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Crítica | Morte e Vida Madalena (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 1 dia
  • 2 min de leitura

Uma divertida e carinhosa comédia de erros sobre o fazer fílmico independente

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Foto: Reprodução


Se no atemporal poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, seu protagonista trilhava uma árdua jornada pelo sertão rumo a uma vida melhor em Recife, em Morte e Vida Madalena temos uma protagonista que trilha um sertão emocional. Diante da perda do pai e de uma gestação de oito meses, Madalena (Noá Bonoba) ainda precisa lidar com a caótica produção do último filme roteirizado pelo pai, o qual produz, resolvendo um perrengue por minuto enquanto lida com seu luto e conflitos internos.


Mas apesar dessa melancolia que permeia a personagem, o diretor Guto Parente não escolhe um caminho dramático ou sisudo. Pelo contrário: ele faz de Morte e Vida Madalena uma verdadeira comédia de erros, apostando no absurdo das dificuldades que se amontoam para complicar ainda mais a produção do filme aqui visto. Num festival que exibiu Nouvelle Vague e os bastidores da feitura de um dos longas mais clássicos de todos os tempos, o olhar de Parente se dirige ao cinema brasileiro independente, contemplando suas batalhas, mas também celebrando suas alegrias.


Se em meu texto de O Agente Secreto comentei sobre a natureza do “sotaque fílmico”, aqui vemos mais uma vez essa expressão ganhar vida, conforme Parente incorpora os elementos do sci-fi que o filme dentro do filme carrega com essas marcas locais (a cena das gravações sendo interrompidas por um paredão tocando Me Usa de Magníficos foi talvez a que mais ri – e provavelmente fui o único no cinema a rir desse momento específico). Há referências a Kubrick e Fellini – no caso deste último, com a melhor piada do filme, além do caráter onírico que permeia a obra, característica autoral de Parente presente em sua filmografia.

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Foto: Reprodução


Outra característica do seu cinema reside no afeto com o qual trabalha e dá visibilidade aos corpos LGBTQIAPN+, e aqui não é diferente. A escalação de Noá Bonoba como uma protagonista grávida é em si um gesto político, mas que não precisa ser verbalizado ou explicado didaticamente para que entendamos seu significado. Basta ver a segurança com a qual Bonoba vai assumindo o próprio filme a partir da jornada da sua própria personagem, permitindo que nos empatizemos com as lutas, dores e revelações da personagem (além do seu humor). Aliás, o elenco é todo um grande destaque, em especial Tavinho Teixeira neste papel como um ator veterano problemático e tresloucado.


No fim, o grande mérito de Morte e Vida Madalena é que, para além da sua natureza cômica à medida que apresenta um desastre após o outro, o filme consegue refletir como um set de filmagem pode ser um espaço tão plural – caótico, sim, mas também repleto de camaradagem e afeto. A dupla gestação de Madalena (do filho e do filme) traz um bocado de caos à sua vida, mas também imensa alegria. E assegura algumas das melhores risadas do ano no processo.


Nota: 3.5/5


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