Entrevista | Diretor e protagonistas de "O Melhor Amigo" conversam sobre o filme
- Ávila Oliveira
- 12 de mar.
- 7 min de leitura
Allan Deberton, Gabriel Fuentes e Vinícius Teixeira conversaram com o Oxente, Pipoca a respeito do musical cearense que estreia nesta quinta (13).

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Chega aos cinemas no dia 13/03 o segundo longa-metragem do cineasta cearense Allan Deberton, O Melhor Amigo. Os atores Vinicius Teixeira e Gabriel Fuentes estiveram em Fortaleza na última segunda-feira (10) para atender a imprensa e participar da pré-estreia na capital cearense.
O Oxente Pipoca teve a oportunidade de conversar com o diretor antes de assistir ao filme, e você pode conferir a entrevista na íntegra aqui no site. Nossa crítica do musical também está disponível.
Dessa vez, podemos entrevistá-lo junto dos atores, oportunidade em que falaram sobre os desafios de fazer um filme musical, seus personagens e o litoral do Ceará.
Ávila Oliveira: Bom, eu já me declarei para os três na minha crítica, mas queria dizer pessoal: Parabéns, pelo trabalho. O filme já é um evento por si, por ser um musical, por ser nordestino, pela representatividade, e apenas por isso ele já tinha se validado. Mas ele ainda é bem filmado, divertido e muito gostoso de assistir. Quero começar conversando com o Gabriel. Esse é o seu primeiro trabalho com cinema e você já chegou grandão, fazendo um protagonista que canta, que dança, que sobe na mesa, que dirige buggy nas dunas e que sensualiza no palco. Como é que foi pra você encarar isso tudo num primeiro papel? E não só por essas habilidades, mas pela complexidade do personagem que tem uma pinta de galã e seguro de si, mas que também tem várias incertezas e questões mal resolvidas.
Gabriel Fuentes: Olha, foi muito gostoso dar vida ao Felipe, mas também foi muito desafiador. É isso que você falou, ele tem essa postura de moreno alto, bonito e sensual, que vive no seu habitat natural, pé na areia, bugueiro, e quando ele encontra o Lucas acontecem muitas coisas com ele internamente. É um atravessamento de questões. Mas em relação a construção eu acredito que todo personagem que chega para nós atores já existe um pouco dele na nossa humanidade. Acho que existe muita coisa do Felipe em mim e muita coisa do Gabriel no Felipe. Eu busquei muito nas minhas referências concretas e nas minhas vivências.
Bebi da fonte de pessoas que estão ao meu redor e que eu consigo encontrar e ver as realidades. E teve também a nossa preparação. Fui para Canoa, passei vários dias lá, passei um tempo conversando com vários bugueiros. Lembro que um bugueiro passou quase uns 20 minutos conversando comigo e a maravilhosa Georgina Castro, que foi nossa preparadora de elenco, uma atriz fenomenal, olhava para mim dizendo “Gab, já deu, né?”, e eu queria continuar ali porque ele contava tantas histórias boas, sabe?
Então foi desafiador e maravilhoso. E como você citou, é meu primeiro trabalho no cinema. E, além disso, cinema queer, tem essa grande responsabilidade, além do fato de ser rodado no Nordeste. E também a questão de ser musical, que é um gênero que eu adoro e que eu consumo, mas que era distante de mim. Mas chegou e eu agarrei com unhas e dentes e dei meu melhor como sempre faço em todo trabalho, me entrego de corpo, alma e coração. Eu acho que tem que existir muita verdade, muita entrega e eu acredito que nesse trabalho isso existiu. E eu quero fazer cinema para a vida, cara. Já joguei pro universo e tem muita coisa voltando, outros projetos e eu estou muito feliz de ter começado aqui.
Ávila: Vinicius, você já tem um passado com o teatro musical. Inclusive na conversa que tive com o Allan antes de eu ver o filme ele tinha comentando da montagem de O Livro de Mórmon que você participou, e que o Leo Bahia também estava. E por mais que sejam linguagens diferentes, você acha que o essa sua vivência com o teatro musical te ajudou com a preparação para O Melhor Amigo?
Vinicius Teixeira: Totalmente, acho que fez muita diferença, me passou mais segurança. Eu sou ator, não sou cantor nem bailarino, mas já estive nesses lugares. Já tive que cantar num palco com pessoas olhando, já tive que ensaiar coreografias, então fica uma memória física dessas situações, o corpo guarda. Mas é difícil, não é algo simples, fazer musical tanto no teatro quanto no cinema é um trabalho pesado.
E teve também a questão de equalizar todas as coisas do personagem e do musical. Porque esse é um musical daqueles que convida o público a participar, é animado, é solar, é explosivo, mas é um filme cheio de camadas e sutilezas. O meu personagem especificamente é retraído, muito tímido, com problemas de autoestima. E aí é quando uma coisa bate de frente com a outra. Então dar conta de tudo isso na linguagem do cinema que te expõe de uma forma diferente do teatro também foi um desafio. Por isso, essa experiência de antes me deu mais calma e confiança, já ter passado por algo semelhante me dava mais convicção de que tudo daria certo.

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Ávila: Allan, a gente conversou antes sobre o seu curta que inspirou este filme. Você passou alguma recomendação em relação ao curta para o Vinicius e para o Gabriel? Porque existem ali as mesmas situações do restaurante e da colher, mas são contextos bem diferentes nos dois filmes.
