Crítica | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
- Gabriella Ferreira
- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de ago.
A fórmula de sempre, agora com filtro bonito no Instagram.

Lançado na última semana, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos marca o retorno da primeira equipe de super-heróis criada pela Marvel ao estúdio que a concebeu. A produção chega com a difícil missão de reintroduzir os personagens para uma nova geração sem cair na repetição para os fãs acostumados com a formação dos anos 2000. Depois da tentativa fracassada de 2015, o novo longa entra como peça-chave na reconstrução do universo Marvel, que busca reviver o prestígio da era Vingadores.
Diferente das versões anteriores, o filme não perde tempo com uma narrativa de origem. Os personagens já são conhecidos e atuam como heróis em uma Terra estilizada, com uma Nova York retrofuturista que remete ao charme dos anos 1960. Carros voadores, arquitetura arrojada e cores vibrantes criam um cenário novo e bem-vindo no universo cada vez mais saturado da Marvel. Esse visual, aliado ao escopo cósmico grandioso, é um dos responsáveis por devolver uma sensação de deslumbramento que os últimos filmes do estúdio deixaram para trás.
A trama gira em torno da ameaça de Galactus à Terra-828 e do dilema pessoal de Sue Storm, que está grávida. A presença da Surfista Prateada como mensageira do vilão cósmico eleva o tom do conflito. O elenco é outro trunfo. Pedro Pascal, mesmo enfrentando uma clara fadiga pela exposição em diversos projetos nos últimos anos, entrega um Reed Richards sólido o suficiente para sustentar o grupo e permitir que os demais se destaquem. Joseph Quinn, como Tocha Humana, e Ebon Moss-Bachrach, como o Coisa, emprestam muito carisma aos personagens e criam uma dinâmica envolvente entre os quatro protagonistas. Mas é Vanessa Kirby quem domina as duas cenas mais marcantes do filme, uma sequência de ação intensa e um momento emocional comovente, provando que sua Mulher Invisível é o coração da narrativa.

Apesar da escala cósmica da história, o que realmente sustenta Primeiros Passos é o núcleo familiar. A força do filme está nas relações entre os personagens, que soam genuínas e têm química de sobra. É essa dinâmica que torna o filme agradável de assistir e o diferencia positivamente dentro da fase recente do estúdio que são sofríveis de assistir. O roteiro escorrega em alguns clichês e usa a fórmula de sempre que estamos acostumados, mas a naturalidade com que o quarteto interage em cena compensa boa parte das falhas.
Outro dos principais méritos do filme é que ele funciona por si só. Não é necessário ter assistido a uma dezena de outras produções da Marvel para entender o que está acontecendo. Primeiros Passos se sustenta com autonomia, sem muletas narrativas, sem depender de conexões forçadas com o multiverso e, o melhor de tudo, sem fanservice pulando na tela a cada cinco minutos. Em um universo que virou sinônimo de interdependência sufocante, esse respiro é quase revolucionário.
Se as atuações são fidedignas e em sintonia com o tom do filme, o mesmo não pode ser dito dos efeitos visuais, que têm momentos de impacto, mas também deslizes. O CGI oscila bastante e se o efeito borracha do Senhor Fantástico, a fluidez visual da Surfista Prateada em movimento e a escala imponente de Galactus fazem bonito nas telonas, o bebê Franklin se inspira em Renesmee e fica visualmente feio em alguns momentos de interação com alguns personagens.
No fim, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não reinventa a roda e nem devolve à Marvel todo o seu brilho perdido, mas acerta ao recuperar parte do encantamento e do senso de aventura que pareciam esquecidos. O que realmente preocupa é o futuro desse promissor Quarteto, já que o estúdio parece não saber fazer histórias independentes e têm a necessidade de sugar tudo para dentro de seu esquema megalomaníaco, onde nenhum filme respira sozinho e tudo precisa estar conectado a algo maior, ainda que sem propósito claro. Primeiros Passos funciona justamente por evitar essa armadilha. Infelizmente, a boa trama que poderia se desenvolver será engolida pela engrenagem do estúdio em suas próximas aparições, e é provável que nem o carisma desse elenco salve a próxima missão.
Nota: 3.5/5