Branagh encontra tom ideal para nova adaptação de Agatha Christie, apesar do resultado instável
![](https://static.wixstatic.com/media/81f961_7557053eb67144fb80be3ec751a65f18~mv2.png/v1/fill/w_49,h_28,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/81f961_7557053eb67144fb80be3ec751a65f18~mv2.png)
Fonte: divulgação
Em mais uma adaptação dos famosos livros de Agatha Christie, o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) agora vive recluso numa Veneza lúgubre pós-Segunda Guerra quando recebe a visita de Ariadne Oliver (Tina Fey). Oliver é uma escritora de romances de mistério e amiga antiga do investigador, e ela o convida para uma sessão espírita numa mansão onde antes funcionava um hospital infantil. Após uma morte inesperada, Poirot vai mais uma vez analisar os personagens e contextos para saber quem foi o responsável pelo crime que coloca suas crenças à prova.
Kenneth Branagh é um diretor destemido, ele pouco parece se importar se vai acertar ou errar, parece mais interessado em testar novos métodos e formas. O irlandês já dirigiu de um tudo: adaptações de romances investigativos, adaptação de Shakespeare, filme de herói, dramédia semibiográfica e live action de princesas para a Disney. E por mais que esteticamente seus filmes pouco se pareçam um com outro, em todas elas há uma elegância dinâmica que - mesmo não se tratando de uma fantasia - dá uma nota de sutileza fantástica ao tratar do real.
Entre suas versões cinematográficas dos romances investigativos de Agatha Christie essa é certamente a mais madura e mais sólida – o que não necessariamente garante que seja um filme excepcional. Assassinato no Expresso do Oriente (2017) é um filme contido, que não se arrisca muito, mas que também não alcança muito. Morte no Nilo (2022) é um desastre completo, brega, exagerado e descompassado. Nesse, a mescla de noir com suspense sobrenatural deu o tom preciso para a ambientação e desenvolvimento. A fotografia, cenografia e sinuosa trilha sonora ajudam o roteiro a chegar até o final.
![](https://static.wixstatic.com/media/81f961_611f74d8613e411fb04e5c2dfbc13be5~mv2.png/v1/fill/w_49,h_33,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/81f961_611f74d8613e411fb04e5c2dfbc13be5~mv2.png)
Fonte: divulgação
Mas quanto ao texto não há muito que possa ser feito. O estilo do material original implica um conhecimento quase que detalhado da sequência de ações até seu desfecho. O roteiro tenta brincar com o místico e com o metafísico, mas é tudo em vão quando a conclusão é construída em cima de um detalhe factual. Então por mais sério e sombrio que a produção aparenta ser, o final morno estilo Scooby-Doo tira toda a intensidade. Branagh brilha mesmo é no papel de Poirot que desempenha com estilo desde a primeira oportunidade. Na verdade, todo o competente elenco se mostra bem dedicado e parece levar o filme mais a sério do que ele realmente precisa.
Mesmo sendo o mais confiante e confortável filme da, até então, trilogia – graças a estética e ao carisma dos atores – porque o enredo, mais uma vez, faz parecer enfadonho e limitado toda história de whodunnit (e talvez de fato sejam e os longas estejam abrindo meus olhos).
Nota: 3/5