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Crítica | Adolescência (Minissérie)

  • Foto do escritor: Filipe Chaves
    Filipe Chaves
  • 14 de mar.
  • 3 min de leitura

Filmada em plano-sequência, produção é impactante e devastadora na mesma medida.

Divulgação


Em meio a quantidade absurda de conteúdo nos streamings, é preciso garimpar para achar algo que valha a pena nosso tempo, e de vez em quando surge algo como Adolescência, que se destaca pela altíssima qualidade. A minissérie já começa com o pé na porta – com o perdão do trocadilho – com a polícia local invadindo a casa de uma família e prendendo o filho mais novo, de treze anos. A sequência é chocante e assim se segue por todo o primeiro episódio. Não se sabe direito o que está acontecendo até que o investigador diz qual a acusação: ele é suspeito de matar uma colega da escola. O garoto a todo instante afirma ser inocente, mas há provas irrefutáveis. Este é só o ponto de partida para uma história forte e arrasadora que me deixou completamente fascinado. A premissa pode lembrar Em Defesa de Jacob, minissérie do Apple TV+ estrelada por Chris Evans, mas a semelhanças param na superfície. Além do modo inovador de filmar cada um dos episódios, há muito mais complexidade envolvida aqui e os dilemas são muito mais aprofundados, não parando no “matou ou não matou?”.


O fato de cada um dos quatro episódios serem gravados em plano-sequência, sem qualquer corte perceptível, deixa a experiência muito mais imersiva, muito mais íntima, com a direção sensacional de Philip Barantini, o que se fez essencial em um enredo tão poderoso quanto esse. Eu não queria piscar o olho para não perder nenhum detalhe. E ainda não é isso o que mais impressiona, e sim como a narrativa trabalha as consequências e motivações de um crime brutal sem desumanizar o envolvido. A pergunta aqui não é somente se ele fez ou não fez, mas o que o levou a fazer, o que há por trás disso e como a família lida com o fato, como ela se culpa por não ter antecipado ou percebido o comportamento diferente, se é que havia. É um drama humano, brutal e atual. A adolescência não é um período fácil e o modo como a trama aborda a relação dos jovens com as redes sociais, a pressão por um padrão de masculinidade imposto pela sociedade, é tudo feito de uma forma muito honesta e madura, que nem sempre é fácil de ser assistida, pela crueza do desenvolvimento.

Divulgação


O elenco é primoroso e deve ter ensaiado a exaustão para que tudo saísse no nível de excelência que o texto e a direção exigiam. Stephen Graham – que também é co-criador da minissérie – no papel do pai tem uma performance irretocável, assim como Christine Tremarco na pela da mãe. É impossível não se emocionar por eles. Ashley Walters e Faye Marsey são Luke e Misha, os investigadores encarregados do caso, e eles não deixam seus personagens perderem a perspectiva de que são pessoas, e não apenas máquinas atrás da verdade. Erin Doherty está brilhante no papel da terapeuta, com um trabalho carregado de sutileza. Por último e definitivamente não menos importante, Owen Cooper no papel de Jamie, o garoto acusado. O rapaz é um achado neste trabalho dificílimo onde ele poderia facilmente cair em armadilhas do exagero e não o faz, trazendo uma atuação completamente genuína, o que deixa tudo ainda mais crível.


Os quatro episódios são muito bem divididos no que querem contar. Escritos por Graham e Jack Thorne (da também ótima minissérie deste ano Cidade Tóxica), a dupla consegue aprofundar o atordoamento inicial da primeira hora de uma maneira brilhante, passando para a segunda que aborda a busca pela arma do crime na escola e denuncia de certa forma as falhas do sistema escolar para com os adolescentes e até o parental, através da relação do filho e do detetive. No terceiro temos uma sessão de terapia com Jamie e sua terapeuta, em um episódio complexo e fascinante, cheio de nuances em diálogos meticulosamente trabalhados para despertar diversas reflexões no telespectador. Na última hora o foco volta à família Miller, e por mais que o tempo tenha passado, o sofrimento não cessa. É como viver um luto por alguém que não morreu. As cenas finais são completamente devastadoras e exaltam tudo o que vimos até aqui, de como é pesado lidar com uma situação assim para qualquer das partes envolvidas, mas não deixa de ser humano e é nesta combustão de sentimentos que uma das melhores minisséries da Netflix termina, sendo de longe a melhor estreia do ano até então.


Nota: 5/5


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