Crítica | Tremembé - A Prisão dos Famosos (1ª temporada)
- Ávila Oliveira

- há 12 horas
- 3 min de leitura
Minissérie é ‘Ligações Perigosas’ carcereira que encara o camp bem no fundo dos olhos

Produzida pela Paranoid para o Amazon MGM Studios, Tremembé retrata as trajetórias de encarcerados como Suzane von Richthofen, Daniel Cravinhos e Cristian Cravinhos, condenados pelo assassinato dos pais de von Richthofen; Anna Jatobá e Alexandre Nardoni, condenados pelo assassinato de Isabella Nardoni; e de Elize Matsunaga, condenada por assassinar o marido, entre outros, na penitenciária conhecida como “prisão dos famosos”.
Tremembé tinha material suficiente em mãos para virar um grande desastre, mas graças às escolhas que definiram o tom não-sério, sarcástico e por vezes humorístico mesmo da minissérie, o resultado é inusitado, espirituoso e cafona, no melhor dos sentidos.
O ponto de partida do texto são os livros do jornalista Ulisses Campbell que dedicou parte de sua carreira à textos sobre alguns dos criminosos mais famosos do Brasil contemporâneo. O objetivo aqui nunca foi fazer um estudo psicológico e criminal daquelas pessoas, na verdade os crimes são apresentados apenas como flashbacks introdutórios para apresentar como aqueles foram parar no mesmo lugar. E essa já é uma proposta que diverge de outros trabalhos que tenham abordado aquelas histórias, afinal, a prisão por vezes soa como um ponto final na vida daqueles seres humanos, quando na verdade, é apenas o início de um capítulo completamente diferente e cheio de experiências novas.
E o texto de Tremembé toma as liberdades criativas que acha necessário para jogar com as relações entre os criminosos e criar um jogo de Ligações Perigosas pelo micropoder dentro daquele espaço. Com música pop, tiradas engraçadas e situações quase absurdas, o roteiro, e a direção acelerada de Vera Egito, não tiram o pé do “baseado em fatos reais”, e não deixam o público esquecer que ali estão detentos respondendo por crimes hediondos; mas veste isso com um traje lúdico que concede ao resultado, enquanto peça audiovisual, uma fluidez, um brio e uma unidade que resolvem muito bem a construção do discurso.
Outro tópico que a narrativa não deixa de lado é a relevância que a mídia teve nos casos abordados. O subtítulo “A Prisão dos Famosos” esfrega nos rostos dos espectadores que, de uma forma ou de outra, os personagens se tornaram de interesse público graças à repercussão que os veículos de peso da mídia deram aos seus casos. Entrevistas, publicações e reportagens são recorrentemente retratados nos 5 episódios de forma a enfatizar o frenesi que se gerou em torno daquelas vidas; e a série desenha como cada condenado utilizou da noção de “fama” que recebeu para tocar com seus futuros.

Todo o elenco entendeu com precisão a proposta do projeto e entregou atuações estereotipadas o suficiente para lidar com o drama, com o crime e com o humor. Cada ator conseguiu, dentro deste espaço convergente do irônico, desenvolver personas diferentes que em cena preenchem o espaço de forma a montarem um mosaico de personalidades constituídas de códigos morais e éticos completamente diferentes e que por hora se veem em pé de igualdade e por outras se sentem superiores aos alheios ali presentes. Destaque para as atrizes que conduzem com firmeza os arcos da história: Marina Ruy Barbosa, Carolina Garcia, Letícia Rodrigues e Bianca Comparato.
A produção não evita tópicos, nomes e detalhes, e não se interessa em fazer um julgamento daqueles personagens, de suas causas e consequências, mas também não busca romantizar ou mesmo simpatizar com nenhum deles, os crimes são expostos e o público sabe o que cada um fez para estar naquele presídio, no entanto ela não se exime de apresenta camadas, presentes em todos os seres humanos por mais complexos que eles sejam, dessas pessoas, seus altos e seus baixos, seus anseios, suas subjetividades e seus carismas, por assim dizer. É quase como um grande reality show de caráteres questionáveis onde o espectador não consegue desviar o olhar.
Nota: 3,5/5





