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Crítica | Task: Unidade Especial (Minissérie)

  • Foto do escritor: Filipe Chaves
    Filipe Chaves
  • há 5 dias
  • 4 min de leitura

Mark Ruffalo e Tom Pelphrey brilham em drama policial surpreendentemente comovente

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Foto: Reprodução/HBO


Sendo fã de Mare of Easttown, eu já estava naturalmente ansioso para Task por ser do mesmo criador, Brad Ingelsby, e fico feliz em afirmar que as expectativas não só foram correspondidas, como superadas. Mesmo tendo os subúrbios da classe trabalhadora da Filadélfia como cenário, desta vez, a trama é focada em dois homens: Robbie (Tom Pelphrey), um pai de família que trabalha como gari diariamente e a noite rouba casas de drogas, e Tom Brandis (Mark Ruffalo), um agente do FBI designado para montar uma força-tarefa para acabar com os assaltos. É só o pontapé inicial para uma narrativa complexa e que vai muito além de um jogo de polícia e ladrão, o que faz parecer até que há muitos enredos e personagens, mas nada e nem ninguém está ali por acaso.


O ritmo começa mais lento, construindo a história, colocando as peças no tabuleiro e dando base para aprofundar aquelas pessoas que acompanhamos por sete episódios. Além dos dois protagonistas, temos suas famílias e alguns amigos, temos os agentes do FBI, temos uma gangue de motoqueiros e por aí vai. Todos absolutamente muito bem escalados, alguns com mais destaque e outros menos, mas talento não falta e cada um se encaixa como uma luva, mérito do diretor de elenco. Tom é um viúvo, pai de três filhos e um deles está preso. À princípio, Robbie, que mora com seus dois filhos e sua sobrinha Maeve (Emilia Jones), desperta mais o interesse pela vida dupla que leva, mas é nas camadas reveladas que ambos os protagonistas se mostram muito mais do que aparentam, mesmo estando em lados opostos da lei, há muitas semelhanças em meio a tantas diferenças.


Os atores estão completamente entregues e não é sempre que vemos esta retratação de uma vulnerabilidade masculina, o que atinge o ápice no 5º episódio, quando os dois se encontram e têm uma conversa à lá Fogo Contra Fogo, os diálogos de escritos por Brad Ingelsby e Dave Obzud desnudam os personagens através de metáforas e é impossível não se emocionar. Tudo isso garante o impacto porque houve uma construção substancial que faz com que o telespectador seja atingido com mais força. Ambos têm uma carga dramática altíssima e Ruffalo, sempre com um tom mais baixo na voz, expressões constrói seu Tom de uma forma perspicaz, é quase como uma timidez disfarçada e devo dizer que é um dos meus trabalhos favoritos em uma carreira extensa do indicado ao Oscar. Pelphrey já tinha sido excelente em Ozark e precisava de um papel com mais holofotes para brilhar. É o que acontece aqui e espero que os dois não concorram juntos em alguma categoria do Emmy, porque esta premiação precisa ser conjunta.

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Foto: Reprodução/HBO


Mas não são os únicos personagens que comovem. É difícil não torcer pela Maeve de Emilia Jones, tão jovem, tão sofredora e não menos destemida. Eu já tinha gostado muito da atriz em Coda (No Ritmo do Coração) e aqui ela faz algo totalmente diferente, com seu talento sendo explorado em uma moça cheia de nuances, com um grau maior de dificuldade e ela tira de letra. No núcleo dos agentes do FBI temos a fantástica Thuso Mbedu, que já mostrou do que é capaz na espetacular The Underground Railroad e faz da sua Aleah uma mulher firme e que sabe o que ela representa e que sabe como lidar com situações difíceis. É o tipo de atuação que conversa muito bem com a direção e se sobressai nas sutilezas. Alison Oliver é Lizzie, uma agente que já sofreu alguns traumas e carrega certas inseguranças por conta disso, mas não deixa de ser menos carismática. O agente Anthony Grasso é feito por Fabien Frankel, o querido – só que não – Criston Cole de House of the Dragon, e eu fiquei feliz de vê-lo em um papel diferente. Não acho que ele seja um poço de talento, mas faz bem o que lhe foi pedido aqui, principalmente na química que divide com Lizzie. Martha Plimpton é a chefe de Tom no FBI e é sempre um prazer ver essa mulher trabalhar, principalmente quando ela sabe colocar tão bem seu senso de humor.


Do outro lado, Raúl Castillo é o parceiro de trabalho e crimes de Robbie e o ator está ótimo na pele deste homem que faz o que for preciso, mesmo que não seja o que ele quer fazer. Perry (Jamie McShane) e Jayson (Sam Keeley) são membros da gangue de motoqueiros Dark Hearts, da qual o irmão de Robbie fez parte até ser assassinado por Jayson. Enquanto McShane confere calmaria e perversidade a seu Perry, Keeley é mais explosivo e impulsivo com seu Jayson. Em uma produção mais maniqueísta, eu diria que eles seriam os vilões, mas a área cinza prevalece para os personagens.


Este apanhadão de tantos nomes é justamente para mostrar como cada um tem sua importância na história que foi tão bem escrita por Ingelsby e como tudo culmina nos três últimos episódios. Mesmo evitando spoilers, já mencionei o 5º e tenho que falar do espetacular 6º e penúltimo. O estopim acontece nos intensos quase 20 minutos iniciais que não deixa ninguém respirar e o que resta depois são as devastadoras consequências de tantas reviravoltas, que foram espetacularmente dirigidas por Salli Richardson Whitfield. Por último, temos o belíssimo final, que amarra as pontas soltas de uma forma carregada de tensão e uma válida mensagem sobre perdão, mostrando que toda esta teia de intrigas, no fim, é sobre isso. Assim como Mare of Easttown também pode não ser inovadora e revolucionária, o modo como a história é contada, faz toda diferença e Brad Ingelsby é mestre em transformar estas premissas criminais em algo muito mais profundo com foco no ser humano. Ele já expressou seu desejo em fazer uma 2ª temporada, não sei se a HBO aprova ou se será uma antologia, mas o que eu sei é que este ciclo já foi muito bem encerrado.


Nota: 4,5/5


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