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Entrevista | Diretores e atrizes falam sobre “Apanhador de Almas”: “Trouxemos um pouco do Lovecraft para nosso universo no Brasil”

  • Foto do escritor: Gabriella Ferreira
    Gabriella Ferreira
  • 29 de set.
  • 9 min de leitura

Em entrevista ao Oxente Pipoca, equipe destacou a importância de um terror nacional colocar mulheres no protagonismo

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Na quinta-feira, 18 de setembro, chegou às salas brasileiras Apanhador de Almas, um suspense de terror que promete prender a atenção do público do início ao fim. Durante um eclipse solar total, quatro garotas visitam a casa de uma bruxa misteriosa em busca de um ritual sobrenatural. Mas algo dá errado: elas ficam presas em um limbo dimensional onde o Apanhador de Almas governa.


O filme é estrelado por Klara Castanho, conhecida por sucessos de público como Tudo por um Pop Star, e marca a estreia nos cinemas da influenciadora Duda Reis. O elenco ainda conta com nomes como Ângela Dippe (Castelo Rá-Tim-Bum), Larissa Ferrara (As Aventuras de José & Durval), Jéssica Córes (Biônicos, Cidade Invisível) e Priscila Sol (Carinha de Anjo).


Apanhador de Almas é dirigido por Fernando Alonso e Nelson Botter Jr., dois grandes admiradores do gênero terror, que compartilham nesta entrevista detalhes sobre a criação do filme, o protagonismo feminino, a construção das personagens e as inspirações por trás desta produção nacional que mistura suspense, fantasia e terror psicológico.


O Oxente Pipoca conversou com Fernando e Nelson e com as atrizes Klara Castanho, Larissa Ferrara, Duda Reis, Ângela Dippe e Priscila Sol. Confira a entrevista na íntegra abaixo. 


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Primeiro eu queria saber como surgiu, para vocês dois, a ideia de trazer um filme desse gênero, aquele terror mais clássico que a gente está acostumado a ver em produções gringas. No cinema brasileiro a gente não vê tantos filmes voltados para esse estilo. Como surgiu essa proposta e como vocês se jogaram nessa ideia?


Fernando Alonso: É, a ideia começou que a gente, né, já vem desse... a gente gosta muito do gênero fantasia e gênero terror. A gente veio desse mercado, né, quase 20 anos com animações e começamos a produzir aí os filmes de terror. E a gente queria muito fazer um filme Monster in the House, né?


Aquele clássico, né? Que tá aí, as gerações, ano passa, ano vem, e ainda é um dos gêneros mais, né, procurados pelo pessoal. E aí a gente trouxe um pouco esse universo fantástico, que mistura um pouco... né, a gente bebe um pouco do Lovecraft, né, das histórias de monstros dele e inclusive de bruxarias e mundos, né, limbos paralelos.


Um pouco para o nosso universo no Brasil, né, um pouco com algumas coisas que a gente vive aqui, da nossa cultura. E aí, a partir disso, a gente foi construindo a história, né?


A história dessas mulheres que, que, não se responsabilizam por essa questão de analisar, do estudo, do ver onde elas estavam indo, naquele oba-oba, se metem nesse grande problema aí, que é o apanhado de almas, né? A história que passa ali na casa da bruxa Rea.


Nelson Botter Jr: A gente já tinha feito um outro filme de terror antes e, buscando novas ideias, eu lembro que estava morando nos Estados Unidos em 2017, quando aconteceu um eclipse solar total. No momento em que o eclipse chegou ao auge, pensei: já pensou se ele para e não continua? O que aconteceria se, de repente, o eclipse parasse e não voltasse mais?


Essa ideia ficou na minha cabeça e falei para o Fernando: ‘A gente podia pensar em uma história em que o eclipse para e abre um portal por onde forças malignas podem surgir’. A partir daí, fomos conversando e começamos a moldar essa ideia de uma casa com pessoas presas nesse limbo do eclipse.


Pouco a pouco, fomos lapidando e decidimos que seriam mulheres ligadas à bruxaria, com uma bruxa responsável pelo ritual que causaria esse congelamento do eclipse. Foi assim que surgiu a ideia.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Uma coisa que eu achei muito interessante no filme é esse protagonismo feminino. A gente até vê isso em alguns filmes de terror, mas geralmente naquele modelo da final girl, aquela única mulher que sobrevive no final. Aqui é diferente: existe um set muito feminino, com várias protagonistas dividindo espaço e construindo embates que vão crescendo ao longo da trama.

Queria saber como foi para vocês viverem essa experiência de dividir o protagonismo entre si e, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de estrelar um filme de terror, que, imagino, também seja algo muito marcante para as carreiras de vocês.


Larissa Ferrara: Gabriella, foi realmente assim, uma experiência incrível. Não só por todas as personagens serem femininas, mas também porque a equipe era 80% feminina. Foi um set muito confortável, muito harmonioso.


