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  • Foto do escritorCaio Augusto

Análise | As comédias românticas de estúdio voltaram, mas por que ficamos tanto tempo sem elas?

As comédias românticas estão de volta e se tornam a melhor pedida para um público que anseia por escapismo em tempos tão conturbados da sociedade atual

Foto: Todos Menos Você (Sony Pictures Brasil)


Um gênero que foi bastante impulsionado por Hollywood na década de 90, e logo após entrou em recessão no final dos anos 2000. Mas parece estar tendo um revival por diferentes motivos. Mesmo sendo filmes relativamente baratos do ponto de vista da produção, por muitas vezes o gênero tentou atrair o público através de atores estreantes, junto a ideia de criar novas estrelas de hollywood, e desde o início as comédias românticas ficaram conhecidas por direcionar o holofote para grandes atores. Em seu auge, Harry e Sally: Feitos um para o Outro (1989) foi seguido por sucessos dos anos 1990, como Uma Linda Mulher (1990) e Sintonia de Amor (1993). E foram importantes para firmar junto ao público o poder das estrelas das comédias românticas com atrizes como Meg Ryan e Julia Roberts, e atores como Hugh Grant e Richard Gere.

Foto: Harry e Sally: Feitos Um para o Outro (1989)/ Columbia Pictures


Relacionamento em crise

 

No começo dos anos 2000, rolou um grande rebuliço no gênero. A fórmula já manjada das comédias românticas deixou de causar o mesmo impacto de antes. Ao menos no Brasil, ainda houve uma certa resistência graças ao filme Se Eu Fosse Você (2006), onde levou cerca de 3 milhões de espectadores para o cinema, sendo o filme brasileiro com maior bilheteria daquele ano, e com sua sequência Se Eu Fosse Você 2 (2009) o filme se tornou uma das maiores bilheterias da retomada. Mas em Hollywood os estúdios resolveram mudar o foco. Mesmo com mais de uma década de sucesso, moldando a trajetória de vários ícones das telonas, uma enxurrada de filmes do tipo chegou, mas não conseguiu prender a atenção do público o suficiente para se manter firme nos cinemas.

Foto: Amor a Toda Prova (2011)/ Warner Bros. Pictures


Com toda a inovação técnica acontecendo no cinema, especialmente após o lançamento de Avatar em 2009, tornou-se desafiador manter o interesse em um gênero cinematográfico que oferecia pouco além de tramas clichês e abordagens irreais do amor. Mesmo para aqueles que tinham uma afinidade pelo gênero nos anos 90, não havia muito entusiasmo em torno de lançamentos peculiares estrelados por veteranos como Meg Ryan ou Hugh Grant. 


Não há dúvida de que os filmes de orçamento médio deram uma diminuída na virada da década. Existem várias explicações para este fenômeno: a qualidade da TV a cabo, que oferece uma experiência de entretenimento doméstico semelhante, mas mais conveniente; a proliferação de serviços de streaming de vídeo, que se tornou uma medida para evitar pagar caro por ingressos de cinema; Como também  as inúmeras outras opções de entretenimento digital que disputam nossa atenção. No fim dos anos 2000, as comédias românticas não convenciam mais e não tinha mais o mesmo gás de antes e parecia estar preso nas próprias convenções do gênero sem muita inovação. Tava todo mundo nesse embalo de filmes de orçamento colossais com super-heróis ostentando $300 milhões ou os independentes mais humildes, na casa dos $10 milhões, que tinham a chance de levar um Oscar de Melhor Filme. Um fenômeno um tanto parecido com o que vivemos na última década.


Além do fator dinheiro, outro fator que contribuiu para o desinteresse de Hollywood pelo gênero foi: o interesse pelo público masculino, tanto como espectador quanto atrás das câmeras. Hollywood decidiu apostar prioritariamente no público masculino, e filmes com homens tanto à frente como atrás das câmeras. Eles passaram a adotar uma visão mais machista de que as comédias românticas era um gênero muito restrito e abraçaram de vez o estereótipo raso e superficial do dito “filme para meninas”.


