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Crítica | Jovens Mães (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 1 dia
  • 2 min de leitura

Para muito além do drama social vazio

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Foto: Reprodução


Todos os anos os festivais europeus de cinema são inundados por filmes calcados no drama e realismo social, em especial aquele dirigido a grupos minoritários e vulneráveis, com imagens calculadas para emocionar, sensibilizar ou até chocar ante a miséria e degradação. São filmes cuja artificialidade no tratamento dado a estes personagens e grupos não escondem as origens daqueles que os realizam.


Jovens Mães, premiado com o prêmio de Melhor Roteiro e exibido na Mostra de SP, poderia facilmente se enquadrar nesse modelo de filme. O longa dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne centra-se no cotidiano de quatro mães adolescentes, alocadas em um centro voltado para meninas como elas. Jessica (Babette Verbeek) processa sua gravidez enquanto tenta ir atrás da mãe que a abandonou; Perla (Lucie Laruelle) lida com um parceiro ausente e a vontade de constituir uma família com ele e seu filho; Ariane (Janaïna Halloy Fokan) enfrenta a mãe problemática quanto ao seu desejo de dar a filha a uma família de acolhimento; e Julie (Elsa Houben), mesmo sendo a única a contar com um companheiro ao seu lado e se portando como a mais “estável”, luta contra o vício em drogas e as recaídas. 


O que realmente eleva o filme para além desse modelo básico abundante nos festivais é o tratamento muito humano e empático dedicado pelos Dardenne às protagonistas. Em uma estrutura simples, mas eficaz, o texto divide-se em blocos conforme alterna entre as narrativas de cada uma das personagens, o que ajuda a ilustrar as semelhanças que as aproximam (os traumas geracionais maternos, a ausência e os abusos masculinos), mas também as particularidades que as distinguem. 

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Foto: Reprodução São nessas particularidades que a câmera dos Dardenne – sempre atrelada a uma estética mais “crua” e documental, com uso extenso da câmera de mão e planos-sequência – constroem as personagens como meros arquétipos que simbolizam diferentes facetas da maternidade na adolescência, mas sobretudo como figuras complexas e profundamente humanas. A câmera não os julga por suas ações contraditórias, por suas falhas, nem as isenta diante dos contextos em que viveram e foram criadas, mas as trazem em sua completude, evitando também a pieguice e a manipulação dos sentimentos. Entende-se que nossos sentimentos e reações advêm dessa realidade nua e crua exibida em tela; no entanto, tal realidade não se dá pelo choque. Essas meninas são o que são, mesmo que nem todas as abordagens sobre elas funcionem (o arco de Jessica com a mãe e seus rompantes infantis cansa rápido, ainda que chegue a um final satisfatório assim como os das demais).


Ao fim, o que fica de Jovens Mães é a sensibilidade e respeito com a qual os Dardenne apresentam suas personagens em tela, acolhendo-as assim como elas merecem ser acolhidas numa sociedade que continua a condenar e punir mães adolescentes como se elas tivessem feito os filhos sozinhas. Se há alguma lição, é que este cinema de “drama social europeu” tem muito a aprender ainda sobre esse tratamento sensível e humano aqui encontrado.


Nota: 4/5


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