Muita gente pergunta: ‘Aconteceu alguma coisa no set? Alguém morreu, quebrou a perna?’ E eu respondi: ‘Não, cara, foi tudo tão gostoso e tranquilo, sabe?’ O Fernando e o Nelson são pessoas tão democráticas. Eu chegava de supetão, e qualquer ideia que eu desse, eles discutiam, acrescentavam, falavam: ‘Ah, não, esse não, esse sim’. Sabe, sem uma autoridade masculina tóxica, não existiu; existiu horizontalidade, o que é raro.


Eu sou apaixonada por thriller, por filme de terror, especialmente terror psicológico. Eu adoro fazer uma antagonista, uma pessoa meio… sabe? Porque aí eu tiro os meus demônios e coloco para fora. E eu senti que consegui fazer isso nesse filme, muito por conta da Klara, que foi uma grande parceira. Toda cena a gente discutia nosso objetivo, o que íamos fazer, como cada uma estava, o que seria mais interessante para o filme.


Putz, foi uma troca maravilhosa. Eu tô torcendo muito que o público goste, que toque o público, que o público tenha medo e se divirta com tudo isso.


Klara Castanho: Eu fiquei muito feliz quando soube que seria um elenco 100% feminino, porque acho muito maravilhoso quando a gente conta histórias onde, ao invés de endeusar, a gente desmistifica todo o feminino.


A gente está falando de mulheres com defeitos, de mulheres com grandes questões, mas que têm esse grupo de amigas, cada uma com a sua história paralela, cada uma com a sua questão paralela, e que ainda assim estão ali unidas com o objetivo de experienciar uma coisa nova. Vai dar tudo errado? Vai. Mas elas estavam unidas para fazer dar certo.


Elas tinham um objetivo legal. Então, quando eu li pela primeira vez, foi isso que mais me chamou a atenção: fazer um filme onde, de fato, as mulheres não são as vítimas da situação; elas estão encabeçando tanto o bem, quanto o mal, quanto o dúbio. É muito maravilhoso.

A gente também abre uma porta de possibilidades para testar coisas novas nesse feminino. Então, eu não poderia ter saído mais feliz.


Ângela Dippe: Uma coisa que achei muito bacana no nosso set é que, apesar de estarmos gravando um filme de terror, de suspense, com esse lado psicológico forte, o clima nos bastidores era completamente contrastante. Foi um ambiente leve, de muita alegria e, por incrível que pareça, de muitas risadas até demais. Acho que isso resume bem a energia que tivemos durante as filmagens.


Eu toparia fazer esse filme de qualquer maneira, justamente por ser um elenco formado só por mulheres. Isso é raríssimo, principalmente em filmes de terror. Na minha época, no cinema nacional, os papéis principais quase sempre eram ocupados por homens, enquanto as mulheres apareciam muito mais como coadjuvantes ou vítimas.

Com esse novo letramento feminista, isso tem mudado, e é muito bom ver essa transformação acontecendo. Estar em um projeto em que as mulheres são o centro da história é algo muito especial.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Como vocês construíram as personagens e essa relação entre elas? Porque no filme a gente começa vendo uma amizade, mas depois tudo vai se tornando mais tenso, essa tensão vai crescendo. Ainda existe aquele pouco de amizade, mas ao mesmo tempo surge a desconfiança: você não quer desconfiar da sua amiga, mas precisa. Queria saber de vocês duas como foi esse processo.


Ângela Dippe: Para trabalhar a personagem eu segui algumas referências do que o diretor mandou. E eu sempre digo que a bruxa já está no imaginário coletivo, é um arquétipo fundador. Desde os contos infantis até as produções de Hollywood, a gente tem várias figuras de bruxas, vários tipos de bruxa.


Mas logo quando me apareceu o figurino — que era um figurino claro, boho, hip-chic — já me deu uma pista. Aí eu quis imprimir uma fala mais lenta, mais grave, para dar tanto autoridade, segurança e firmeza, quanto também um tom ameaçador.

Depois colocaram lentes de contato em mim. Eu tenho o olho claro, mas fiquei com o olho marrom para parecer um pouco mais a ‘clarinha’. E justamente essa é uma bruxa dupla face: ela começa como uma tia-avó super acolhedora, serve chá e tal, e depois se transforma numa velha macabra.


Ela propõe um jogo que faz com que justamente os quatro vulneráveis adolescentes, aprendizes de… acabam tendo treta uma com a outra.


Duda Reis: Foi muito bacana a nossa conexão desde o início, acho que isso também ajudou muito a gente a conseguir passar essa verdade inicial de cumplicidade entre nós.


Então acho que isso proporcionou um clima bacana no set, uma cumplicidade, uma conexão muito legal. E os nossos diretores são super atenciosos, super queridos, o Fernando e o Nelson. Eles também passaram algumas referências para a gente, como a Ângela falou, e conseguimos emergir bastante nessas referências.


