top of page
Background.png
capa-cabeçalho-site.png

Crítica | Nickel Boys

Foto do escritor: Ávila OliveiraÁvila Oliveira

Filme insere espectador em uma sensível narrativa de lembranças com formato genial

Foto: Divulgação


O drama conta a história de Elwood e Turner, dois adolescentes negros que se conhecem no reformatório Nickel durante a década de 60 na Flórida, EUA. Adaptado de um romance homônimo, o longa-metragem narra a poderosa amizade entre os jovens que passam juntos pelas angustiantes provações do terrível lugar onde criaram um vínculo poderoso.


Que trabalho primoroso RaMell Ross – diretor e roteirista – desenvolve nesta produção. Junto com uma equipe que entrega um esforço caprichado em dar vida a uma história de forma inventiva, ele cria um milagre visual e narrativo que enfatiza a riqueza do simples, e aborda uma temática social negra dolorosa com requinte e respeito. O filme é baseado no romance de mesmo nome do autor Colson Whitehead, um dos mais premiados e venerados da literatura estadunidense contemporânea, que por sua vez é inspirado na polêmica Florida School for Boys, fechada em 2011 e conhecida por seu história de abusos e violência, dos mais diversos tipos, para com os alunos da instituição.

É um filme consolidado em cima da riqueza dos detalhes e no lirismo do ordinário. Por mais que o resultado imprima uma “simplicidade” em relação a tantos malabarismos visuais pelos quais o cinema estadunidense se tornou conhecido, seu alicerce é riquíssimo em recursos habilidosos e lúdicos que compõem uma estética funcional, antes de qualquer outra coisa, para a arquitetura do roteiro.

Foto: Divulgação


Em tempos em que, para se considerado bom por um grupo seleto encabeçado por jovens internautas, um roteiro adaptado precisa ser um “copia e cola” ipsis litteris ao texto base para ser considerado bom, RaMell Ross e Joslyn Barnes trazem frescor ao inserir a perspectiva dos protagonistas no plano da câmera. O romance é contado em terceira pessoa, por um narrador observador, e o que o bem articulado roteiro faz é transformar esse argumento em um texto em primeira pessoa. Começando com a perspectiva de Elwood que conduz o enredo até o reformatório Nickel, e ao conhecer Turner, também passa a ter seu ponto de vista filmado, de modo que naturalmente as histórias dos rapazes vão se fundir e montar o mosaico de perspectivas com um engenharia de POV e campo e contracampo simplesmente brilhante.


O rigoroso trabalho da direção de fotografia, e do desenho de som são os principais aliados na estrutura técnica para o bom desempenho do filme. O que é mostrado (e como é mostrado) em cena é sempre relevante, da mesma forma que os momentos em que uma tela escura de possíveis olhos fechados faz o desenho de som ser o guia por entre um suspense cruel e cru. Além disso, a montagem que sabe quando alternar os pontos de vista com inserções de fotografias, de vídeos e de textos que ligam os diferentes tempos do filme e fortalecem ainda mais a robustez do texto. Existe tanto sentimento e tanta verdade que cada segundo parece precioso, parece caro, parece importar mais do que anterior e menos do que o seguinte.


Os atores Ethan Herisse e Brandon Wilson estão deslumbrantes em suas entregas e em suas conduções, e a atuação poderosa e convergente de Aunjanue Ellis é um espetáculo à parte. Hattie, a avó de Elwood, serve de contrapeso para as memórias afetivas do personagem em meio às desventuras e a grandiosa atriz sabe fazer bastante sem precisar de barulho, de excessos e de apelos exagerados.


É uma produção complexa em sua “simplicidade” já citada. Complexo na forma e na mensagem. É um trabalho primoroso enquanto resultado cinematográfico e enquanto registro, tão realista quanto necessário numa história “quase real”, de beleza, de resistência, de hipocrisia, de insensibilidade e de dor.


Nota: 5/5


0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page