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Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | Pobres Criaturas

Excêntrico, feio, sujo e irresistivelmente encantador

Foto: Divulgação


O diretor grego Yorgos Lanthimos já havia marcado o cenário do audiovisual com sua estranheza há algum tempo. Filmes como O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado estão sempre sendo lembrados e aclamados por quem já os viu. Em 2018, seu trabalho finalmente ganhou aclamação no Oscar, recebendo 10 indicações por A Favorita, onde trabalhou pela primeira vez com Emma Stone, e em 2023, reprisando a parceria entre os dois, fomos agraciados com a existência do tão aguardado Pobres Criaturas, que chega aos cinemas brasileiros no início do próximo mês. Com 11 indicações à 96ª edição do maior prêmio do cinema, a adaptação da obra de Alasdair Gray se torna um espetáculo nas mãos de Lanthimos, e seu trabalho em tela é nada menos que um primor.


O enredo nos mostra Bella Baxter, que é trazida à vida pelas mãos de Godwyn Baxter, que toma a responsabilidade de criá-la e cuidá-la, enquanto ela se desenvolve como uma pessoa. Quando alcança certo ponto de pensamentos, ela decide se aventurar pelo mundo para conhecê-lo, e assim passa por diversas situações que culminam para seu amadurecimento e crescimento pessoal, fazendo da garota ingênua uma mulher livre e decidida.


Há tantos pontos ótimos nessa produção e tanta vida na história, que inicialmente me senti perdido sobre por onde começar a escrever, e nenhum texto que eu faça vai fazer jus ao quão magnífico o filme é, nem conseguirei expor em palavras tudo que ele me fez sentir. Então vou trazer tudo pro terreno mais seguro e humano e iniciar falando pelo que há de maior: Emma Stone. Quando as premiações iniciaram e Stone recebeu prêmios pelo papel, levantou-se a questão de que é complicado julgar se foi merecido ou não quando ainda não tivemos chance de vê-la, e após testemunhar toda sua grandiosidade como Bella Baxter posso afirmar sem nenhum medo: ela mereceu! Sua protagonista é como um oceano onde todos os outros personagens deságuam.

Foto: Divulgação


Bella Baxter é, dentre todas as características possíveis, encantadora, e logo nos seus primeiros segundos de aparição você já enxerga a razão da aclamação de Emma, e percebe que não consegue, nem se houver muito esforço, ver outra pessoa para estar ali. É como se a Bella tivesse sido moldada para que a atriz lhe coubesse, ao mesmo tempo, o desempenho de Stone também molda a personagem, fazendo dela uma das protagonistas mais marcantes do cinema com muita facilidade. Toda a evolução de Baxter vista em tela só é possível graças à entrega visceral de sua intérprete, a forma como ela explora aquele mundo e aquela vida é nada menos que fenomenal.


Ainda no campo de atuações, mesmo com a recente indicação de Mark Ruffalo ao Oscar, e de ele estar bem no papel, o coadjuvante que mais brilha durante o longa é Willem Dafoe. Seu Godwyn Baxter é uma criatura interessantíssima, em todos os sentidos possíveis, o que é mostrado e o que fica nas entrelinhas. Dafoe traz toda a sua experiência excêntrica para um personagem à sua altura, onde se vai descobrindo detalhes no decorrer do tempo e cativando mesmo sem qualquer beleza física ou metafórica. Só que aqui ele é um deus, então por que se preocupar com coisas tão mundanas assim? Ramy Youssef, Jerrod Carmichael, Kathryn Hunter e Suzy Bemba são os outros nomes que dão vida a personagens que circulam em volta de Bella Baxter. Mesmo que em um papel pequeno, fiquei feliz em ver Margaret Qualley nas telas do cinema, e torço para que seja cada vez mais possível ela mostrar seu talento.


Temos um roteiro assinado por Tony McNamara em conjunto com a direção de Yorgos Lanthimos fazem desse longa uma obra de arte bem orquestrada. O texto de McNamara é bem amarrado e ganha ainda mais força pelo excelente trabalho de Lanthimos, que põe em tela toda a estranheza e sujeira necessárias para tornar esse filme o que ele é. O diretor tem uma postura clara em relação ao que quer que seja visto, e ele consegue dar vida à feiúra de uma história que também é tão bela. Temos ainda uma ótima fotografia e uma edição que une tudo de maneira impecável. A direção de arte é fantástica e viaja com a história e a protagonista, levando o espectador a um delírio visual maravilhoso. A trilha sonora crescente e viva que acompanha o crescimento e a evolução da protagonista, dando um tom por vezes sinistro é quase um espetáculo à parte. Tiro um momento para citar o uso de interlúdios tão bonitos que parecem quadros vivos retirados das décadas passadas.


Por fim, valeu muito a espera para assisti-lo. É uma obra que marca quem a assiste. É arte em todos os níveis possíveis, uma tela pintada ao vivo diante dos nossos olhos, e é gratificante poder ter a oportunidade de ver uma produção tão sublime.


Nota: 5/5


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