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Crítica | Corra Que a Polícia Vem Aí

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura

Mesmo nem sempre acertando no timing das piadas, novo capítulo da icônica franquia mostra que ainda há espaço para a comédia besteirol no cinema.


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Divulgação


Poucos gêneros sofreram tanto com as mudanças no cinema nos últimos anos como a comédia, relegada aos streamings por ser considerada “pouco rentável” diante da febre dos blockbusters. Pior ainda é o caso do subgênero da comédia satírica, ou o famoso “besteirol”, que se popularizou graças às produções dos irmãos Zucker e Jim Abrahams, como Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu e a trilogia Corra que a Polícia Vem Aí, mas que parecia ter encontrado seu último respiro nos anos 2000 com um sem-número de produções de qualidade questionável e humor forçado e apelativo.


Por isso, ver uma produção como este novo Corra Que a Polícia Vem Aí ocupar espaço nas salas de cinema é revigorante, especialmente porque o filme, mesmo longe de perfeito, consegue capturar a essência dos seus antecessores e do subgênero da comédia besteirol como um todo. Mesmo imerso na onda de sequências-legado, o filme nunca se limita a isso e faz desse legado uma piada em si mesmo, como na sequência em que Frank Drebin Jr. (Liam Neeson) se curva perante o retrato de seu pai (o saudoso Liam Neeson), bem como outros personagens filhos e descendentes daqueles vistos na trilogia original... com exceção do filho de O.J. Simpson.


O diretor e corroteirista Akiva Schaffer se revela uma escolha acertada para o filme, dado o seu trabalho com o projeto Lonely Island e em Popstar: Never Stop Never Stopping, uma das melhores comédias dos últimos anos. Ele entende que em certos aspectos a comédia besteirol precisa se atualizar para os novos tempos, mas consegue fazer isso sem se prender a um moralismo disfarçado de politicamente correto, capturando a essência absurda desse tipo de filme. Assim, se vemos a figura do policial ser ridicularizada do primeiro ao último momento — algo necessário depois de vermos casos como o de George Floyd —, Schaffer consegue fazer com que possamos rir com e destes personagens, mantendo a trama ao mais básico possível, seja nos elementos do cinema noir ou no plano ridiculamente megalomaníaco do vilão a la Elon Musk.

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A escolha de Liam Neeson também se mostra outro grande acerto, justamente pelo seu histórico com longas policiais e de ação brucutus feitos nos últimos 15 anos. Tal qual Nielsen, o segredo aqui é manter a seriedade do ator e do personagem como um artifício humorístico em si mesmo (ainda que particularmente ache que Nielsen era mais bem-sucedido nesse aspecto). Quem também surpreende é Pamela Anderson neste papel de femme fatale, construindo uma ótima química com Neeson — e que como as últimas notícias têm mostrado, evoluiu para a vida real.


Embora o filme nem sempre acerte no timing das suas piadas — algumas cansam rápido, ou se prolongam por demais, além de toda uma questão de contexto linguístico e geocultural inerente às comédias que pode ser perdida pelo público estrangeiro —, o saldo é imensamente positivo. Sequências como a da câmera corporal ou da infravermelho (que me fez chorar de rir como há muito tempo não acontecia), o minibloco com o boneco de neve assassino, a sequência inicial no banco que já dá todo o tom absurdo e galhofa do filme, dentre tantas outras, são lembretes de que é muito possível se fazer comédia besteirol — e das boas — no cinema atual.


Nota: 3.5/5

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