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Entrevista | Tania Vincent e Ricard Cussó falam sobre a nova animação “Deu Preguiça”

  • Foto do escritor: Ana Bia Andrade
    Ana Bia Andrade
  • 20 de mar.
  • 8 min de leitura

Os diretores do longa compartilham os bastidores da produção, desde a dublagem até o equilíbrio entre humor e emoção.

Divulgação


Em entrevista exclusiva ao Oxente Pipoca, Tania Vincent e Ricard Cussó, diretores da animação australiana Deu Preguiça, compartilham os detalhes da criação do filme. Eles falam sobre o processo de reunir uma equipe para desenvolver a ideia, a escolha dos atores ideais, como tornar a história envolvente para públicos de todas as idades e também suas animações favoritas de todos os tempos.


Deu Preguiça (A Sloth Story) conta a história de Laura, uma preguiça que se muda com sua família para a cidade grande sem nada além de um livro de receitas de sua família latina e um velho e enferrujado food truck. Porém, a deliciosa comida logo chama a atenção de uma esperta chita chamada Dotti. O filme faz parte da franquia The Tales from Sanctuary City, que já inclui seis filmes sobre animais australianos que residem na chamada Sanctuary City. A animação já está em cartaz nos cinemas de todo Brasil.


Ana (Oxente Pipoca): Primeiramente, queria parabenizá-los pelo filme. Tenho que dizer que gostei muito dos personagens e do estilo da animação. E queria perguntar: como a ideia desse projeto começou? De onde surgiu esse conceito de preguiças comandando um food truck?


Tania Vincent: Acho que nós tentamos imaginar qual animal seria engraçado de assistir comandando um food truck. Como as preguiças são bastante devagar e, quando você pensa em um food truck, imagina um ambiente muito rápido, achamos que seria um casamento perfeito. O que sabíamos que queríamos era que a filha, Laura, fosse bem rápida e que a família fosse bem devagar, mas não queríamos que a história fosse apenas sobre isso. Então, tentamos realmente nos aprofundar nesse conceito de velocidade, e ele meio que se transformou em uma história sobre tempo, memórias e o que tudo isso significa. O food truck e as preguiças eram a metáfora perfeita para contar essa história de verdade.


Ricard Cussó: Sim. Tudo começou porque a Universal, na Austrália, tinha essa ideia de criar um universo cinematográfico de animais australianos, todos interconectados entre si. Então, a equipe se reuniu em uma sala e lançamos umas dez ideias diferentes. Acho que o conceito original veio dessa sessão de pitching para a Universal e, como a Tania disse, pensamos no que seria divertido de ver em um food truck e quem estaria comandando esse food truck. Então... surgiram as preguiças!


E foi um filme muito especial para mim também porque sou da Espanha. Nasci em Barcelona e minha esposa é mexicana, então passei muito tempo no México. Foi incrível que eu finalmente pudesse codirigir um filme sobre a cultura latina. Há tantos easter eggs e pequenas ideias que colocamos lá para prestar homenagem e respeitar as tradições e a cultura do México – seja com a comida, os personagens, as cores ou os cenários. Além disso, poder dirigir em espanhol, minha língua nativa, foi incrível. Uma experiência muito, muito boa.


Ana (Oxente Pipoca): Vocês poderiam compartilhar como o processo de codireção funcionou entre vocês dois? Houve algum desafio específico ou talvez momentos memoráveis ​​durante a produção?


Tania Vincent: Eu e Ricard tivemos muita sorte porque já trabalhamos juntos muitas vezes. Comecei como animadora no filme de Ricard. Ele estava dirigindo o primeiro filme da série Tales. Comecei a codirigir com ele em seus filmes e, então, nós meio que invertemos os papeis. Eu estava dirigindo Deu Preguiça, e ele veio e me ajudou muito.


