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Crítica | Silvio Santos Vem Aí

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • 10 de nov.
  • 2 min de leitura

Tom emulado de narrativa artificial consolida resultado com aparência barata e amadora

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

Em 1989, Silvio Santos (Leandro Hassum) surpreendeu o Brasil ao entrar na corrida presidencial. Sua equipe de campanha envia então a jornalista Marília (Manu Gavassi) para acompanhar e entrevistar Silvio, com o objetivo de entender o seu passado e prever o que os adversários podem vir a usar contra ele nos debates. Apesar de ser figura onipresente nos domingos das famílias de todo o Brasil, a vida particular de Silvio é um mistério e a jovem jornalista precisa encarar o desafio de descobrir quem é o homem por trás da lenda. Quanto mais Marília convive com Silvio, mais ela sente a necessidade de entender o que o motiva a concorrer à presidência. O relacionamento dos dois se constrói como uma espécie de duelo – enquanto Silvio tenta resguardar sua vida privada, Marília precisa esmiuçá-la nos mínimos detalhes. Desse encontro, ambos sairão mudados.


Dar vida a uma personalidade tão distinta em seus maneirismos como foi Silvio Santos sempre será uma missão arriscada. Se a proposta não for trazer uma interpretação que assumidamente tente fugir do real, como pastiche, por exemplo, ela eventualmente vai cair num espaço caricato involuntariamente. E então tem-se um rosto bem conhecido pela sua maneira de fazer comédia, como Leandro Hassum, e não teria outra possibilidade a não ser o confronto dessas personalidade em cena, que, em vez de convergirem para o meio-termo, acabam por competir pelo mesmo lugar impossível de ser alcançado por dois corpos diferentes. Hassum, apesar do esforço evidente, nunca encontra o ponto de equilíbrio entre a imitação e a interpretação, tornando o Silvio que vemos em tela uma figura híbrida, distante tanto do homem quanto do mito (dualidade clichê que toda obra abordando a figura parecem querer tratar).


O roteiro busca humanizar a figura de Senor Abravanel, mas encerra por mistificar ainda mais a figura idolatrada do grande comunicador, do azarão seguidor da teologia do progresso, do Midas midiático. A estrutura narrativa de colocar a personagem Marília imaginando as etapas propositais da vida de Silvio Santos enquanto ele apresenta seus diversos programas, num tipo de Fellini desastrado, resulta em momentos bagunçados e um tanto vexatórios por nunca conseguir encontrar o mesmo tom entre real, imaginário, fictício, comédia, drama, romance, paródia e referência.

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

As atuações imprimem artificialidade, presas a gestos engessados e expressões previsíveis. Existem, inclusive, vários personagens coadjuvantes que em nada somam ao todo. Falta organicidade às performances e um olhar mais sensível da direção de atores para extrair verdade das cenas. A dinâmica com Marília, que deveria sustentar o arco emocional do filme, se dissolve em trocas mecânicas e sem tensão dramática.


Os diálogos, a cenografia e o ritmo seguem a mesma lógica apressada. Tudo parece ter sido feito com o mínimo de cuidado estético, sem a pesquisa ou o requinte visual que uma produção de época naturalmente exige. Há uma falta de textura, de identidade e de vida nas composições de cena, como se a pressa em concluir o projeto tivesse suprimido o desejo de refiná-lo. É um longa que, em vez de iluminar a complexidade hipotética da persona Silvio Santos, apenas endossa o vazio de uma encenação que nunca cativa ou mesmo convence.


Nota: 1/5


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