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Crítica | A Sombra do Meu Pai (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 18 de out.
  • 2 min de leitura

Drama nigeriano entrelaça o drama de um pai e seus filhos com a convulsão política do país

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Foto: Reprodução


Em 1993, a Nigéria teve suas primeiras eleições em dez anos, dando fim ao regime militar em voga. Contudo, a vitória do candidato M.K.O. Abiola foi posta em xeque pelas forças militares, levando a um novo golpe de estado no país. É nesse contexto que se desenrola – e com o qual se entrelaça – a história de A Sombra do Meu Pai, de Akinola Davies Jr., longa exibido na Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes deste ano e agora também na Mostra de São Paulo.


A trama do longa acompanha os irmãos Akinola “Aki” (Godwin Egbo) e Olaremi “Remi” (Chibuike Marvelous Egbo) em uma jornada por Lagos com seu pai Folarin (Sope Dirisu), ao qual raramente veem. Desde a primeira aparição de Folarin em cena, Davies Jr. constrói uma atmosfera de estranheza, palpável não só nas expressões dos meninos, como também no som diegético e na textura da imagem (com sua fotografia granulada que confere um aspecto quase onírico ao longa). Há algo de errado na presença deste pai distante, em seu retorno súbito, e mesmo que a revelação final em torno disso não chegue a ser uma surpresa, é o caminho que importa.


O fato de um dos meninos carregar o nome do diretor pode aludir à ideia de esta ser (em partes) uma autobiografia – justificando a maneira como cada plano, cada cena, é enquadrado como se estivéssemos vendo às memórias destes irmãos, o que ajuda a borrar os limites entre real e fantasioso. Neste sentido, lembra um pouco Aftersun, nesta busca para se entender a figura de Folarin, a qual é construída gradativamente, embora não sem suas lacunas. O que ele realmente fazia? Seu amor pela mãe dos seus filhos é tão verdadeiro quanto aponta? O que justificava suas ausências? É a construção gradativa de um quebra-cabeça que nunca se completa; afinal de contas, nossas memórias não são exatamente o recurso mais confiável que existe.

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Foto: Reprodução


O que pode distinguir o longa de outras produções que fazem esse exercício de memória é justamente o enquadramento histórico, mas nunca há uma verdadeira satisfação na maneira como este macro das tensões políticas da Nigéria da época se amarra à perspectiva mais íntima das tensões entre Folarin e os filhos. Em certa medida, o que se vê é a perda da inocência dos meninos (em especial Remi) frente às falhas do país e a perda da inocência de um povo frente às falhas das suas instituições, mas isso é mais sugerido que explicitado – mesmo que o filme não seja exatamente sutil sobre essas correlações, principalmente no campo estético.


Em certa medida, A Sombra do Meu Pai se encaixa numa linha de filmes que chamam a nossa atenção para determinados contextos históricos de um país a partir de dramas pessoais e familiares, como pudemos ver em nosso próprio cinema com Ainda Estou Aqui ano passado. Não é um caminho inovador, de modo que o longa resvala nessa obviedade em alguns momentos, mas ele acaba encontrando força justamente na cumplicidade de Dirisu e dos meninos Egbo para construir relações tão complexas, singelas e nuançadas.


Nota: 3/5


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