Allan Deberton: Não foi um encaminhamento. Eu falei para eles da existência do curta, inclusive o Vinicius falou que já tinha assistido e bebeu daquela fonte porque a essência dos filmes era basicamente a mesma. Mas eu já havia recortado na proposta do longa os principais elementos do curta. A manutenção dos personagens, as cores, as texturas, o curta também já tinha uma certa musicalidade, tem ali uma performance de dança. Porém o curta seguia uma ideia mais experimental, tinha um aspecto mais dramático, mais introspectivo porque era centrado no sentimento dos dois personagens apenas. E no longa a gente manteve isso, mas quis tornar tudo mais exuberante. Trouxemos a exuberância nas locações, na música, nos outros personagens.
E essa exuberância veio para contrastar com o introspectivo do Lucas, que é contido e reprimido. Mas agora ele lida com isso de forma diferente do que no curta, em que ele silenciava, se boicotava, ficava entristecido, e no longa essa fase não dura muito porque ele tem na mão um aplicativo, porque ele sai para a noite, conhece outras pessoas, então de alguma forma traz uma atualização para essa história que é muito real, sabe? E se eu quisesse eu poderia tornar ainda mais real no sentido físico, carnal, com cenas mais picantes e tudo mais, mas ao fazer isso, talvez eu perdesse também o público que para mim era muito importante, que era o público do curta, que era um público que está se conhecendo e se iniciando, na identidade, na descoberta sexual.
Então, o desafio do longa foi manter todos os fundamentos do curta, mas ao mesmo tempo atualizar a história e seus personagens no tempo. E ao mesmo tempo, como realizador, eu tendo 42 anos, quis trazer essa musicalidade que carrego dentro de mim para o hoje. Eu nasci em 1982, então a década de 80 é muito representativa para mim, sabe? Muitas das músicas são dos anos 80. De alguma forma também parecia que ao fazer isso eu estaria me conectado com os meus, pessoas que eu me envolvi, pessoas que eu conheci e que de alguma forma poderia estar junto no projeto.
Ávila: O Allan já me falou antes também da importância de Canoa Quebrada para ele e de como ele quis passar isso no filme. Vocês já conheciam Canoa Quebrada? E se não quais foram as impressões do lugar?
Vincius: Eu não conhecia, foi a primeira vez quando vim para a preparação e depois para filmar. E eu me apaixonei por Canoa, eu acho que Canoa é um personagem do filme, acho que o lugar afetou a gente no processo. Quando dava uma pausa nas gravações e ia almoçar, a gente parava e ficava olhando pro mar, e trabalhar com um cenário daquele e vivendo aquele lugar era surreal, a energia de lá é muito gostosa.
E acho importante falar também da Fortaleza e da equipe de Fortaleza que estava no filme: a Barbada, a Deydianne, a Mumu, a Souma, acho que elas foram determinantes para o resultado do filme e de todo o processo. O Ceará contagiou a gente, a gente foi muito abraçado por toda a equipe.
Gabriel: Nossa, eu também fiquei apaixonado e falei que eu quero voltar para passear o quanto antes. Eu sou mineiro, mas eu moro no Rio e poder vir rodar no Nordeste, que é uma região que eu sou apaixonado, foi uma oportunidade incrível. Eu acho que realmente o Nordeste está muito à frente do restante do Brasil, culturalmente, politicamente falando também. Então eu sinto a necessidade de fazer um pedido de licença para estar aqui, sabe? Para dar voz a esse personagem que é de Canoa. Foi um privilégio ter estado ali nas vezes que estive. Quando eu cheguei pela primeira vez eu fiquei encantado e me remeteu a energia boa que eu sinto em Búzios, no Rio de Janeiro. Tudo é encantador, as barraquinhas, a Broadway… teve um bar que a gente gravou que não estou lembrando o nome…
Vinicius: Bar Caverna.
Gabriel: Isso, o Bar Caverna! A gente foi, conheceu, frequentou, entendeu como funciona. E as praias dispensam comentários.
Ávila: Sempre que a gente posta algo sobre o filme nas nossas redes sociais, a gente recebe todos os tipos de comentários de pessoas dizendo o quanto estão ansiosos pelo filme. Vocês já receberam algum retorno, mensagem ou relatos ou expectativas para O Melhor Amigo?
Vinicius: Sim! O trailer saiu e foi a primeira vez que a gente viu o filme ter contato com um público maior. E muitas pessoas mandaram mensagem. Acho que uma coisa que foi muito legal, foi ver muitas pessoas da comunidade LGBT mandando mensagem dizendo: "Meu Deus, tô muito feliz e muito animado para ver um filme que fala sobre a nossa comunidade de uma forma tão solar, tão alegre, tão feliz e tão romântica. Porque a gente tem muitos filmes com temática LGBT no Brasil, mas a maioria foca no drama e nas dificuldades de ser uma pessoa LGBT aqui, e isto é super importante e relevante, mas é importante também ter um filme leve com uma visão mais divertida. É importante a gente se ver num lugar de celebração, de amizade e de parceria.
Allan: Eu quis fazer um filme para ter como referência positiva, como se fosse um filme “Sessão da Tarde” sendo LGBT, que pudesse passar por vários gêneros, que fosse divertido, que tivesse músicas conhecidas e que atingisse público de várias idades.