Filme é consistente em sua densidade dramática, mesmo deixando funcionalismo de lado

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Em fuga da Europa do pós-guerra, o arquiteto visionário László Toth (Adrien Brody) chega à América para reconstruir sua vida, seu trabalho e o casamento com sua esposa Erzsébet (Felicity Jones), depois da separação forçada durante a guerra por mudanças de fronteiras e regimes. Sozinho em um novo país estranho, László se estabelece na Pensilvânia, onde o rico e proeminente industrial Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce) reconhece seu talento para a construção. Mas poder e legado têm um custo muito alto.
O Brutalista não é um filme sutil, mesmo saudando o brutalismo e suas características enquanto arquitetura, design e forma de expressão, ele mira na grandiosidade e acaba, por vezes, sendo apenas grande. O brutalismo é uma corrente da arquitetura que surgiu na Europa por volta dos anos 50 e que tinha/tem como algumas das características principais o funcionalismo, elementos modulares, paletas de cores monocromáticas, exposição dos materiais usados e formas geométricas contundentes. Não vou querer inventar ou pensar em analogias ligando a corrente ao filme, mas, de toda forma, mesmo mantendo uma unidade visual e temática, deixa completamente o funcionalismo de escanteio.
É claro quando um filme é um trabalho feito com paixão por um cineasta e quando é meramente comercial. Este é um longa que o diretor Brady Corbet aparentemente não queria que terminasse. Digo isto pelo excesso de detalhes, de closes, de objetos e até mesmo de sons que acabam inflando a experiência para além do que merecia, mas que transparece o apego zeloso que Corbet teve por aquilo que estava montando. E é esse paradoxo que faz o filme funcionar e que também faz ele se perder. É isto que aproxima e distancia cineasta, personagem e temática. Como falei, o que parece grandioso só é extenso demais, ainda assim o resultado impresso é de um filme caro, imponente e refinado, mesmo não construindo um objeto preciso e definido.
Filmado em VistaVision com rigor técnico explícito, o visual sempre apresenta texturas e cores consonantes através de uma fotografia de baixa saturação e excelentes contrastes. A direção de arte é um deslumbre. Através de mobiliários, formas e materiais, o filme situa o espectador nos parâmetros da corrente brutalista numa espécie de aula de campo imersiva onde o modernismo (nem sempre o brutalismo) domina e dita as regras. A trilha sonora passivo-agressiva de Daniel Blumberg é outro destaque na ambientação densa e cínica do enredo.
E é nessa densidade narrativa que o roteiro é embasado. É um filme de drama que não tenta fugir do drama e gosta de explorá-lo sem pressa e sem pudor.

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Quase todos os personagens carregam um fardo negativo que interfere nos problemas mal resolvidos uns dos outros. Tem drama familiar, drama pessoal, drama político, drama histórico e até drama geográfico. O texto não economiza nesse peso e, mas senta a mão mesmo é na segunda das duas partes em que o filme se divide (sem contar com um epílogo que destoa do tom das duas partes e que parece ter sido forçado para caber como uma justificativa do que o roteiro queria ter dito e não conseguiu). Apesar do drama constante e da mesma tonalidade apreensiva, fria e em alguns momentos misteriosa, essa segunda parte parece carregar mais do que pode comportar, e desde a elaboração de diálogos até o encerramento propriamente dito, a distribuição dos pontos de inflexão parecem não harmonizar.
Adrien Brody faz o papel de coitado sonso como ninguém. E todo o elenco de coadjuvantes que o cercam conseguem entregar personagens bem desenvolvidos e marcantes. No entanto, Felicity Jones esbarra no sotaque e nos maneirismos de uma personagem que é a cara da segunda parte.
Arquitetado como uma cinebiografia daquelas de grandes gênios incompreendidos, O Brutalista tem muito a transmitir e evita atalhos, evita uma objetividade que tornaria o filme mais desenvolto e ágil, mas não menos diligente e eficiente. É um filme que se vende como importante e que aparenta importância, mesmo que o espectador não sinta qualquer reação àquela história.
Nota: 3,5/5
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