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Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | É Assim Que Acaba

Adaptação de fenômeno literário é bem dirigida e manipula bem a expectativa do seu telespectador

Foto: Divulgação


A primeira vez que li É Assim que Acaba foi em 2016, alguns meses antes do livro ser lançado em português. Na época, Colleen Hoover já era uma autora famosa no universo dos livros romances new adults (gênero literário que retrata o jovem que inicia a vida adulta e passa por alguma adversidade mais complexa), porém ainda muito longe do sucesso que a autora conquistou nos dias de hoje. Foi na pandemia que os livros de Colleen chegaram ao ápice da fama, graças aos fãs da literatura no app Tik Tok. Por lá, a autora é uma das mais comentadas (seja por bem ou por mal) e conquistou uma legião de fãs, tornando É Assim que Acaba um dos livros mais populares do mundo na atualidade.


E é claro que um dos livros mais comentados dos últimos anos não passaria imune do fenômeno das adaptações literárias para o cinema. Na última quinta-feira, 8, a versão cinematográfica de É Assim que Acaba chegou às telas com roteiro de Christy Hall (do ainda não lançado no Brasil Daddio) e dirigida pelo também ator Justin Baldoni. No elenco, além do próprio Baldoni, estrelam a produção Blake Lively, Brandon Sklenar e Jenny Slate.


Como disse no início desse texto, sou uma leitora voraz de romances new adults desde bem mais jovem e acompanho os lançamentos e as novidades do gênero desde que me interesso pela temática. São livros de romance com temas mais complexos e cenas mais fortes do que eu encontrava em livros voltados para o público mais adolescente, por exemplo. Minha busca por esse tipo de literatura era sempre em momentos que eu queria desestressar, lendo histórias de outras pessoas e esquecendo um pouco da minha, sem esperar nenhuma obra-prima ou uma trama que me fizesse pensar muito e, sem dúvidas, os livros de Colleen me proporcionaram isso.


Acho É Assim que Acaba realmente um dos seus livros mais completos. Ele cumpre o seu papel trazendo todos clichês do gênero e trata de uma situação complexa ao falar de violência doméstica de uma forma nada sutil e extremamente didática para um público que provavelmente não está tão acostumado com isso, especialmente lá em 2016. Na história, Lily Bloom (Blake Lively) é uma mulher que, após vivenciar eventos traumáticos na infância, decide começar uma vida nova em Boston e tentar abrir o próprio negócio. Como consequência dessa mudança de vida, Lily acredita que encontrou o amor verdadeiro em Ryle (Justin Baldoni), um charmoso neurocirurgião.


Porém, à medida que o relacionamento se torna cada vez mais sério, também surgem lembranças de como era o relacionamento de seus pais. Até que, repentinamente, Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), seu primeiro amor, retorna para a vida de Lily. As coisas se complicam ainda mais, quando um incidente doloroso desencadeia um trauma do passado, ameaçando tudo o que Lily construiu com Ryle.

Foto: Divulgação


O roteiro consegue se manter fiel à obra original, mas, adiciona novas camadas à história, tentando atingir um público ainda mais amplo. Com boas soluções para mesclar o que os fãs queriam ver e o que funcionava de fato nas telas, o filme mistura bem os flashbacks necessários para a trama sem torná-lo cansativo para quem o assiste. Indo dessa história de romance mamão com açúcar para um drama sobre violência, o longa também se fortalece com a boa direção de Baldoni, muito perspicaz também na montagem da trama que, caso não fosse bem feita, poderia parecer muito mais um dos péssimos filmes da Lifetime.


O apelo do livro (e também da escrita da Colleen) é a manipulação das expectativas dos seus leitores e a direção de Baldoni é muito pontual ao tratar essas agressões de forma mais micro e dúbia, algo que acontece também com o telespectador que se pergunta durante o filme se “houve de fato uma agressão ali ou ela apenas tropeçou?” até a protagonista e o telespectador terem, juntos, o seu momento de clareza. É uma decisão interessante e bem construída pela direção do filme, que consegue manter a trama andando durante o seu tempo de projeção.


Em contraponto, É Assim que Acaba é didático até demais e parte para uma narrativa que não me agrada tanto ao apontar o famoso “se a sua filha te contasse que fosse agredida, como você se sentiria?” para o agressor. Mas aqui cabe entender também que para o público geral, esse tipo de narrativa funciona e causa o impacto necessário para que discussões sobre violência doméstica sejam feitas, e, em um universo tão agressivo com as mulheres, ter um filme com essa temática (tratada de forma honesta) sendo consumido é algo extremamente válido, especialmente quando ele chega para mulheres fora de uma bolha liberal.


Outro ponto que poderia tornar É Assim que Acaba um desastre são as atuações, mas aqui elas funcionam muito bem. Blake não entrega uma atuação espetacular, mas é competente nos momentos mais fortes da trama, assim como Brandon Sklenar como Atlas. Baldoni, pra mim, é o mais forte do trio, ancorado em um personagem complexo que vai do amor ao ódio do telespectador em poucos segundos. Outro bom destaque é Jenny Slate como Alyssa, um bom alívio cômico à trama dramática e aos intérpretes de Lily e Atlas mais jovens, com um destaque especial para a muito boa Isabela Ferrer, que incorpora os trejeitos de Blake Lively e passa uma emoção genuína em momentos-chave dos flashbacks.


Com uma trilha sonora escolhida para agradar o público jovem adulto, acho que o saldo de É Assim que Acaba é mais positivo do que negativo, embora venha sendo bastante criticado por uma parcela do público. Como eu disse anteriormente, é importante que histórias que abordam a violência doméstica cheguem para um público que não costuma consumir esse tipo de trama. Obviamente não é o melhor retrato cinematográfico sobre violência contra mulheres, mas também não é o pior filme já feito sobre o tema. Ainda é uma experiência válida, em especial para quem gosta de histórias de romance mais complexas.


Nota: 3/5

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