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Entrevista | Wagner Moura fala sobre O Agente Secreto, prêmios e cinema nordestino: “Estou preparado para o que vier”

  • Foto do escritor: Aianne Amado
    Aianne Amado
  • 11 de out.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 13 de out.

Em entrevista ao OP, Wagner Moura discute o cinema nordestino, a esperança que resiste no Brasil — e diz estar pronto para a temporada de premiações

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Foto: Aianne Amado (Oxente Pipoca) e o ator Wagner Moura no Festival do Rio 2025


Na manhã do dia 7 de outubro, o Oxente Pipoca, representado por mim, participou da cabine de imprensa de O Agente Secreto, como parte da programação do Festival do Rio. Quando a sessão terminou, os aplausos se estenderam pelos créditos e, à medida que as luzes se acendiam, reparei no semblante extasiado dos meus colegas. Percebi que o meu provavelmente era o mesmo.


Costumo evitar qualquer informação prévia sobre os filmes que quero assistir — aprendi, ao longo da minha jornada cinéfila, que criar expectativas pode comprometer a experiência concreta. Mas, com O Agente Secreto, isso era impossível. Desde a estreia em Cannes, o longa vem surfando numa campanha orgânica, sendo apontado como o sucessor natural e imediato de Ainda Estou Aqui — o que, convenhamos, não é pouca coisa. Some-se a isso o fato de o filme ser escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e protagonizado por Wagner Moura, dois artistas que admiro e acompanho há tanto tempo, e já não havia qualquer chance de conter as expectativas.


Felizmente, esse foi um daqueles raros casos em que elas não apenas não atrapalham, como são superadas. Ainda durante a exibição, por volta de dois terços do filme, me peguei pensando que estava diante de algo realmente especial. Assim que cheguei do cinema, não contive o entusiasmo e gravei um vídeo para registrar minha reação. Eu simplesmente não queria parar de falar sobre aquilo. E, para minha sorte, não precisei. Algumas horas depois, tinha marcada uma conversa com o próprio Wagner Moura.


A assessoria de imprensa me apresentou com meu nome seguido de “ela é sergipana!”, o que abriu um sorriso no rosto do ator. Antes de iniciar a gravação, trocamos algumas palavras e contei que, além da minha atuação no OP, também dei aulas no curso de Cinema da Universidade Federal de Sergipe. Ao final, quando fomos apressados para sair e dar espaço ao próximo veículo, Wagner me puxou e perguntou sobre a cena sergipana.

A entrevista aconteceu em um hotel em Copacabana, pouco antes do tapete vermelho do filme no festival.  — e você pode lê-la, na íntegra, a seguir.

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Foto: Reprodução


Aianne Amado: nossa página é do Nordeste, então, a nossa primeira pergunta vai ser sobre Nordeste, que é um local que já trouxe um nomes muito importantes para o cinema – desde o Cinema Novo de Glauber Rocha até o cinema popular de Renato Aragão –, as ainda assim, a gente costuma ser visto mais como um local, como um cenário.  Como você acha que o cinema de Kleber Mendonça tem conseguido espaço nessa disputa simbólica?


Wagner Moura: Olha, eu acho que, em primeiro lugar, o cinema de Recife foi a vanguarda do cinema brasileiro há muito tempo, né? Assim, não só Kleber – a gente pode falar do Gabriel Mascaro, que acabou de ganhar também lá Berlim, mais Cláudio Assis, Lírio, Paulo Calda. É um cinema que… eu não sei o que tem na água de recife que eles bebem, que eles fazem esses filmes maravilhosos. 


Mas eu sinto também que hoje há mais chances de você ter cineastas do Nordeste, de outras partes do Brasil, com essa coisa de descentralização da das verbas públicas, do que na época que eu fazia cinema. De fato, quando eu comecei a fazer cinema, era pouco mesmo, assim, nordestino.  A gente conseguiu filmar  Cidade Baixa, em Salvador, um filme de Sérgio Machado, diretor baiano, mas que fez a vida dele fora pela VideoFilmes, voltou. Hoje você tem os cineastas da Bahia lá,  filmando lá com produtores lá. Tem a faculdade do Recôncavo, ali na Bahia também, né? A sua lá, em Aracaju… Eu acho que há a probabilidade é de que surjam cada vez mais e mais talentos, pegando esse gancho do das verbas públicas.


AA: Em maio a gente fez uma entrevista sobre Ladrões de Drogas,  e você falou: “triste do país que faz dos dos seus artistas os inimigos do povo”. E desde maio você tem vivido uma relação intensa com o público brasileiro. Você acha que a gente está um país menos triste, tem se construindo uma relação mais forte entre artista e sociedade?


WM: Acho. Eu falei várias vezes isso, a relação do público com Ainda Estou Aqui foi muito bonita. Acho que foi um negócio… as pessoas torcendo por aquele filme, querendo que aquele filme… dizendo: "esses artistas me representam, esse filme me representa", sabe? Eu achei isso a coisa mais bonita de todo o processo extraordinário de Ainda Estou Aqui internacionalmente, para mim o que mais me impressionou foi isso. Porque a gente vive ainda [um discurso de rejeição às artes], né? Eu tô fazendo uma peça baseada no Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, [porque] isso me inquieta muito isso. 


E conversa muito com O Agente Secreto. Porque tanto O Agente Secreto como O Inimigo do Poo, são dois personagens que sofrem injustiça muito grande e lidam com essas injustiças de forma diferente, mas sofrem injustiças não pelos seus defeitos, mas pelas suas qualidades, por fazerem o que eles acham que é certo.


AA: E agora sobre a sua atuação como Marcelo, que se constrói num jogo bem delicado entre alguns segredos e algumas fissuras que tem que ir se revelando aos poucos. Como foi para você encontrar esse ponto de tensão entre mostrar a confusão que ele tá vivendo mas não entregar mais para o público?


WM: Foi muito interessante mesmo essa pergunta, porque eu geralmente sou uma pessoa que eu reajo a injustiças de uma forma muito veemente, explosiva, baiana. 


AA: [rindo] Retada?


WM: Retada, é. E isso termina se manifestando nos personagens que eu faço, porque os personagens são uma extensão de mim sempre, né? Uma amálgama que eu mesmo… E nesse caso, eu senti que não podia ser assim, porque esse cara, ele precisava manter as coisas sob controle, porque mais importante do que ele naquele momento era aquela criança. Como é que ele ia fazer?


E eu acho também que Kleber escreveu os personagens assim, porque essa é a temperatura de Kleber. Ele é uma pessoa assim, sabe? Que vai levando as coisas, sente as coisas… Então foi difícil mesmo manter tudo, mas eu sinto que foi um trabalho bonito de manter as emoções ali dentro. Elas aparecem aqui, mas elas estão [internas]. Você entende o que o que ele tá passando, mas ele não precisa estar externalizando isso de uma forma tão vigorosa.


AA: E você deve ter acompanhado um pouco como foi a jornada da Fernanda Torres [na temporada de premiação], ela mesma falou que foi uma grande prova de resistência. Você está preparado?


WM: Sabe por que eu tô preparado? Porque eu  estou fazendo agora o mais louco de todos, que é fazer uma peça de teatro todos os dias, enquanto divulgo [O Agente Secreto]. Então eu acho que pior que isso aqui, não tem como. Não vai ser. Eu não tenho nenhum dia de folga. Hoje é o único dia, terça-feira, é o único dia que a gente não faz a peça. 


AA: E eu estou aqui ocupando o seu tempo, desculpa.


WM: [rindo] Não, que é isso!


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