Uma vez, eu li que um codiretor e um diretor são como um telescópio, em que cada um deve olhar para as duas extremidades ao mesmo tempo. Quando eu estava olhando para o quadro geral, Ricard estava olhando para os detalhes, e, quando ele estava olhando para os detalhes, eu estava olhando para o quadro geral. E eu acho que falamos nosso próprio idioma agora. Quando damos notas para a equipe, se um de nós não estiver lá, o outro pode meio que traduzir para todo mundo o que queremos e o que estamos falando.


A animação é um processo tão grande, e você tem que criar cada coisa que ouve ou vê na tela. Por isso, ter essa pessoa com você, que está supervisionando o filme junto com você, é uma ajuda enorme. E acho que é por isso que, na animação, o codiretor está se tornando um papel tão importante e muito mais popular. A Disney, a Sony e todo mundo estão começando a fazer isso.


Então, sim, acho que nós dois somos muito, muito sortudos e espero que façamos isso de novo. Não sei (risos). Ricard, como você se sente?


Ricard Cussó: Uma coisa que Tania não mencionou é que ela é uma animadora incrível. E eu não faço animação! Eu venho de uma formação em cinema live action, e Tania está nessa indústria há tantos anos. Então, ter alguém que sabe exatamente como se comunicar com os animadores e fazer com que cada quadro fique tão bom é incrível.


Tania escreveu o roteiro junto com Ryan [Greaves], e a sensibilidade que eles deram à história e ao desenvolvimento dos personagens é incrível. Só o fato de eu poder fazer parte dessa jornada foi incrível. Fiquei muito feliz por fazer parte desse tipo de produção e poder ajudar com o que pude no filme.


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Ana (Oxente Pipoca): Quando estamos falando de animação, as vozes dos personagens são muito importantes para garantir que o tom do filme esteja certo e que as piadas sejam engraçadas. Como foi o processo de seleção dos dubladores para este filme?


Tania Vincent: Esse processo foi bem divertido, inclusive. Nós sabíamos que a família precisava ter química. Se a família não tivesse química, esse filme nunca daria certo. Então, nós fizemos uma grande leitura conjunta e tivemos muitas pessoas se inscrevendo para os papeis. Queríamos que as pessoas fossem da Austrália, mas também tivessem essa origem latina. Então, encontramos esse grupo de pessoas, colocamos todos eles em uma sala juntos e simplesmente deu certo. Foi fantástico! Tivemos a oportunidade de gravar com todos em um mesmo ambiente. Você consegue fazer esse tipo de coisa em uma animação. Normalmente, em dublagens, é só você e o microfone.


O legal também é que eles conversavam um com o outro, faziam essas piadinhas e acrescentavam coisas novas ao roteiro. Acho que tivemos muita sorte por causa desse processo.


Inclusive, o Ricard faz a voz de um personagem neste filme. Ele faz uma voz em todos os filmes. E eu também entrei lá! Nós dois pegamos o microfone e fomos fazer vozes também.


Ricard Cussó: Acho que essa é uma das coisas particulares sobre filmes com orçamentos fora do estilo Pixar e DreamWorks, por exemplo. Você tem que fazer mil coisas ao mesmo tempo. Então, às vezes, o filme tem esses personagens aleatórios que não foram escalados, e a gente pede ao nosso editor para dar voz a um desses personagens, ou a gente pede à Tania, ou sobra para mim dar voz a eles. Então, às vezes, temos que entrar lá e fazer. Mas é bem divertido, nós gostamos de fazer isso!


E sobre o que a Tania estava falando sobre a dublagem, todos ali falavam espanhol. Mesmo que houvessem palavras que não estavam escritas em espanhol no roteiro, no momento em que a fala era dita, conseguimos um resultado surpreendente. Então, era tipo: “Ei, vamos tentar dizer esta palavra ou esta frase em espanhol, tudo parece mais natural.”


Os atores realmente ficaram felizes em ter essa oportunidade porque, como você também sabe, qualquer um que seja bilíngue, às vezes, pode acabar alternando entre idiomas muito fluentemente, muito rapidamente. E é algo tão comum! Poder usar isso no filme foi ótimo.


