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Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | O Rei Da TV

A desmistificação de um ícone da televisão brasileira

Divulgação: Star+


Nascido em 1930, Senor Abravanel, filho de imigrantes, viria a se tornar uma das personalidades mais conhecidas em território nacional. Trajado de seu nome artístico, Silvio Santos, faria história na televisão em vários âmbitos, e seria uma figura atrelada ao sucesso e à facilidade de comunicação. Nascido pobre, ele iniciou sua vida profissional como camelô, lá nos anos 40, e a partir daí alçaria voos cada vez mais ousados e arriscados.


Quando se tem tantos anos de história, se torna impossível não ser alvo de produções que buscam retratar algum momento da vida, e tendo atualmente mais de 60 anos de carreira, Silvio Santos não poderia escapar de ter parte de sua vida abordada para o audiovisual. 'O Rei Da TV' série do Star+ que estreou no dia 19 de outubro, encena alguns dos momentos mais importantes e marcantes do início da carreira e parte da vida do Abravanel-pai.


A série tem dois pontos de partida, um deles é focado em 88, acompanhando um Silvio já chegando aos 60 e passando por um problema em suas cordas vocais. O outro ponto começa com ele adolescente, sendo esse o mais interessante, que é quando vemos seu caminho à ascensão. Ali, aos 15 anos, quando se vê numa situação em que precisa de dinheiro, ele dá início a sua vida de camelô nas ruas de Lapa, no Rio de Janeiro, e a partir daqui já podemos ver o poder com palavras que ele carrega.


Guilherme Reis, que interpreta essa versão adolescente, nos mostra um Silvio diferente da persona que conhecemos hoje, que foi adquirindo esse seu dom de comunicação e lábia com o decorrer do tempo. Reis entrega uma versão mais contida de uma forma até tímida, mas convincente, há a presença de um drama familiar envolvendo a falta de dinheiro, o que o move a se tornar o homem que seria no futuro. A produção teve um capricho quanto a cenários e efeitos que remetessem aos anos 40, e é bom de acompanhar essa fase, que só dura o primeiro episódio.

Divulgação: Star+


Os outros dois responsáveis por interpretar Abravanel são Mariano Mattos Martins, que faz a versão já adulta até os anos 70, e José Rubens Chachá, a versão de 58 anos. Um dos focos da série se dá no ano de 1988, com Chachá interpretando a fase em que Silvio teve problemas com as cordas vocais, correndo risco de perder a voz e precisou se afastar da TV. Esse momento do apresentador é utilizado para trazer às telas uma versão fragilizada dessa figura que parece tão imponente, e Chachá entrega uma boa performance dentro do proposto na trama, por mais que algumas coisas se afastem da realidade.


Já Martins, a versão adulta mais jovem, o interpreta no período de seu crescimento na TV e quando ainda era casado com sua primeira esposa, falecida em 77. Diferente de Chachá e Reis, Martins tem uma performance mais caricata que lembra aqueles momentos de Silvio, mas que não deixa de parecer uma imitação barata quando está o retratando nos palcos. Em relação à caracterização há pequenas falhas, mas no geral as duas fases principais mostradas tiveram êxito nessa questão, além de outros nomes conhecidos do público que também aparecem no decorrer da história, como Gugu Liberato, Rock, Pedro de Lara, Elke Maravilha e Sérgio Mallandro.


Em relação à trama, a série faz uso de bastante criatividade para remontar a história de Silvio, mesclando fatos com criações da própria produção, incluindo personagens que não existiram, como Cleuza, a assistente com quem há um pequeno atrito inicial com o patrão, e Rossi, aqui representando um poderoso chefe da Globo, mas que faz alusão a José Bonifácio, o Boni. Mesmo sendo invenção da série, Rossi tem um antagonismo interessante e seus momentos de embate com Silvio são uma das melhores partes, principalmente em sua versão jovem, interpretada por João Campos, que tem uma energia certeira para o personagem. Outro personagem fictício é Stanislaw, que acompanha Silvio até a abertura do SBT e alguns anos depois têm uma desavença, mostrando uma faceta nova do patrão até então não vista.

Divulgação: Star+


A produção se faz mais grandiosa no quesito técnico, há uma qualidade muito boa de direção de arte por todos os períodos pelos quais a série passa, desde 1945 a 1988, o último ano retratado. É sempre animador ver obras que mostram a produção de séries, filmes e programas, e aqui vemos isso com abundância, passando por diversos palcos aos quais Silvio comandou, desde o Programa Silvio Santos, que aqui é mostrado como o primeiro dele (pulando o ‘Vamos Brincar de Forca’, seu primeiro programa de fato), o conhecido Domingo no Parque, onde teve a inusitada piada do bambu, referenciada na série, e o Show dos Calouros.


‘O Rei Da TV’ não faz questão de mostrar um Silvio Santos somente amado, ela aborda algumas controvérsias de sua vida e desmistifica essa imagem de um homem animado e aparentemente sem defeitos. Nessa versão da série, Silvio é retratado com um grande comunicador, sim, mas que também usa um pouco de malandragem para conseguir passar por algumas situações. Ela humaniza a figura de Abravanel, fazendo dele uma pessoa comum, que “compra” seus adversários e críticos, e que tenta se adaptar conforme o jogo para tentar continuar ganhando. Um dos momentos em que fica claro esse lado do “dance conforme a música” é quando ele se vê numa situação de censura durante a ditadura militar, e então cria a ‘Semana do Presidente’, amaciando o ego dos militares no poder para seguir com seus ganhos.


Um dos defeitos da obra se dá pela passagem de tempo, a série parece ignorar datas que ela mesma mostra e aborda, gerando erro de continuidade que não chega a ser grotesco, mas ainda assim um erro incômodo. Em relação à ficção vs realidade ela se sai bem, pois, em nenhum momento propõe que tudo ali é verossímil, e o uso de artifícios fictícios agregou mais corpo à história. No entanto, ela é uma série agradável de assistir e que entretém mais do que tudo, ela torna interessante acompanhar a história dessa figura tão conhecida, mesmo que tudo ali não seja fato.


Nota: 3,5/5

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