Nova temporada se revela um verdadeiro murder mystery mal executado
Divulgação: Netflix
Batendo recordes de audiência desde a sua estreia, Você representa, atualmente, uma das mais relevantes produções da Netflix. No entanto, após três anos de sucesso ao explorar os alvos individuais do perseguidor Joe Goldberg (Penn Badgley), a primeira parte da sua nova temporada não tem medo de ousar e converte o seu formato inicial para uma verdadeira investigação criminal. Mas, afinal, será que essa reinvenção foi compatível com o percurso trilhado pela série até então?
Após o seu embate final com sua ex companheira Love Quinn (Victoria Pedretti) na terceira temporada, Joe é novamente acometido por sua clássica dose de sorte e recebe uma nova identidade – Jonathan Moore, residente de Londres e professor de literatura. Seu objetivo principal é encontrar Marianne (Tati Gabrielle) e ter o seu sonhado recomeço. O que Joe não esperava era acabar envolvido numa rede de assassinatos acerca de um grupo da elite londrina e ainda receber constantemente mensagens ameaçadoras, protegidas por um aplicativo de anonimato. Agora, o protagonista terá que redirecionar o seu instinto obsessivo para outro lugar e descobrir quem está por trás disso tudo.
É assim que a quarta temporada de Você se transforma em um verdadeiro murder mystery, com referências claras aos contos de Agatha Christie. Inclusive, o próprio Joe abraça o seu espírito Hercule Poirot e sai por aí com o seu ilustre boné, invadindo locações e coletando pistas. Por mais que alguns desses atos atos sejam característicos do personagem, algo sobre ele parece extremamente fora do lugar – a facilidade com que Joe consegue domar seus pensamentos predatórios soa quase incoerente, de forma com que o espectador até se esqueça do seu (enorme) currículo de vítimas.
Divulgação: Netflix
Infelizmente, o desenrolar do roteiro da série não surpreende positivamente. Uma das causas principais para que isso aconteça é a amálgama de personagens detestáveis que estão inseridos nesse novo ciclo de amizades de Joe – não apenas porque são herdeiros multimilionários sem consciência de classe, mas também porque são caricatos ao extremo e não possuem carisma algum. Até mesmo a vizinha de Goldberg, Kate Galvin (Charlotte Ritchie), que possui o maior arco dentre o grupo, não consegue cativar a audiência e nem promover apego do público para com a personagem. Resta para o próprio Penn Badgley a total responsabilidade de atribuir o tom carismático que a primeira parte da quarta temporada tanto necessita.
De certa forma, um ponto interessante, abordado em temporadas anteriores, é o desprezo de Joe por qualquer pessoa que possua características semelhantes com ele mesmo. Como os pensamentos do personagem são frequentemente expostos em um modelo de narração, conseguimos perceber a facilidade com que Joe consegue se convencer da boa intencionalidade dos seus atos, por mais brutais e violentos que eles sejam. Tanto com Love, quanto com o suposto perseguidor anônimo de Londres, o protagonista entra em um verdadeiro curto circuito mental ao ser colocado em posição de igualdade com aqueles que também possuem um despertar assassino.
No mais, o mistério central ‘who did it?’ possui algumas amarras interessantes, porém sua conclusão é extremamente blasé. Embora a revelação do assassino seja surpreendente, infelizmente também é em partes irrelevante, já que o suspense construído não seduz o espectador o suficiente para impactar com seu episódio final – mas que ao menos consegue fornecer boas sequências de ação. Talvez se os motivos primordiais que estruturam o mistério fossem melhor explorados, essa mudança de gênero pudesse colher um desfecho mais impactante. Esperamos que na segunda parte da quarta temporada, disponibilizada no dia 9 de março pela Netflix, haja um alinhamento geral de todos os aspectos desconexos da parte um. Obviamente, estaremos no aguardo para testemunhar como será o confronto final de Joe e seu novo inimigo.
Nota: 2,5/5
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