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Crítica | Missão: Impossível – O Acerto Final

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 7 dias
  • 4 min de leitura

Entre o drama e a autoconsciência da grandiosidade, oitavo filme da franquia mostra mais uma vez o poder do estrelato de Tom Cruise.

Divulgação


Desde que vimos os colegas de Ethan Hunt (Tom Cruise) serem mortos um por um nos trinta minutos iniciais do primeiro Missão: Impossível, ficou claro que, embora o personagem pudesse ter parceiros e parceiras em suas missões a cada filme, a franquia seria essencialmente um veículo para o estrelato do ator. Houve épocas em que isso seria um problema (como no auge da sua sandice com a cientologia em meio à divulgação de Missão: Impossível III), mas conforme Hollywood se tornou cada vez mais desesperada por qualquer IP que lhe renda o máximo possível de lucro, Cruise redirecionou os esforços da franquia para transformá-la num espetáculo que, sobretudo, lembrasse ao público os verdadeiros prazeres de se estar numa sala de cinema vendo algo feito por mãos humanas.


Assim, O Acerto Final, oitavo e (supostamente) último longa da franquia, chega num momento onde a crise criativa de Hollywood parece mais forte do que nunca, com estúdios pedindo que você reproduza memes dentro da sala de cinema e faça da experiência o maior parque de diversões possível (alô, Minecraft). O próprio lançamento do filme no mesmo dia de Lilo e Stitch, mais uma das infindáveis adaptações em live-action da Disney de suas próprias animações, parece simbólico, uma piada cósmica que ilustra a briga que Cruise comprou para si mesmo ao usar seu rosto e estrelato para motivar as pessoas a verem seus filmes.


Dando continuidade aos eventos diretos do longa anterior, Acerto de Contas pt. 1, o filme nos leva a uma realidade quase distópica, onde a IA conhecida como a Entidade tem manipulado a realidade ao seu bel-prazer, corrompendo mercados financeiros e sistemas militares enquanto inspira seguidores fanáticos. Cabe a Ethan e seu time – composto pelos seus leais parceiros Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), a ex-ladra Grace (Hayley Atwell), a ex-vilã Paris (Pom Klementieff) e o recém-chegado Degas (Greg Tarzan Davis) – impedir os planos da Entidade para dominar o mundo, bem como do vilão Gabriel (Esai Morales), que quer controlá-la para ele próprio dominar o mundo, e de qualquer governo (incluindo o dos EUA) que queira usá-la para, bem... dominar o mundo.


Grandiloquência e megalomania sempre fizeram parte do universo de Missão: Impossível – pelo menos a partir de Protocolo Fantasma, onde a franquia buscou estabelecer uma identidade mais coesa, conforme apontei na minha análise dos filmes anteriores. Aqui, porém, elas são levadas a um novo nível, conforme O Acerto Final se estabelece como um thriller geopolítico de escala global. Ethan é até mesmo chamado de “Escolhido” pela Entidade, que quer usá-lo como seu novo profeta no lugar de Gabriel, mas Cruise e Christopher McQuarrie (que, em sua quarta vez na cadeira de diretor, se firma novamente como o grande parceiro criativo do ator para a franquia) nunca escondem sua visão ambiciosa e ao mesmo tempo simples: um mundo melhor só poderá ser feito por pessoas em união e não por IAs que carreguem o pior de nossos traços. Ethan é sim um salvador da humanidade, mas só porque está desinteressado em ser superior a ela, sendo movido por sua paixão e determinação, conforme ilustrado pelo seu ethos, repetido diversas vezes no filme: “vivemos e morremos nas sombras, pelos nossos entes queridos e por aqueles que desconhecemos”.

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A insistência nessa declaração pode fazer com que o filme, assim como seu antecessor, sofra de certa redundância, com o roteiro de McQuarrie e Erik Jendresen apelando para certas explicações didáticas que truncam o ritmo da obra em determinados momentos – chega ser curioso ver o padrão de ver certo assunto ser explicado por diferentes personagens, quase numa espécie de jogral. Além disso, a condição de suposto último filme da franquia leva a uma necessidade constante de amarrar pontas soltas e fechar ciclos. Algumas ideias funcionam muito bem (como o retorno de um coadjuvante do primeiro filme), outras não (o verdadeiro nome de Briggs, personagem de Shea Wigham) e outras caem no meio termo (a conexão com o Pé de Coelho, o McGuffin do terceiro filme).


Mas a verdade é que a essa altura nosso maior interesse com Missão: Impossível é ver de que formas Tom Cruise arriscará sua vida para entregar o maior espetáculo cinematográfico possível, e nesse aspecto O Acerto Final não decepciona nem um pouco. Se o antecessor alardeou tanto o salto de moto feito pelo ator ao ponto da cena ter soado anticlimática nas telonas, aqui isso não acontece, pois vemos uma obra que prioriza uma cadência dos eventos que aponta para uma crescente intensidade dramática, intensidade esta que se paga na segunda metade. Assim, as sequências no submarino e a perseguição de aviões, brevemente apresentadas nos trailers e materiais promocionais, são verdadeiras experiências que por si só justificam a ida ao cinema, mantendo-nos presos na cadeira enquanto nos desesperamos pelo destino de Ethan, mesmo sabendo que ele já escapou da morte muitas vezes.


É Cinema com rosto e identidade, afinal de contas, e O Acerto Final, mesmo que não consiga roubar de Efeito Fallout o posto de melhor da franquia, reforça mais uma vez que não há ninguém com o “star power” que Cruise ainda carrega hoje em dia. Sua devoção e comprometimento (com uma certa dose de insanidade, obviamente) são fundamentais para tornar esses filmes obras memoráveis não só dentro dos gêneros da ação e da espionagem, mas do cinema como um todo. Se essa é a última vez que o veremos interpretando Ethan Hunt nas telonas, não sei dizer, embora o filme ofereça um desfecho mais do que adequado a uma trajetória tão icônica. Mas se Ethan – e Tom – me diz para confiar nele mais uma vez, como ocorre em certa cena desse filme, a minha resposta é: sim, eu confio.


Nota: 4.5/5

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