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Crítica | Blue Moon (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 9 horas
  • 2 min de leitura

Richard Linklater se apropria da linguagem teatral para dar a Ethan Hawke um palco para brilhar

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Foto: Reprodução


Em 2025 Richard Linklater parece ter se comprometido com histórias sobre figuras reais que andaram no limiar entre o egóico e o genial. Seja Godard em Nouvelle Vague ou Lorenz Hart (Ethan Hawke) aqui em Blue Moon, vê-se homens criativos, transgressores e também mesquinhos e ressentidos, cujas interações com as pessoas à sua volta são marcadas por instantes tanto de admiração e respeito quanto de tensões e conflitos.


Curioso notar como ambos os filmes se aproximam e se distinguem, partindo de uma mesma ideia (utilizar de uma determinada linguagem artística para tratar daquele universo artístico específico). Se Nouvelle Vague investe na metalinguagem – inclusive no aspecto formal – para falar de um dos períodos mais emblemáticos do cinema, Blue Moon abraça despudoramente a linguagem teatral, convergindo seus personagens em um único espaço durante quase toda a sua duração, apostando na força do texto e nas interrelações entre os personagens.


A filmografia de Linklater está repleta de ótimos filmes sustentados na articulação que ele exerce entre texto e performances, e em Blue Moon ele dá ao seu habitual parceiro Ethan Hawke mais um espaço para brilhar. O roteiro de Robert Kaplow (cujo trabalho já havia sido adaptado por Linklater em Eu e Orson Welles) acaba sendo encarregado de um tratamento mais expositivo e direto, sem tantas margens para sutilezas ou ao que é dito pela própria encenação do filme, mas Hawke se encarrega de engolir cada cena conforme faz do seu Hart uma metralhadora de tiradas mordazes e espirituosas, de falas que atestam o tamanho do seu ego e das suas fragilidades e também de uma sensibilidade muito humana. O trabalho prostético com o ator (retratado como um homem baixo e calvo) é um destaque à parte, mas é sua performance que eleva o filme.

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Foto: Reprodução


O texto de Kaplow e a direção de Linklater buscam alguma dinâmica conforme Hart interage com os outros personagens, como o bartender Eddie (Bobby Cannavale), sua protegida/interesse amoroso(?) Elizabeth (Margareth Qualley), o jornalista e escritor E.B. White (Patrick Kennedy) e seu parceiro criativo e amigo Richard Rodgers (Andrew Scott). Cada uma dessas interações oferece mais vislumbres da figura e da alma de Lorenz, tanto celebrando seu gênio, dissecando suas falhas ou lamentando a tragédia da sua morte precoce, já apresentada na cena inicial do filme. É bem verdade que em algumas das interações o filme chega a mostrar sinais de uma fadiga muito comum em obras ambientadas neste único espaço (como na sequência em que Elizabeth narra suas experiências sexuais a Hart), mas é um recurso que dá ao filme respiros e algum frescor, permitindo também que flutue entre a comédia e o drama com facilidade.


Se “todo mundo é um palco”, como diria Shakespeare, então Linklater faz do bar e restaurante Sardi’s um palco para uma noite de ressentimentos, admiração, amores, desilusões e prenúncios de uma tragédia. E, sobretudo, faz de Blue Moon este palco que permite a Ethan Hawke mostrar porque é um dos melhores atores de sua geração, numa das performances mais memoráveis do ano.


Nota: 3.5/5


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