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Entrevista | Oswaldo Santana fala sobre o documentário “Ritas” e a importância da figura de Rita Lee no cenário popular

  • Foto do escritor: Gabriella Ferreira
    Gabriella Ferreira
  • há 3 dias
  • 7 min de leitura

Atualizado: há 20 horas

Longa que atravessa a história da cantora e nos apresenta a intimidade da artista chega aos cinemas dia 22 de maio 

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

Um ícone que atravessa gerações. É assim que podemos definir Rita Lee Jones de Carvalho, mais conhecida como Rita Lee. Um fenômeno do rock brasileiro que surge pela primeira vez no cenário musical em 1966 e marca a história da cena musical do país até os dias atuais. Rita Lee nos deixou em 2023 e agora, dois anos depois, celebramos sua persona, sua história e seu legado com Ritas, documentário dirigido por Oswaldo Santana que chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 22 de maio.


Ritas celebra a arte de Rita Lee e, por meio exclusivamente de suas próprias palavras, revela a mulher livre que desbravou caminhos antes inimagináveis. Em uma colagem audiovisual deliciosa e nostálgica, o documentário apresenta suas músicas quase na íntegra, proporcionando ao espectador uma imersão profunda no universo musical e poético de Rita. 


Em uma conversa com o Oxente Pipoca, o diretor Oswaldo Santana falou sobre a importância de contar a história de Rita para as novas gerações e sobre o processo de produção do filme, que é levemente inspirado na autobiografia escrita por ela. Confira a entrevista na íntegra abaixo:


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Foi um prazer enorme assistir ao filme — e preciso te contar: eu chorei do começo ao fim. Comentei até com Rafa, que faz parte aqui do Oxente, sobre o quanto a Rita Lee sempre teve um papel importante na minha vida, especialmente na adolescência, mas também desde a infância. Ela sempre foi uma figura quase mítica pra mim. Queria saber: como esse projeto chegou até você? E como a Rita já fazia parte da sua vida antes de tudo isso começar?

Oswaldo Santana: Desculpa abrir um parênteses aqui rapidinho…quantos anos você tem mesmo?

27? Eu tenho 54. E acho que essa relação que você tem com a Rita Lee é muito parecida com a que minha geração teve com ela, e até a geração anterior, a dela mesma. A importância de alguém como a Rita, que atravessa tantas gerações, já é, por si só, algo que atrai. Dá vontade de estar perto, sabe?


Bom, o projeto começou lá em 2018, quando a Biônica Films comprou os direitos da autobiografia da Rita. A partir daí, começamos o processo de desenvolvimento. A primeira etapa foi uma entrevista com ela. Depois veio uma primeira fase de pesquisa. E, na sequência, começaram a chegar materiais de arquivo diretamente da Rita, o que foi muito valioso pra gente.


Esse material foi tão rico que acabou nos dando a ideia de entregar um celular pra ela, pra que pudesse se gravar também, de forma mais íntima. Aí veio uma segunda fase de pesquisa, mais voltada para acervos fotográficos. Em paralelo a tudo isso, entrou o trabalho de direção de arte do Ricardo Fernandes e a animação dessas fotos, feita pelo Gabriel Vitar.


Essas etapas foram se somando ao longo dos anos, desde 2018, até que a gente chegou no formato final.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Uma coisa muito marcante do filme e que também me chama atenção  é o fato de ser ela mesma quem conduz a própria história. Normalmente, em documentários, são outras pessoas que contam, né? 


Oswaldo Santana: Desde o começo a gente acreditava muito na força da narrativa e da comunicação da Rita. Ela tem uma maneira única de se expressar, é sincera, tem humor, mesmo falando de coisas sérias. Isso é muito próprio dela.


E como o projeto nasceu da autobiografia, que é justamente ela contando a própria história, sempre tivemos certeza de que quanto mais Rita a gente ouvisse, mais rico o documentário seria. Foi justamente por isso que o filme chegou nesse resultado. 


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Então, eu queria saber como foi pra vocês trabalhar esse equilíbrio entre mostrar a Rita como essa figura tão icônica, com todos os feitos dela, e ao mesmo tempo mostrar o lado mais íntimo, mais humano, né?

Porque, assistindo, eu tive a sensação de que em vários momentos eu estava ali, dentro da sala, conversando com ela. Teve até uma parte muito específica, da conversa dela com a neta, que me arrancou uma risada, mas, ao mesmo tempo, me deu vontade de chorar. Foi tão sincero, tão verdadeiro… Fiquei curiosa pra saber como vocês construíram isso no filme.


Oswaldo Santana: Ah, foi muito generoso da parte deles, né? E eu falo “deles” porque considero a família mesmo. Eu até brinco dizendo isso, a família foi muito generosa. Generosa por compartilhar com a gente, por confiar na gente pra lidar com um material tão íntimo.


Alguns desses registros são muito pessoais, outros são do cotidiano, mas todos têm um significado enorme. Não só para os fãs, mas também para ilustrar toda a riqueza, a força e a pluralidade da Rita.


Tem um momento que é muito simbólico: ela gravando o próprio altar. E aí você se depara com quem são as pessoas escolhidas por ela pra estarem ali, naquele espaço tão sagrado. Ela explicando isso… nossa, é fantástico.