Ana (Oxente Pipoca): O filme fala sobre recomeços, manter as tradições familiares, mas também sobre acreditar em si mesmo e não viver com medo. Como vocês dois veem o papel dos filmes de animação no cinema atual quando se trata de abordar temas complexos de uma forma acessível a diferentes faixas etárias? Por exemplo, eu tenho 23 anos, mas tenho certeza de que meu priminho, que tem sete, também adoraria o filme.


Tania Vincent: Acho que o segredo é que as crianças são tão, tão, tão inteligentes. Você nunca deve menosprezá-las. Acho que nunca nos propusemos a fazer um filme que tentasse ser para crianças. Era só fazer um filme que as pessoas quisessem ver. E acho que algo que descobrimos ao trabalhar com esse tipo de filme é que, quanto mais único e pessoal ele é, mais universal ele se torna para o público.


Às vezes, são os próprios adultos que têm mais dificuldades em compreender os temas mais difíceis que você está tentando apresentar do que as crianças. Os pequenos simplesmente entendem instantaneamente.


Uma questão também é que estávamos preocupados com o tom do filme, já que a personagem da mãe está enfrentando o início de Alzheimer. Nos preocupava como isso seria compreendido pelas crianças, mas elas simplesmente conseguem seguir com a narrativa e levar o tema a sério.


Acredito que há muitas crianças por aí lidando com esse tipo de coisa na família, então é legal ter um veículo, como um filme de animação, para que elas possam pensar sobre essas questões. E também acaba construindo uma maneira esperançosa de olhar para isso. Sim, as coisas podem ser bem difíceis, mas se você aprecia o agora com a sua família e se concentra no presente, ainda pode criar memórias e viver uma vida feliz. Foi complexo, mas acho que as crianças são tão inteligentes que simplesmente entendem.


Ricard Cussó: Concordo com tudo o que você disse. Eu acho que isso realmente decorre também do que nos fez virar diretores e do que nos fez entrar na indústria. Eu e Tania somos millennials e crescemos com Steven Spielberg e filmes da Pixar. Eles têm uma maneira de contar histórias que agrada tanto a crianças quanto a adultos.


Você pode assistir novamente a um filme de Spielberg, ou Up e Toy Story, e, toda vez que assiste, capta algo novo. Acho que crescemos absorvendo esse tipo de narrativa, que gera identificação. São histórias universais, relacionáveis tanto para crianças quanto para adultos. Então, acho que acabamos fazendo o mesmo com nossos filmes também.


Ana (Oxente Pipoca): E a última pergunta: eu adoraria que vocês recomendassem três filmes de animação para nossos seguidores. Ah, Deu Preguiça também é uma opção!


Tania Vincent: Nossa, essa é a pergunta mais difícil de todas! Ok, acho que definitivamente O Gigante de Ferro, de Brad Bird, é um dos meus filmes favoritos. Toy Story 3 sempre me pega muito, não consigo lidar quando eles estão naquela fornalha. As lágrimas sempre aparecem. E, por último, vou escolher um clássico da minha infância. Eu era totalmente obcecada por A Pequena Sereia.


Ricard Cussó: Vou dizer Scarygirl, que é uma adaptação da graphic novel de Nathan Jurevicius. É um pequeno filme australiano que agora não consigo lembrar quem dirigiu [risos], mas veja se você consegue assistir.


Eu acho que a Pixar, como mencionei antes, é mestre em contar histórias. Em Toy Story 3, é incrível o jeito como eles capturam a narrativa e fazem uma sequência funcionar tão bem.


Por fim, acho que vou escolher O Príncipe do Egito, uma animação 2D. Esse filme foi lançado na época em que a DreamWorks estava crescendo e fazendo Shrek ao mesmo tempo, mas O Príncipe do Egito foi o filme que liderou como a "resposta" para a Disney. E fizeram um trabalho fantástico.


Ana (Oxente Pipoca): Perfeito, gente. Muito obrigada pelo tempo e parabéns pelo filme.


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