Crítica | A História do Som (Mostra de SP 2025)
- Vinicius Oliveira

- há 4 dias
- 3 min de leitura
Um romance oco

Foto: Reprodução
Os caminhos de dois homens se cruzam em um bar, quando um escuta o outro tocar uma música que cantava com os pais na infância. A conexão é imediata, e todo o bar fica em silêncio para ouvi-los tocar uma outra música. Tal conexão se sustenta em olhares, pequenos gestos, silêncios, ao longo de anos, conforme eles se encontram e desencontram... ou pelo menos é nisso que deveríamos acreditar.
Desde o início, o diretor Oliver Hermanus busca criar um drama de imagens e planos bonitos e contemplativos, trazendo seus personagens em diversos ambientes (sobretudo os rurais e naturais) para tratar das suas diferenças – Lionel (Paul Mescal) mais quieto e introvertido, David (Josh O’Connor) mais expansivo e carismático. Hermanus os mergulha na imensidão do mundo para conduzi-los em uma jornada íntima, seja no campo do relacionamento deles quanto da atividade profissional que desenvolvem, coletando canções folk de populações nos EUA profundo.
Os melhores momentos do filme vêm justamente desse processo de coleta, da magia que emana a partir da relação que os protagonistas possuem com a música, bem como as figuras com quem interagem. Este bloco é onde Hermanus mais consegue conferir alguma alma à obra, pois só quem é aficionado por música sabe das conexões poderosas que ela pode despertar em nós, bem como as memórias às quais acessamos através de um simples acorde.

Foto: Reprodução
Mas isso é apenas a parte de um todo que infelizmente se revela bastante vazio. Na sua busca por criar um drama plasticamente bonito, Hermanus faz de A História do Som um filme oco, sem vida ou alguma pulsão. O problema não está na sensibilidade almejada, mas o filme se revela tão plácido que com o passar da sua duração essa placidez se transforma em chatice e nos traz nada mais que desinteresse.
Não ajuda muito que o romance do par principal pouco convence. Elogiar as atuações de Mescal e O’Connor é chover no molhado, e os dois têm um ótimo histórico de produções queer em suas carreiras (Todos Nós Desconhecidos e Reino de Deus), mas mesmo com suas competências Hermanus não consegue dar liga suficiente ao romance, desprovido de algum tipo de calor, afeto e química genuínos. A estrutura de percorrer vários anos dos personagens também não chega a ser um problema em si – vinte anos atrás Ang Lee fez isso com maestria em O Segredo de Brokeback Mountain – mas a maneira como o filme escolhe aprofundar ou ocultar os personagens é. Sem maiores spoilers, essa história é muito mais sobre Lionel do que sobre David, e mesmo que flashbacks na segunda metade da obra mostrem mais do que ambos viveram, não é o suficiente para preencher a lacuna que fica.
Na teoria, A História do Som poderia ser um dos grandes romances LGBTQIAPN+ da nossa geração, mas o saldo final é tão frio e desalmado que é difícil sentir algo pelo (suposto) amor que esses personagens viveram. Revela-se um todo desconjuntado, onde a conexão dos protagonistas e a relação de ambos com a música não conversam entre si o suficiente para que o que vejamos em tela soe genuíno. Há beleza? Há, mas ela chama demais a atenção para si mesma e é incapaz de esconder o vazio onde deveria haver um coração para um filme que se diz tão sensível.
Nota: 2.5/5





