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Crítica | A Incrível Eleanor (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 13 horas
  • 3 min de leitura

Scarlett Johansson estreia na direção com comédia dramática despretensiosa que se salva pela performance de June Squibb

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Foto: Reprodução


É sempre um exercício interessante acompanhar um ator ou atriz que decide ir para trás das câmeras. A história do cinema está repleta de grandes artistas que durante suas carreiras atuaram em ambas as funções em algum momento (quando não simultaneamente), de modo que nos perguntamos: o que os anos sendo dirigido(a) por outros diretores ensinou a estes profissionais? Qual será a sua abordagem agora que ele(a) não é mais a estrela, mas quem dirige a estrela?


Em A Incrível Eleanor, Scarlett Johansson faz sua estreia como diretora trazendo para as telas uma comédia dramática simpática e despretensiosa, um longa sem muitas ambições para além do seu tópico principal: sobreviventes do Holocausto. Mas o roteiro de Tory Kamen o faz sob uma premissa que é até curiosa, ainda que nem de longe disruptiva, ao trazer a protagonista Eleanor (June Squibb), uma mulher de 94 anos que após o falecimento da melhor amiga, retorna para a casa da filha em Nova York. Ao acidentalmente cair num grupo de sobreviventes do Holocausto, Eleanor acaba se apropriando das histórias da amiga para fazê-las serem suas, o que gera uma conexão com a jovem estudante de jornalismo Nina (Erin Kellyman), mesmo que ao custo de sustentar sua mentira cada vez mais.


Não há nada de muito novo em A Incrível Eleanor: o longa grita convencionalidade a cada instante, com uma direção simples e pouco marcante de Johansson, sempre enfatizando planos e contraplanos que valorizem as interações entre os personagens, no melhor esquema de um cinema independente que foca mais em atuações e texto do que na forma. O tópico difícil é exposto de uma maneira que soa incômoda, mas não necessariamente desrespeitosa; contudo, a abordagem do luto acaba sendo talvez o maior tiro no pé do filme. Especialmente porque fica nítida a mão pesada da direção de Johansson para nos manipular e comover, especialmente com o uso insistente da trilha sonora excessivamente dramática de Dustin O’Halloran, que praticamente grita para nós os momentos em que devemos nos emocionar com os personagens. É tudo tão na cara que o resultado se torna exatamente o oposto.

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Foto: Reprodução


O que realmente ajuda a elevar o filme de uma produção completamente esquecível é a performance de June Squibb, que tem vivido este incrível (e raro) momento na carreira aos 95 anos. Sua personagem não é uma pessoa fácil, sempre com uma resposta ou tirada na ponta da língua pronta para desarmar e irritar qualquer um, mas Squibb sempre lhe confere uma humanidade que o próprio texto do filme não parece ser capaz em alguns momentos.  A relação com Nina é outro ponto-chave; mesmo que longe de ser inovadora ou exatamente distinta, a química de Squibb e Kellyman é palpável e sólida mesmo quando o resto não é.


Hollywood está cheia das mesmas histórias sendo contadas a cada ano, de modo que o que as ajuda a se diferenciar uma das outras é a visão de quem assume a cadeira de diretor(a). Em sua estreia na direção, Scarlett Johansson não faz feio, mas tampouco há que possa ser considerado uma visão mais autoral, com exceção da maneira óbvia com a qual ela tenta ditar nossos sentimentos pelos personagens. Felizmente, se o longa poderá ser lembrado por algo, é por servir como plataforma para se maravilhar com as qualidades de uma veterana como June Squibb tendo essa chance como protagonista num momento tão tardio da carreira.


Nota: 2.5/5


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