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Crítica | Mirrors Nº 3 (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 5 dias
  • 2 min de leitura

Sobre duplos e fantasmas, morte e renascimento, traumas familiares e laços reconstruídos

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Foto: Reprodução


Em seu conceito original, o termo fantasmagoria se referia à arte de fazer aparecer fantasmas ou figuras luminosas em lugares escuros. Figurativamente, pode se referir a uma ilusão, à aparência falsa de alguém ou a uma visão onírica. Todos esses conceitos parecem, de alguma forma, servir à Laura (Paula Beer), a protagonista de Mirrors Nº 3, novo longa do aclamado diretor alemão Christian Petzold.


Desde os minutos iniciais do filme, antes mesmo do acidente que serve como um catalisador da trama, Laura já age como um fantasma pelas ruas de Berlim. Vive, mas não é o que parece; não reage ao mundo à sua volta, e o único momento em que toma alguma atitude neste começo é justamente o que vai desencadear o acidente que mata seu namorado e a põe sob os cuidados da acolhedora Betty (Barbara Auer), sobre quem, porém, paira um ar de estranheza que aos poucos vai sendo desnudado.


Existe um mistério que permeia Mirrors Nº 3, mas Petzold não está interessado em prolongá-lo até o fim apenas pelo choque, nos dando aquilo que precisamos saber até que tenhamos enfim a resposta sobre os motivos pelos quais Betty decide cuidar de Laura. O filme é econômico em todos os sentidos: na duração, na sua montagem, nos diálogos, nos atos, gestos e interações entre os personagens. Mas nessa economia muito se diz, e é nessa capacidade de Petzold de encenar com o mínimo possível de forma a potencializar a dramaticidade da obra que o filme cresce.

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Foto: Reprodução


É uma obra que se ancora em alegorias simples – os aparelhos e eletrodomésticos quebrados da casa de Betty simbolizam o relacionamento quebrado que ela tem com o marido Richard (Matthias Brandt) e o filho Max (Enno Trebs), e gradativamente a presença de Laura leva às necessidades de se consertar aquilo que está quebrado entre eles, seja no campo material quanto relacional. E mesmo nessa simplicidade, o filme consegue prover um enorme encanto e singeleza, como na cena em que Laura e Max tomam cerveja em silêncio ao som de uma música, e começam a rir um para o outro por causa da intimidade confortável que alcançam naquele momento.


O cinema de Petzold é um cinema de fascínio por fantasmas e duplos, vide a sua Trilogia dos Fantasmas no início da carreira ou Phoenix. Mirrors Nº 3 é mais um capítulo deste fascínio, nos trazendo uma protagonista que precisa olhar nos olhos da morte para gradativamente (re)aprender a viver, enquanto assume este novo papel que lhe parece confortável, pelo menos até certo ponto. Tudo feito com a precisão de um mestre em seu ofício, que entrega aqui um longa que, na sua enganosa simplicidade, já se converteu num dos melhores vistos na Mostra até agora.


Nota: 4/5


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