Crítica | Verdade Oculta (1ª temporada)
- Filipe Chaves

- há 16 horas
- 4 min de leitura
Ethan Hawke se supera em excelente nova série do criador de Reservation Dogs.

Desta vez, nós acompanhamos Lee Rayborn (Hawke), um jornalista independente de Tulsa e por conta de sua obsessão em denunciar escândalos de corrupção que dominam a cidade, ele não é bem quisto pelos poderosos do local. Quando o membro de uma família rica se suicida, Lee suspeita que foi um assassinato e decide fazer desta sua próxima história, mas quando começa a seguir pistas deixadas pelo falecido, as coisas ficam cada vez mais complicadas e perigosas, colocando em risco sua vida e de sua própria família. Então, você pode ler essa sinopse e pensar que já viu tantas tramas assim antes, mas o brilhantismo de Sterlin Harjo não está exatamente nas surpresas do mistério em si, mas na criatividade em como ele chega lá. E por mais que o caminho seja tortuoso para o protagonista, para quem assiste é televisão de alta qualidade.
Ethan Hawke é um dos meus atores favoritos em atividade na atualidade e o homem é capaz de tudo. Sua versatilidade não é novidade para ninguém, mas este ano é mais uma prova com seus trabalhos em The Lowdown – que aqui no Brasil ganhou o título de Verdade Oculta – e Blue Moon, belíssimo filme de Richard Linklater, pelo qual ele foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator em Comédia ou Musical. Mesmo sendo esnobado nas indicações em série, a perda é deles que não reconheceram este verdadeiro furacão. E eu digo isso porque na pele de Lee, o que o personagem mais causa é confusão, mesmo com a melhor das intenções. Ele é um idealista que acredita na força do jornalismo, ao mesmo tempo que falha como pai e tenta ser o melhor que consegue ser. Sua relação com a filha é um fator crucial para a trama e o arco do personagem como um todo. Interpretada por Ryan Kiera Armstrong – sim, a protagonista do novo reboot de Buffy, a Caça Vampiros –, a menina é muito talentosa e consegue emocionar genuinamente nesta relação complicada de amor e decepção.
“Genuína” é uma palavra-chave aqui, porque por mais que os personagens carreguem uma certa excentricidade – um dos pontos em que a produção mais lembra Twin Peaks –, em momento algum eles se tornam caricaturas e muito disso graças ao elenco habilidoso e carismático que acompanha Hawke, além do texto de Harjo e sua equipe, claro. Kyle MacLachlan é Donald Washberg, o mais próximo que temos de um vilão principal aqui e seu personagem em nada lembra Dale Cooper, a não ser o rosto, rs. O sempre ótimo Keith David é Marty, um tipo de detetive particular que ajuda a família Washberg, pelo menos de início, e tem uma jornada bem interessante no decorrer da temporada. Outra das minhas personagens favoritas é Betty Jo, a viúva interpretada por Jeanne Tripplehorn. É uma mulher que faz o que for preciso para sobreviver e eu gosto muito disso por não saber exatamente o que esperar dela, para o bem ou para o mal. Não vou falar muito para evitar spoilers, porque sim, há boas reviravoltas no enredo.

Vocês já ouviram a frase que os melhores dramas também são comédias? Pois é, The Lowdown não foge à regra. Sterlin Harjo sabe equilibrar a essência dramática com a comicidade no roteiro formidavelmente, sendo consideravelmente mais violenta e adulta, mas sem perder a mão e com diálogos rápidos e afiados que elevam a narrativa, aprofundam os personagens e suas relações. Harjo é nativo-americano sendo esta a primeira vez que seu protagonista é um homem branco e a escolha não é à toa. Se em Reservation Dogs os indígenas predominavam com sua merecida visibilidade, aqui eles não ficam de fora e se destacam em papéis coadjuvantes, não deixando de criticar a figura do “salvador branco”. É um complexo que Lee inevitavelmente carrega, mas ao cometer erros, ainda que seja com a intenção de ajudar, acaba prejudicando muito mais, o que se torna uma das principais viradas da temporada. Não entrarei em detalhes, por óbvio, mas quem assistiu vai entender e quando você assistir também saberá do que eu estou falando.
São oito episódios que compõem este ano de estreia e o desfecho é bastante satisfatório, tanto para o mistério quanto para o arco dos personagens. Em meio a intrigas e reviravoltas do caso, a série é extremamente divertida. Mesmo que tudo esteja conectado, ela tem uma natureza episódica, onde cada hora pode ser aproveitada e o entretenimento é garantido, sem esquecer que estão lidando com assuntos sérios. Há uma certa previsibilidade, mas isso só incomoda se você se importar mais com a linha de chegada do que com a jornada e se há outra regra na TV que vale a pena ser mencionada é: é a jornada que importa. E eu digo isso afirmando que o episódio final é muito competente, mas uma série que sabe ser série, tem que fisgar o telespectador em cada episódio e não só no final. Felizmente é o que acontece nesta que é uma das melhores do ano e já começa com um espetacular episódio piloto. Torço por uma renovação e acredito que há muito potencial para explorar mais histórias de Lee Rayborn.
Nota: 5/5