Além de tudo, comédias românticas possuem mais chances de fazer sucesso quando são possui um elenco que cative o público, principalmente as atrizes, então o que acontece quando jovens atrizes preferem atuar em filmes de drama do que comédias românticas? Portanto, romcoms sofreram desvalorização nesse quesito, e jovens estrelas femininas da última década podem ter se acabaram tendo um pé atrás quando lidavam com a ideia de ter que se envolver com produções do gênero. Por um longo período, esse gênero era capaz de criar estrelas de sucesso que eram adoradas pelos fãs do gênero, mas atualmente, as atrizes mais jovens parecem optar por outros caminhos antes de estrelar uma comédia romântica.


E ao pensarmos no sucesso das comédias românticas da década de 90, acabamos indo de encontro com uma questão central: Será que algumas das características das comédias românticas são problemáticas ou datadas e que na década seguinte a geração de espectadores mudou e passou a se incomodar com algumas problemáticas do gênero?

Foto: O Amor é Cego (2001)/ Fox Filmes


As comédias românticas americanas do passado eram predominantemente homogeneizadas em sua abordagem, tendo sempre casais brancos e heterossexuais vivendo tramas previsíveis e relacionamentos tóxicos. Apesar de sua popularidade, os romcoms, como gênero, realizaram poucas mudanças nas concepções sobre quem poderia se apaixonar, como deveria ser sua vida ou a quem deveriam amar. Além disso, ao adotar essa perspectiva limitada, quando personagens LGBTQ eram incorporados às narrativas, eram quase sempre retratados como homens gays, frequentemente estereotipados como o amigo sarcástico do protagonista, servindo apenas para oferecer pequenas doses de romance e conselhos de moda. Evidentemente, essa abordagem revelou-se insustentável ao longo do tempo.


Essa nova onda de filmes românticos pode ter conquistado um certo público, mas não transmitiam a mesma perspectiva sobre o amor que as comédias românticas ofereciam. O gênero sempre foi uma boa pedida em tempos difíceis como um modo de escapismo para algo reconfortante e de fácil digestão. Contudo, conforme a segunda metade da década de 2010 se desenrolava, algo peculiar começou a acontecer: a comédia romântica parecia estar voltando à boa forma.


O ‘makeover’


É um tanto difícil definir qual foi o ponto de virada que trouxe essa ideia do retorno das comédias românticas, mas podemos chegar em alguns nomes, especificamente um streaming e um filme desse mesmo streaming: Netflix e A Barraca do Beijo (2018). Pouco tempo depois a Netflix lança Para Todos os Garotos que Já Amei (2018) que também fez bastante sucesso no streaming. 


Segundo a Variety, a Netflix encontrou a mina de ouro naquele ano, pois mais de 80 milhões de assinantes assistiram comédias românticas originais no streaming, e consequentemente isso motivou a Netflix a produzir ainda mais romcoms originais. Esse modelo acabou sendo seguido por outros streamings como Amazon Prime e Hulu, que também tiveram suas produções de sucesso, umas com mais e outras com menos, mas que não deixou de ser um grande vitrine pro gênero que até então não estava mais tendo tanta a atenção dos grandes estúdios de cinema. Além disso, ter a possibilidade de assistir comédias românticas direto do streaming é um boa pedida para os fãs do gênero, pois possibilita que o espectador assista ao mesmo filme diversas vezes, o que é uma atividade bem comum para os fãs dos romcoms.


Por muitas vezes os lançamentos de comédias românticas no cinema eram feitos de maneira bastante protocolar e se resumiam à janela de dia dos namorados ou até mesmo de natal. Mas devido à natureza cíclica do cinema e a experimentação dos streamings, os grandes estúdios resolveram voltar a sua atenção para o gênero, quando a Warner Bros. lançou ainda em 2018 o sucesso Podres de Ricos (2018), que apresenta uma perspectiva fascinante da cultura asiática, contando com um elenco abrangente composto por artistas orientais e seus descendentes, e destacando na tela a representação de inúmeros imigrantes e suas gerações no Ocidente. Um fato curioso é que o autor do livro que foi adaptado pro cinema recusou uma oferta bastante lucrativa da Netflix, pois ele junto dos produtores optaram por produzir o filme junto à Warner Bros. para que o filme fosse lançado nas salas de cinema. E hoje sabemos o quanto o filme foi um sucesso e acabou provando que as comédias românticas ainda fazem sucesso na grande  tela.

