O Brasil tem um nome para o Oscar 2026: e é O Agente Secreto
- Rafael Carvalho

 - 10 de set.
 - 4 min de leitura
 
Reflexões de última hora sobre os rumores e as reais possibilidades do país na premiação.

Divulgação
Nas últimas horas, começaram as especulações sobre a possibilidade de uma surpresa na escolha do representante brasileiro para o Oscar 2026, que vai ser escolhido apenas na próxima segunda-feira (15). Não pretendo fazer um texto longo ou extremamente didático, até porque trabalhamos esse assunto com vocês ao longo de todo o ano. Mas é de conhecimento geral que O Agente Secreto é o grande nome do cinema brasileiro em 2025.
E que ano para o nosso cinema! Tivemos O Último Azul em Berlim, conquistando o Urso de Prata; a fantástica jornada de festivais de Manas, que ainda rendeu um prêmio especial para a diretora Marianna Brennand durante o Festival de Cannes; o nosso Ainda Estou Aqui, que trouxe para casa o tão sonhado Oscar de Filme Internacional, e, principalmente, o pernambucano O Agente Secreto, que saiu do Festival de Cannes como o filme MAIS PREMIADO da edição.
Não me entendam mal: gostei bastante de O Último Azul e de Manas. O simples fato de estarem no páreo para representar o país já é fantástico. Inclusive, acredito que seriam escolhas excelentes em outros anos. Mas, em um ano como esse, simplesmente não tem como competir.
Na matéria em que destrinchei cada um dos inscritos, destaquei dois panoramas (até então) principais: o de O Último Azul e o de O Agente Secreto. Sobre o filme de Kleber Mendonça Filho, escrevi:
“Marcando o retorno de Kleber Mendonça Filho à direção de um longa-metragem ficcional, ‘O Agente Secreto’ já pode ser considerado um dos maiores filmes brasileiros desta década. Em termos de relevância e força internacional, a produção se destaca de forma impressionante. Para ser ainda mais direto: em diversos parâmetros, trata-se do segundo maior filme brasileiro recente - ficando atrás apenas do nosso vencedor do Oscar, ‘Ainda Estou Aqui’.
A estreia aconteceu na prestigiada competição oficial do Festival de Cannes, que há anos se consolidou como um dos principais termômetros para o Oscar de Filme Internacional. Lá, ‘O Agente Secreto’ foi o título mais premiado da edição, conquistando quatro troféus: Melhor Direção (Kleber Mendonça Filho), Melhor Ator (Wagner Moura), o Prêmio FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema) e o “Art et Essai”, concedido pela AFCAE (Associação Francesa de Cinema d'Art et d'Essai). Durante o festival, o longa foi adquirido pela distribuidora NEON, reconhecida pelo histórico vencedor de prêmios, garantindo estreia em novembro nos Estados Unidos com uma boa presença em salas - um passo decisivo para aumentar sua visibilidade entre os votantes. Antes disso, o filme ainda circulará por festivais fundamentais na temporada de premiações, incluindo o 50º Festival de Toronto, o Festival de Telluride e o 63º Festival de Cinema de Nova York.
Acredito que todos esses fatores reforçam ‘O Agente Secreto’ como o candidato mais competitivo do Brasil neste ano. A combinação entre prestígio, reconhecimento internacional, estratégia de distribuição e presença em festivais-chave o coloca em uma posição praticamente incontestável. Só um grande choque poderia impedir sua escolha - algo que, vale lembrar, já aconteceu com Kleber Mendonça Filho no passado, quando 'Aquarius' acabou preterido, apesar de sua forte presença internacional e aclamação crítica.”
E sigo batendo nessa tecla: nenhum outro filme tem tanto potencial quanto o protagonizado por Wagner Moura. Manas é um filme lindo e importante, mas mesmo com o apoio de Sean Penn e o anúncio de distribuição nos EUA pela KimStim - distribuidora que, vale ressaltar, não tem histórico relevante no Oscar - dificilmente conseguirá competir em igualdade de condições com a força que O Agente Secreto já demonstrou e terá de apoio da NEON, mesmo com a distribuidora tendo outros filmes para administrar.
E o que aprendemos com Ainda Estou Aqui? Que o Oscar é feito de campanha, lobby, visibilidade e, acima de tudo, constância. Não adianta querer reinventar a rota e torcer para que a visibilidade surja depois.
Por que não aproveitar o filme que já começou sua campanha, percorreu uma trajetória impecável nos festivais e esteve presente nos principais veículos da temporada de premiações (Variety, Deadline, THR, The Wrap…)? O Agente Secreto já está sendo visto por críticos e pela indústria, e a NEON inclusive já realizou uma sessão especial em Los Angeles para membros da Academia e de outras associações. Isso sem falar no peso de estar em destaque em festivais estratégicos. Galera, a combinação Cannes-Telluride-TIFF-NYFF-LFF é espetacular, poucos filmes conseguem um impulso tão forte. Vamos realmente desperdiçar isso?
Outro ponto que alguns levantam é a possibilidade de termos dois filmes brasileiros indicados. Seria o melhor dos mundos, mas será mesmo viável? O Agente Secreto não é Anatomia de uma Queda, como alguns querem comparar. O longa francês venceu a Palma de Ouro, tinha trechos falados em inglês (o que o tornava mais acessível) e, além disso, vinha da Europa, o que, na corrida do Oscar, já coloca qualquer filme dez degraus acima. E, no fim, a França não o escolheu, preferiu enviar O Sabor da Vida, uma decisão polêmica que, no fim, se provou equivocada, já que o filme sequer chegou à lista final de indicados da categoria Internacional. No caso Brasil, caso o filme do Kleber não seja enviado? Minha teoria: O Agente Secreto não vai receber nenhum impulso da NEON, incluindo para o Wagner, nosso selecionado terá que lutar para ser visto, mesmo com o apoio de grandes nomes da indústria que o apoiarem.
Percebam: em nenhum momento foquei em qualidade ou na pessoalidade dos envolvidos. Porque, no fim das contas, o Oscar não se importa com isso. O que realmente importa é o filme estar sendo visto, comentado e discutido. Agora, respondam: qual dos nossos inscritos já tem, ou está tendo, esse alcance sem precisar correr atrás da sorte?
Agora é esperar segunda-feira para descobrirmos quem será o escolhido.





