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Crítica | Os Enforcados

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • 7 de ago.
  • 2 min de leitura

Tragédia shakesperiana à brasileira é recheada de trambique e sarcasmo.


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Divulgação


Em Os Enforcados, Regina (Leandra Leal) e Valerio (Irandhir Santos) estão felizes no relacionamento e levam uma vida descontraída na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Mas desde a morte do pai de Valerio, o maior mafioso da cidade, eles procuram uma saída do ninho de vespas criminosas que é o negócio desta família. Mas ao mesmo tempo, o casal também têm despesas e dívidas ​​para quitar e o tio de Valerio, Linduarte (Stepan Nercessian) insiste que o sobrinho assuma o negócio. Numa noite acidental, os dois encontram uma solução para o problema: matar o tio e vender o negócio. Mas ao fazer isso, mergulham ainda mais na violência da qual queriam escapar.


É inevitável a lembrança imediata dos textos de Shakespeare logo na primeira meia hora de Os Enforcados: a trama de busca pelo poder presente em MacBeth e a trama de intrigas familiar (e de novo a busca pelo poder) presente em Hamlet embasam, de maneira direta ou não, as motivações centrais do longa brasileiro. A direção precisa de Fernando Coimbra sabe exatamente que tipo de filme está desenhando, um misto de suspense com policial sempre carregado de sarcasmo bem empregado. E sem querer puxar para uma literatura que talvez não tenha tido qualquer intenção de referenciar, mas esse humor atravessado em meio aos dramas de estrutura social deixa ainda mais o roteiro ainda mais shakespeariano.


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Então dadas essas disposições narrativas, é fácil saber que existe ali conteúdo a ser trabalhado, e não apenas palavras vazias. Mas ainda assim o enredo sabe vestir roupas brasileiras muito bem e dar suas cores para essas questões universais. Ao se inserir no contexto de contraversões do submundo carioca, a história ganha uma cara própria, cheia de identidade, que bebe de referências do clássicos filmes de crime dos anos 70 com uma violência quase que orgânica e inerente, mas que imprime sua verdade sem abusar de estereótipos nem tentar fazer humor preguiçoso e barato com seus personagens.


Leandra Leal e Irandhir Santos estão irretocáveis com papéis bem construídos em cima de várias camadas e sensíveis à todas elas. O texto, às vezes expositivo demais, faz quase um estudo antropológico da pilantragem dos personagens, usando os coadjuvantes como reflexo, apoio, causas e vítimas de um anseio que nunca pode ser suprido, de uma obra que não acaba nunca. E neste cenário, literalmente falando, a casa dos protagonistas sempre prestes a cair, literal e metaforicamente falando, reflete a ruína dos que sempre estão com a corda no pescoço.


É um desbunde, uma Comédia de Erros que se molda a um ritmo nosso para expor, para rir, para analisar, para repensar o “trambique, patrimônio nacional” (São Clemente, 2020).


Nota: 4/5


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