Oswaldo Santana e Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca)
Oswaldo Santana e Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca)

Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): E você comentou que o projeto começou em 2018… Como foi lidar com a morte da Rita durante esse processo? Imagino que tenha sido algo muito difícil, né?


Oswaldo Santana: É um processo difícil, né? Mas, enfim… a gente já tava com o filme em andamento. Teve esse período, né, que foi durante a pandemia, quando eles descobriram [a doença]. Foi um momento mais recluso, já estávamos numa outra etapa de trocas e diálogos com eles.


E aí chegou o anúncio, né? Que foi um baque pra todo mundo. Um universo de incertezas… e, ao mesmo tempo, de trazer outras certezas também. Mas foi… foi muito… o dia da morte dela — agora falando de uma forma mais pessoal — foi muito difícil e, ao mesmo tempo, mágico.


Porque eu recebi a notícia da passagem dela quando eu estava no mesmo prédio onde o Caetano (o Gil também, mas mais o Caetano) morou na década de 70. Eu estava, na verdade, no apartamento ao lado. Então, era um lugar por onde, querendo ou não, a Rita também tinha passado.


E aí eu pensei: “Nossa, eu tô aqui, nesse lugar…” Foi algo muito forte pra mim.


Mas, ao mesmo tempo, me trouxe ainda mais certeza da grandeza dela, da importância, da necessidade de tratar essa história com a seriedade que ela merece. A Rita tem uma força incrível… e isso ficou ainda mais evidente nesse momento.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Acho que isso puxa pra próxima pergunta que eu queria fazer: como vocês pensaram esse filme também para a nova geração? Por exemplo, meu irmão tem 13 anos. Ele sabe quem é a Rita Lee, mas ao mesmo tempo não sabe de fato quem ela é. Ele já pegou uma fase em que ela estava se despedindo, já fora dos palcos.


E aí entra uma curiosidade pessoal: eu sou de Sergipe, que foi um dos lugares onde ela fez um dos últimos shows, e tem uma cena desse show no filme. Eu estava lá, acompanhei tudo. Então, quando essa parte passou, eu fiquei: “Meu Deus…” Foi muito forte pra mim. Então, eu queria que você falasse um pouco sobre como você gostaria que esse filme alcançasse a nova geração, como você pensou essa apresentação da Rita pra quem ainda não a conhece tão profundamente.


Oswaldo Santana: É… eu acho que mais do que um desejo meu de atingir essa nova geração, era algo inegável, sabe? A gente sabia que isso ia acontecer. A gente convive com isso. Eu mesmo tenho dois filhos, e vejo como a Rita já faz parte do universo deles, mesmo sem que eu tenha apresentado diretamente.


Ela chega por osmose mesmo. Muita gente conhece a Rita assim. No seu caso, por exemplo, você teve pais que já vinham desse universo e foram apresentando, né? Mas, mesmo quem não teve, acaba conhecendo pela rádio, pela TV, pela cultura que ela ajudou a moldar.


A Rita atravessa muitas gerações sendo influente, então essa conversa intergeracional já era esperada desde o início do projeto. E é muito bonito ver isso acontecendo, filhos dizendo: “Nossa, agora eu entendo um pouco mais quando você fala disso”, e pais dizendo: “Tá vendo, filha? Era disso que eu tava falando quando mencionei aquilo.”


Todo mundo se alimenta dessa troca. É uma delícia. E eu imagino que isso vai acontecer muito, pais indo com filhos assistir ao filme, e essa troca sendo real. Às vezes é o pai ensinando algo ao filho, outras vezes o contrário. É isso. A Rita tem esse poder de tocar e conversar com todo mundo.


Dia 22, exclusivamente nos cinemas. Ritas estreia exclusivamente nas telonas, começando essa jornada.


E o mais bonito é que esse dia, 22 de maio, é o Dia de Rita Lee em São Paulo, né? Isso é uma coisa que tá no filme, essa data foi escolhida pela própria Rita como o "aniversário" dela. Porque, na verdade, ela nasceu em 31 de dezembro, mas ela preferiu adotar o dia 22 de maio como seu aniversário simbólico.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Eu achei isso tão legal, entender esse contexto da data… É incrível.


Oswaldo Santana: Exatamente! Ela escolheu o dia 22 porque é o Dia de Santa Rita. E, depois do falecimento dela, São Paulo decretou oficialmente o Dia de Rita Lee nessa data.


Então é uma data muito especial e toda essa força casou perfeitamente com a possibilidade de lançarmos o filme justamente nesse dia que ela escolheu pra si. É muito mágico. E está sendo muito prazeroso poder viver isso.


É uma grande celebração. E eu acho que isso é só o começo… Ainda temos muitas celebrações a fazer por Rita Lee.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Pra finalizar, eu queria que você deixasse uma dica. Pode ser um filme, uma série, um documentário, algo brasileiro que tenha te inspirado ou que você gostaria de recomendar para os nossos seguidores. Essa é uma pergunta que a gente faz pra todo mundo que a gente entrevista aqui no Oxente.


Oswaldo Santana:  Uma dica de filme… eu vou dar uma dica de um filme do qual eu também participei, tá? É um filme que, de certa forma, dialoga com uma das fases da Rita Lee.

É um filme chamado Tropicália. Eu montei esse filme e ele é dirigido pelo Marcelo Machado, tá? E trata do movimento tropicalista.

Chama Tropicália, do Marcelo Machado. E tem um pouco de Rita lá também.



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