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Crítica | Wicked: Parte 2

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • há 6 dias
  • 3 min de leitura

Conclusão faz enxertos precisos para recontar final apressado da melhor forma possível.

Imagem: Divulgação
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O capítulo final da história não contada das bruxas de Oz começa com Elphaba e Glinda separadas, vivendo com as consequências de suas escolhas. Elphaba (Cynthia Erivo) vive no exílio, escondida na floresta de Oz, enquanto continua sua luta pela liberdade dos Animais silenciados e tenta desesperadamente expor a verdade que conhece sobre O Mágico (Jeff Goldblum).  Enquanto isso, Glinda se tornou o glamouroso símbolo da Bondade para todo o reino de Oz - ela vive no palácio da Cidade das Esmeraldas e desfruta das vantagens da fama e da popularidade. Sob a orientação de Madame Morrible (Michelle Yeoh, vencedora do Oscar), Glinda tem se tornado um conforto efervescente ao povo de Oz ao tranquilizar as massas de que tudo está bem sob o governo do Mágico.


O segundo ato da peça Wicked é uma bagunça. O encerramento é apressado, alguns personagens de O Mágico de Oz aparecem sem a mesma importância que outros, o arco da crueldade com os animais simplesmente deixa de ser mencionado, e além de isso tudo possui as músicas menos marcantes (ou pelo menos as menos populares) do espetáculo. Então, para mim, é impossível avaliar Wicked: Parte 2 sem levar em consideração isso tudo, e que é, obviamente diferente da peça, uma capítulo à parte do primeiro filme. E o longa soube bem preencher, bem, a maioria pelo menos, das lacunas da obra de teatro.


Uma das principais forças dessa produção está na permanência da química entre Cynthia Erivo e Ariana Grande. As duas retomam com naturalidade a sintonia emocional apresentada no primeiro longa e mais uma vez percorrem um alcance cênico que vai do humor ao drama em segundos sem perder coerência com as trajetórias de suas personagens. Ambas entregam performances vocais de alto nível, preenchendo os espaços invisíveis das cenas com interpretações que soam orgânicas, precisas e profundamente sentidas.

Imagem: Divulgação
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Os números musicais continuam bem planejados e coreografados, utilizando cenografia, iluminação, sombras e enquadramentos diferenciados para ampliar a intensidade das ideias que cada canção pretende transmitir. A sequência As Long As You’re Mine, No Good Deed e For Good seguem uma curva ascendente de emoção que praticamente salta da tela, alcançando o espectador de forma quase física graças à sensibilidade das atrizes e do desenho musical que acompanha a narrativa visual com a força necessária. Também é possível perceber que os animais finalmente recebem a atenção devida, tendo seus conflitos valorizados e conduzidos a uma conclusão que, na peça,  se finda de maneira abrupta demais. Além disso, o trabalho recebe duas novas músicas que acrescentam camadas às protagonistas, reforçando dilemas internos e motivações que ajudam a enxergá-las com ainda mais profundidade. Ariana Grande, em especial, confirma seu domínio pleno da personagem, entregando presença, maturidade emocional e carisma inquestionáveis.


Ainda assim, mesmo com os acréscimos bem incorporados, algumas conexões com o enredo de O Mágico de Oz continuam parecendo um pouco deslocadas, como se a necessidade de justificar pontos específicos pesasse mais do que a fluidez orgânica da narrativa. A conclusão propriamente dita, especialmente os últimos trinta minutos, segue com ritmo ligeiramente apressado, como se a produção ainda estivesse equilibrando fidelidade ao material original e a obrigação de dar respostas ao público. No fim, é uma obra mais contida que a anterior, menos festiva e também menos óbvia em suas mensagens. É justamente no segundo ato que Wicked revela a complexidade real de suas personagens, mostrando que não existem dualidades absolutas e que os vínculos de afeto se constroem em caminhos sinuosos que às vezes se cruzam e às vezes se afastam, mas que, no fundo, seguem uma direção comum, a da construção de quem cada uma deseja ser. O resultado é bonito, é denso, e não desanda apesar das falhas.


Nota: 4/5



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