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Foto do escritorVinicius Oliveira

Entrevista | Diretora de “O Estranho” fala do trabalho sobre ancestralidade no longa

Flora Dias conversou com exclusividade com o Oxente, Pipoca?

Foto: Divulgação


Hoje (20), estreia nos cinemas nacionais O Estranho , co-dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon. O filme é ambientado no aeroporto de Guarulhos, o qual foi construído sobre solo indígena, e acompanha Alê (Larissa Siqueira), uma funcionária de pista cuja história familiar foi sobreposta pela construção do aeroporto, cujas memórias e o futuro dela e de seus companheiros estão permeados por uma questão em comum: rastros de um passado em território em constante transformação.


Em entrevista para o Oxente, Pipoca? , Flora Dias contou que, inicialmente, a ideia era que o filme se passasse em um aeroporto não-especificado, reforçando a ideia de “não-lugares” cunhada por Marc Augé, que se refere à natureza transitória e ausência de conexões humanas nesses espaços. Porém, à medida que a personagem Alê foi sendo construída, a equipe chegou à conclusão de que o aeroporto de Guarulhos era o ambiente ideal para o filme se passar.


A própria cidade em si se revelou uma surpresa positiva para a própria produção da obra. “A gente começou a estudar a história da cidade e fomos sendo surpreendidos. Guarulhos é um território múltiplo, com muitas camadas, e quanto mais a gente mergulhava nas coisas mais o filme ia crescendo”, afirmou Flora.

Foto: Divulgação


Para ela, a questão da ancestralidade se conecta a um espaço como um aeroporto através da jornada de Alê na trama. “Ela olha para esse território e se lembra de algo que foi soterrado pelo aeroporto. Ela se emana desse território, e ao se aproximar dele se funde a ele também. A própria história dela foi alterada e violentada (...). Ela é amiga do rio e até conversa com ele, tá próxima das matas e vê a terra surgir por debaixo do concreto”, disse.


O trabalho com o elenco, que envolveu atores profissionais e não-profissionais, foi pautada por muita sensibilidade e imersão, de modo que tanto os atores levavam aspectos seus para os personagens quanto vice-versa. Flora ainda destaca o tamanho minúsculo da equipe de produção — apenas 11 pessoas no set —, o que acabou por formar uma espécie de família marcada pela cumplicidade e apoio.


No que se refere às diferentes linguagens e estéticas adotadas durante o filme, Flora revela que essa era a ideia desde a versão inicial do roteiro, mesclando elementos ficcionais e documentais para atender a proposta do longa. Como exemplo, a cena em que Alê e dois colegas dançam kuduro no meio do saguão do aeroporto nasceu de um momento em que a diretora assistiu a dois funcionários do espaço fazerem uma rápida dancinha antes de voltarem a trabalhar como se nada tivesse acontecido.


Instantes fugazes como esses são, portanto, possibilidades de se questionar a lógica elitizada de ambientes como o maior aeroporto do país, e tais questionamentos só poderiam ser possíveis com a recusa a enquadrar O Estranho dentro de um gênero ou lógica pré-concebida. “Eu não acredito muito nessa oposição de ficção e documentário, cinema é sobre é sobre narrar na maneira que for preciso, como as coisas pedem para ser narradas”, disse Flora.

Foto: Divulgação

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