Foto: Podres de Ricos (2018)/ Warner Bros. Pictures


A nova fase das comédias românticas está aprendendo com as falhas do passado desse gênero: a diversidade está assumindo um papel cada vez mais significativo nessas produções. Embora ainda não tenham atingido a representação ideal na tela em relação aos personagens e aos desafios que enfrentam, as comédias românticas mais recentes estão, pelo menos, fazendo um esforço para promover mudanças. Essa tendência provavelmente persistirá à medida que o tempo avança, e os últimos dois anos sozinhos já contribuíram mais para essa transformação do que toda a década de 90.


O reencontro


A atual tendência de comédias românticas tem a chance de ampliar os enredos aos quais estamos habituados nos filmes mais populares. Quando projetamos o futuro, torna-se desafiador prever a direção que o gênero tomará a seguir, dado sua natureza altamente diversificada. Um dos caminhos que a nova fase das comédias românticas terá que superar é o de retratar de forma fiel como as pessoas estão descobrindo o amor ou os diversos tipos de relacionamentos nos tempos atuais, como as pessoas estão lidando com encontros no pós-quarentena, filmes que exploram diferentes estruturas de relacionamento como por exemplo o relacionamento aberto, como também a utilização de aplicativos de namoro. 


O streaming de fato tem um grande importância nessa virada de chave responsável pelo retorno do gênero. Mas ainda mais importante é o fato de que Hollywood está entusiasmada em lançar novas comédias românticas de estúdio. E grandes comédias românticas de estúdio nos levaram a cenários incríveis e memoráveis, que por muitas vezes não parece ser tão marcante em filmes de streaming, talvez por parecer esteticamente mais polido que os de estúdio. E o filme de estúdio da vez que melhor ilustra essa questão é o Todos Menos Você (2023), estrelando Glen Powell e Sydney Sweeney, e já ultrapassou a marca de $100 milhões nas bilheterias mundiais, se tornando a comédia romântica de maior bilheteria desde O Bebê de Bridget Jones (2016). O filme estreia hoje (25) no Brasil.


Certamente outros filmes de estúdios conseguiram converter um bom público para os cinemas nos últimos anos, como Cidade Perdida (2022), com Sandra Bullock e Channing Tatum. Ingresso para o Paraíso (2022), com George Clooney e Julia Roberts. E o divertidíssimo Que Horas Eu Te Pego? (2023), com Jennifer Lawrence.

Foto: Todos Menos Você (2023) / Sony Pictures Brasil


À medida que o interesse do público na Marvel diminui, surge a oportunidade ideal para as comédias românticas de estúdios reconquistarem a cena. E ao que parece diversos fatores estão envolvidos para que o público tenha se interessado por Todos Menos Você (2023), mas um fator é crucial: a internet. Na primeira metade do ano de 2023, surgiram nas redes sociais fotos dos bastidores do filme que acabou gerando rumores sobre um possível romance entre Glen Powell e Sydney Sweeney durante as filmagens e levou muitos a pensar que não teria problema algum, não fosse o fato de que se trataria de uma traição já que ambos os atores são comprometidos. O rumor ganhou força nas redes sociais e acabou viralizando fazendo com que o público queira ver o filme por causa de tal polêmica.


Outro fator envolvendo a internet que impulsionou o sucesso do filme foi o modo que a Sony utilizou o TikTok para impulsionar o marketing do filme. Um TikTok deles sussurrando um para o outro teve mais visualizações do que o próprio trailer oficial do filme, sendo 18 milhões contra 10 milhões de visualizações. Utilizando a química no set entre as duas estrelas em ascensão que foi tema de jornais de fofoca. Com a intenção de criar um viral, a Sony incentivou os espectadores a publicar em seu TikTok a própria recriação da sequência de créditos. Sweeney, que conta com milhões de seguidores, também compartilhou várias das recriações.


Talvez seja a comédia romântica dos últimos anos que melhor soube se comunicar com o público mais jovem e que melhor abraçou a influência da internet. Agora o que nos resta é torcer para que outros estúdios sejam influenciados por esses últimos sucessos para que mais comédias românticas cheguem de forma ainda mais expressiva ao cinema. Todo esse cenário parece ainda estar tomando forma, mas, pelo menos por enquanto, o que antes era considerado um gênero adormecido está provando que ainda possui o seu charme.




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