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Foto do escritorFilipe Chaves

Crítica | A Diplomata (1ª temporada)

Uma carta de amor a Keri Russell

Foto: Divulgação


Fico feliz em afirmar que temos mais uma série boa da Netflix. Primeiro O Agente Noturno, que não inova muito, mas entretém bastante. Depois Treta, que elevou ainda mais o nível e é uma das melhores do ano até então. Agora temos A Diplomata, que é um meio-termo entre essas duas. Na produção que estreou quinta-feira, dia 20, Keri Russell é Kate Wyler, uma diplomata americana que assume o cargo de embaixadora dos Estados Unidos no Reino Unido depois que um navio britânico sofre um ataque, colocando suas habilidades e seu casamento à prova.


Criada por Debora Cahn, que foi uma das roteiristas de The West Wing, já percebemos algumas semelhanças de início com a criação de Aaron Sorkin, como pessoas andando rapidamente por corredores tratando de assuntos importantes enquanto despejam toneladas de informação no telespectador. Pode parecer que não, mas é proposital e não há com o que se preocupar, já que em algum momento outro personagem vai explicar de uma forma mais didática o que está acontecendo e nos familiarizar com a situação. Eu, por exemplo, não entendo todas as negociações empresariais de Succession ou os altos e baixos do mercado financeiro em Industry, mas consigo aproveitar muito bem as duas porque o que importa mesmo é como aquilo vai afetar os personagens, como eles vão agir em torno daquele fato. No caso aqui, a personagem é Kate.


Interpretada com maestria por Keri Russell, eu não diria que Kate se diferencia de outras mulheres fortes da TV que rejeitam aspectos mais femininos como usar saias ou salto alto, coisas que ela detesta e agora se fazem mais necessárias pelo cargo que ocupa. Citando apenas como exemplo porque já vimos isso em outras produções, mas essas outras produções não tinham Keri Russell, que é o fator crucial aqui. O talento dela não é segredo pra ninguém desde Felicity e pudemos comprová-lo em The Americans. Como Elizabeth Jennings, Keri fez História na TV. Aqui ela tem um bom material, mas consegue elevá-lo com seu desempenho. O texto da série tem fortes tons cômicos e Keri passeia por eles com um sarcasmo único, com expressões faciais e vocais sutis que mostram a grande atriz que ela é. Em alguns casos, o humor entra até em uma cena mais sóbria ou dramática, e Russell tira de letra. O carisma natural dela faz com que simpatizemos com Kate desde o primeiro momento, assim como o modo que ela compõe a personagem em conjunto com os roteiristas, trazendo novas nuances em graus de maior complexidade.

Foto: Divulgação


Muito do desenvolvimento dela está intrínseco em seu relacionamento com o marido Hal, defendido muito bem por Rufus Sewell. Essa dinâmica disfuncional dos dois, no meu ponto de vista, é um dos pontos altos da série. Eles estão a ponto de um divórcio, mas por inúmeras razões não se deixam. Precisam um do outro na política, são parceiros. Há muita mágoa envolvida, egos feridos, porém é inegável que existe um certo tipo de amor ali. É por conta dessa incerteza com Hal, que Kate começa a se atrair por Dennison (David Gyasi), o Secretário de Relações Exteriores com quem trabalha diretamente. Desenhando esse triângulo amoroso, percebemos que o melodrama é uma das vertentes da série e isso não ofende a ninguém. Têm destaque também Stuart (Ato Essandoh), assessor de Kate, com quem vai formando uma amizade, Eidra (Ali Ahn), chefe da CIA em Londres, que tem um caso secreto com Stuart (eu já falei do melodrama, certo?), e Trowbridge (Rory Kinnear), o Primeiro Ministro britânico que, digamos, dificulta bastante o trabalho de Kate. Celia Imrie e Michael McKeann, de Better Things e Better Call Saul, respectivamente, são dois atores que admiro muito e têm participações pequenas, mas fundamentais: ela é uma conselheira política e ele o Presidente dos EUA.


Este que vos fala estava com muita saudade de uma trama política e A Diplomata preencheu bem esse vazio. Gosto como se desenrola, porque parece mais uma vez que a Rússia será a grande vilã – impossível não se lembrar de The Americans – e não é bem assim que a banda toca. São oito episódios de pouco menos de uma hora cada. É direta na narrativa mostrada, sem encher lingüiça e sem tempo a perder. Equilibra bem as relações pessoais com o jogo político e toques de comédia, na maioria das vezes com delicadeza. Não é tudo que funciona, acho que alguns diálogos e cenas soam bobos e exagerados. Felizmente, são exceções e acontecem em poucos casos. Na maior parte, o texto é bastante afiado. Tem um ótimo ritmo e sempre que termina um episódio, a vontade é de engatar no próximo. Claramente foi estruturada como uma série e não minissérie. É notório não só pelo grande gancho deixado pelo fim da temporada, mas pelo real motivo de Kate ser escolhida como embaixadora. Há um plano e espero que haja uma nova temporada para que ele possa ser colocado em prática e que a qualidade se mantenha.


Nota: 4/5

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