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Crítica | Os Roses: Até Que a Morte os Separe

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • 25 de ago.
  • 2 min de leitura

Nova adaptação traz cinismo mais sutil e aposta na “inversão de papéis” para a receita do caos.


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Divulgação


Os Roses: Até Que a Morte Os Separe acompanha a vida perfeita do casal Ivy (Olivia Colman) e Theo (Benedict Cumberbatch). Tudo parece extraordinário: Ivy é uma bem-sucedida chef de cozinha com seu próprio restaurante, Theo é um arquiteto renomado, o casamento dos dois é repleto de amor e carinho e seus dois filhos são maravilhosos. Um contratempo, porém, acaba desembocando num conjunto de ressentimentos e competição que acaba com essa fachada de família de margarina e vida ideal. É assim que a tempestade perfeita se forma e uma bomba cheia de mágoas escondidas, implicâncias em público e disputas ferozes se prepara para explodir. 


A nova adaptação do romance de 1981 que aborda o desgaste de um casamento em frente a interesses conflitantes, papéis de gênero e capitalismo tardio atualiza muito bem todas estas questões com organicidade, bem encaixados num texto esperto, do premiado escritor Tony McNamara, que não esquece do humor e que sabe amarrar bem suas motivações e desdobramentos sem esfregar na cara do espectador os detalhes das implicações. Alguém que não tenha assistido ao filme dos anos 80 ou lido o livro certamente vai achar natural que a esposa aqui seja a bem sucedida e o marido o “dono de casa”, sem perceber que esta é talvez a maior das mudanças do material original. Encontrar equilíbrio entre o romance, a comédia, o drama e a abordagem de tantos temas é um trabalho que facilmente poderia ruir, mas a direção experiente de Jay Roach consegue sustentar tudo isso com leveza.


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A casa segue sendo um personagem importante na narrativa, e sua versão tecnológica também vestiu bem as necessidades criativas e cômicas dos confrontos entre o casal protagonista, refletindo as contradições entre juras de amor, poder e desejo de autonomia num mesmo lugar literal. Benedict Cumberbatch e Olivia Colman trabalham numa sintonia uníssona e souberam encontrar o mesmo tom tanto no humor quanto na tensão por vezes silenciosa. O elenco de apoio ajuda a desenvolver especialmente a via cômica do longa, mesmo achando que as situações da personagem de Kate McKinnon passem um pouco da proposta elaborada para todo o restante.


A crescente narrativa ajuda a instigar o espectador e impulsiona o texto até literalmente o seu momento final. Jay Roach deixa o melhor para seu terceiro ato e vai soltando a compostura dos personagens e do roteiro devagar, mas de forma intensa, sem esquecer que por mais que aquele enredo esteja beirando o absurdo, ainda possui um casal de humanos com questões reais a serem trabalhadas e resolvidas, seja lá da forma que for acontecer. É um tipo de comédia estilo Nancy Meyers que não se acha mais e que o Globo de Ouro dos anos 2000 iria amar.


Nota: 3,5/5



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