Eu também dei uma boa estudada em A Bruxa de Blair para poder entrar mais nessa atmosfera.


Priscila Sol: Eu fiquei um pouquinho, né? Não fiquei tanto como as meninas, não consegui desenvolver essa... eu comecei amiga e terminei amiga. Eu só saí meio que tipo: ‘vou embora, porque isso daqui não tá bom para mim, não’. Então, acho que a única desconfiança que a minha personagem, a Isabela, mostra é em relação à Rea.


E eu amei fazer esse filme, porque além de ser um aprendizado como artista — já que a gente está todo mundo aprendendo a fazer filme de terror, que ainda é muito novo e pouco explorado no Brasil — também foi um aprendizado pessoal. Eu me tornei uma pessoa melhor. Trabalhei questões muito profundas em mim, principalmente o apego à personagem, porque tive que abandonar o set no meio das filmagens, entre 10 e 15 dias.

Isso foi desafiador demais, porque eu fiquei doente e precisei sair, vendo depois outra atriz interpretar a Isabela. Foi muito difícil, mas hoje enxergo que isso acabou sendo um plus para o filme. O que poderia ter sido um grande desafio trouxe uma curiosidade a mais: ver duas atrizes interpretando a mesma personagem e perceber como um problema pode ser transformado em algo positivo.


Eu saio desse trabalho melhor como atriz e como pessoa. Fui lá para as minhas sombras, trabalhei tudo isso e agora é só luz! Ihu! É isso. Eu adorei, cara.


E ver o filme pronto, o trabalho de todo mundo, da equipe que foi super guerreira, foi emocionante. Imagino o quanto eles ficaram desesperados quando de repente eu fiquei doente, mas as meninas conduziram perfeitamente o trabalho. Porque quando muda uma peça, muda uma energia, muda o caminho, muda todo mundo. Então, é muito legal ver o resultado finalizado e só tenho a agradecer às meninas pela parceria que a gente construiu.


Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Eu queria que vocês falassem um pouco sobre essa questão: quais foram as principais referências que vocês tiveram para o filme? Quais inspirações ajudaram a construir o universo, a narrativa e o estilo da obra?


Nelson Botter Jr: Ah, eu vou falar rapidinho então das influências, aí depois o Fernando pode completar. Mas é principalmente Lovecraft, que é uma literatura mais de terror fantástico, né? Um pouco com o pezinho na ficção científica.


Ah, e também alguns filmes como Chave Mestra, que lidam com essa questão da bruxaria, do mistério. Basicamente é isso.


Fernando Alonso: Tá, eu vou falar dos filmes. Tem um filme que eu lembrei enquanto o Nelson contava, que a gente estava construindo a história, que fala muito, dialoga muito com o que a gente estava buscando, porque ele tinha essa percepção de um filme todo numa casa.


Mas ele é diferente, é muito legal também, porque ele é muito diferente, trabalha muito a questão psicológica e mental. Chama Coerência. Esse filme é legal porque passa-se um cometa, né, no mundo, e o mundo fica de noite.


E aí eu não vou contar mais porque é muito legal, mas vale a pena assistir, é bem interessante.


Gabriella Ferreira: Aqui no Oxente Pipoca a gente sempre encerra com a mesma pergunta: qual filme brasileiro vocês indicariam como favorito ou como uma inspiração, seja pessoalmente, seja para essa produção em específico, e que gostariam de indicar a quem vai acompanhar a nossa entrevista?


Larissa Ferrara: Eu já indiquei muitos filmes para outros jornalistas, então agora gostaria de destacar produções brasileiras. Indicaria As Boas Maneiras, da Juliana Rojas, que é um filme incrível e que inclusive já tinha comentado com a Klarinha. E também O Animal Cordial, da Gabriela Amaral. São excelentes obras. 


Klara Castanho: Quero deixar como indicação O Lobo Atrás da Porta. Se alguém ainda não assistiu, precisa ver. É um filme indispensável.


Eu vou indicar uma série nacional que foi a última que assisti e que realmente me deixou abalada, de tanto suspense e intensidade: Bom Dia, Verônica. É daquelas produções que dão um frio na barriga, um verdadeiro soco no estômago, especialmente porque nos faz refletir sobre o quanto nós, mulheres, sofremos certas situações. Achei cheia de viradas, com um roteiro muito rico.


Gosto muito das interpretações, em especial da Camila Morgado, sou fã, acho ela genial, mas todo o elenco está incrível. E, claro, a Klarinha também faz parte, o que torna ainda mais especial.


Ângela Dippe: Para indicar uma série, eu escolheria uma produção nacional antiga que eu amo: Pico da Neblina, dirigida pelo Kiko Meirelles. Ele também fez Pssica, que é muito legal.

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