Crítica | Labirinto dos Garotos Perdidos (Mostra de SP 2025)
- Vinicius Oliveira

- há 7 dias
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Cinema de gênero que bebe de diversas influências para discutir as variadas experiências dos encontros gays

Foto: Reprodução
Fazer cinema de gênero no Brasil é, em certa medida, um ato de resistência, visto que a tradição histórica do nosso cinema é a do drama social e o exercício dos outros gêneros cinematográficos é muitas vezes visto como uma cópia de produções estrangeiras, em especial hollywoodianas, sem a devida personalidade ou “brasilidade”. E, embora isso possa ser verdade em alguns casos, não implica em dizer que nossos contextos socioculturais, históricos, políticos (e, neste caso, sexuais) não possam ser aplicados nesses tipos de produções.
Ao se assistir uma produção como Labirinto dos Garotos Perdidos, é perceptível a influência das mais variadas obras, desde Depois das Horas, de Scorsese, a Parceiros da Noite, de William Friedkin, até o gênero italiano do giallo trabalhado por diretores como Dario Argento e outros. Desde a atmosfera, com o uso de cores fortes e de alto contraste, passando pela trilha sonora bombástica, a textura de sua imagem, os zoons, o uso da dublagem nos diálogos, o encadeamento de situações cada vez mais absurdas e tragicômicas, é um filme que aponta bem a quem deve e reverencia, mesmo que talvez nem sempre intencionalmente – como no caso da captação de som um tanto irregular.

Foto: Reprodução
Ainda que essas influências acabem por vezes se sobressaindo à construção geral da obra, na maior parte do tempo elas são bem costuradas a essa ambientação definitivamente brasileira, onde São Paulo é transformada nessa metrópole onírica, mas ainda real (a piadinha com Vila Cecília foi um dos pontos altos do filme). Além disso, é um filme queer até os ossos, não só pelo seu protagonista gay passando pelos diversos encontros cada vez mais bizarros, mas pela sua própria estética, a maneira como Matheus Marchetti filma despudoramente os corpos masculinos, até quando eles se tornam algum motivo de piada.
Aliás, é na combinação entre humor e horror que o filme ganha mais força. O desconforto e a vergonha alheia extraídos de cada encontro de Miguel (Giuliano Garutti) se tornam quase palpáveis porque, por mais absurdos que soem, ainda assim parecem condizentes com as diversas experiências relatadas por homens gays em seus encontros. Por outro lado, o lado do horror, mesmo com seus vários acenos ao giallo (o famoso plano da mão com a arma branca, o sangue nitidamente falso, etc), não possui a mesma força e impacto dentro da obra, especialmente na revelação final, mesmo que essa case com a perspectiva de se abraçar a monstruosidade que muitas obras queers contemporâneas vêm oferecendo.
Labirinto dos Garotos Perdidos é uma obra carregada com imperfeições que, contudo, lhe conferem um certo charme. Inspirado sem necessariamente cair no lugar do derivativo, é um filme divertido em sua essência e que aponta para a criatividade e a pulsão dos realizadores interessados no exercício do cinema de gênero no Brasil.
Nota: 3/5





