Crítica | Galinha (Mostra de SP 2025)
- Vinicius Oliveira

- há 4 dias
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O filme mais aleatório do festival – e um dos mais divertidos

Foto: Reprodução
Montar uma programação em um festival é sempre um tiro no escuro. Claro, há os filmes mais badalados e aguardados, mas também há aquelas produções mais nebulosas, obras de outros países que certamente jamais assistiríamos em um circuito comercial de cinema. Às vezes nos deparamos com filmes muito, mas muito ruins. E às vezes encontramos algumas surpresas bem positivas, como é o caso de Galinha.
A premissa do longa é tão simples quanto absurda: uma galinha escapa de uma fazenda industrial e segue em uma jornada que a leva até a fazenda de um homem idoso (Ioannis Kokiasmenos) cujo genro está envolvido com tráfico humano. À medida que ela é forçada a procriar e dar ovos (os quais são tirados de si todos os dias), o desejo de escapar e cuidar de suas futuras crias cresce dentro de si.
Talvez o aspecto mais impressionante de Galinha é o quanto seu diretor György Pálfi consegue extrair uma... atuação... tão sólida da sua protagonista (vivida por oito galinhas diferentes). Este não é o clássico filme aventuresco da Sessão da Tarde onde ouvimos a voz e os pensamentos da galinha: tudo que temos são seus cacarejos, seus olhares intensos e uma boa dose de fisicalidade, com uma câmera que muitas vezes assume uma posição subjetiva, não precisando de muito para que nos identifiquemos e tenhamos empatia pela nossa brava protagonista.

Foto: Reprodução
Embora o filme se ancore muito mais na comédia (com tons de absurdos), aos poucos vai imprimindo momentos dramáticos, onde não raramente tememos pela vida da galinha. É bem verdade que muito desse drama tenta ser enxertado através do núcleo humano, mas mesmo com todo o pano de fundo das ações criminosas dos personagens e da questão do tráfico humano, esse lado do filme nunca é mais interessante do que ver o cotidiano e as ações imprevisíveis (ou bem pensadas) da galinha, de modo que há uma perda de ritmo e qualidade cada vez que o longa se detém sobre os personagens humanos.
Mas, apesar dessas escorregadas, Galinha é fiel ao seu título e dá o devido protagonismo à querida ave, nos fazendo acompanhá-la em sua jornada tão épica quanto cotidiana e torcer pelo seu sucesso e felicidade. Maternidade, desigualdades de gênero, amor ou o simples desejo de liberdade – quem diria que a vida de uma galinha poderia ter sido interessante? Às vezes tomar certos riscos em um festival vale a pena, no fim das contas.
Nota: 3.5/5





