howerton, Josh Segarra, Felix Solis e Bill Camp completam o baita elenco, que realmente merecia mais substância em personagens tão volúveis que é quase impossível estabelecer uma conexão com o telespectador.

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Felizmente, são apenas cinco episódios, mas desde o primeiro os problemas aparecem. As protagonistas são apresentadas como estereótipos, mas o texto não as leva para além da casca. O mito das sereias fala sobre belas mulheres que, com seu canto, seduzem pessoas – homens, principalmente – e os levam para o fundo do mar. É a metáfora que a minissérie tenta fazer com suas personagens principais. Devon e Simone colecionam ficantes apaixonados por elas, enquanto Kiki recebe a adoração da alta sociedade. Há um misticismo envolvido com as três, mas unicamente para trazer estranhezas, ressaltadas por olhares hipnotizantes ou até uma lambida em um pescoço – sim, isso mesmo. Sem falar nos mistérios abordados, resolvidos com simples conversas. São jogados na tela, mal trabalhados e com uma resolução pior ainda. 


O título também é uma referência mais clara a um código de pedido de ajuda das irmãs, e quando eu disse que algumas cenas são boas isoladamente, estava me referindo às que Devon e Simone dividem, principalmente quando emocionadas. Ali, naquele momento – muito por causa das atrizes também – parece que há uma relação bem explorada pelo roteiro. Na cena seguinte a impressão se desfaz, porque nem a série parece saber aonde quer chegar e atira para todo lado, não tendo sucesso no humor, suspense ou drama, salvo raríssimas exceções em cenas isoladas. E o final, uma sucessão de atropelos convenientes para que resultem em uma reviravolta pífia e previsível, coloca tudo a perder. Se algo fez sentido ali, não faz mais. Um dos maiores problemas de uma produção pretensiosa não é ela ser pretensiosa – até porque foi isso que faz ela ter algum destaque –, é quando ela se leva tão à sério que não consegue sequer entreter, como é o caso aqui, e se não fosse pelo elenco, praticamente nada se salvaria.


Nota: 2/5



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