Moderna, série triunfa na naturalidade, mas às vezes peca pela falta dela
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Abordando as desventuras amorosas dos melhores amigos Bia (Bruna Marquezine) e Victor (Sérgio Malheiros) e aquela confusão mental dos 20 e poucos (ou tantos, até) que todo mundo passa, é impossível não se identificar com a história, o problema é que nem sempre acontece de forma orgânica. Me surpreendi muito com o primeiro episódio, o texto esperto e jovial, a personagem de Marquezine é muito bem apresentada e seu envolvimento com Marcelo (Danilo Mesquita) sendo construído genuinamente. No entanto, nos momentos finais, acontece uma reviravolta um tanto folhetinesca. O problema não é a reviravolta em si, mas como ela pareceu forçada. E é neste tom que a série segue por seus dez episódios, mas felizmente o lado bom prevalece na maior parte.
A Bia de Marquezine é a maior força da produção. A atriz está excelente no papel e este, dos que eu assisti, é seu melhor trabalho. Ela está muito mais experiente, madura, segura de si e se entrega ao papel na maior espontaneidade. Sabe chorar muito bem e isso não era segredo para ninguém, mas é nas situações corriqueiras que seu talento se destaca mais. Sérgio Malheiros está muito bem como o coprotagonista, no entanto, seu personagem demora um tanto para engatar. Em Bia, há muito mais humanidade por ela ser melhor desenvolvida pelo roteiro, enquanto do lado de Victor são apresentadas mais características clichês, que perdem um pouco do fator da imprevisibilidade e até prejudica o eventual envolvimento romântico deles, o que não é spoiler. Há química, mas havia mais com outros parceiros de ambos e até o dinamismo entre eles se perde um pouco. Fica clara a tentativa de ser algo meio Normal People, mas só fica na tentativa mesmo. Não significa que seja ruim, só não tem profundidade o suficiente. É como se Bia estivesse no ponto certo, mas Victor não.
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Outro ponto positivo é a direção de René Sampaio e Tatiana Fragoso e codireção da própria Marquezine. A câmera focando no rosto dos personagens traz uma sensação de intimidade, de estar ali junto com aquelas pessoas, até porque a familiaridade é evidente. Se não rolar uma identificação pessoal, alguém retratado ali te lembra pelo menos um alguém que você conhece. As cenas de sexo são muito bonitas e há uma elegância presente nelas que deixa tudo mais intenso e não menos real. Criada e escrita por Matheus Souza, o roteiro é outro mérito. Junto com seus colaboradores, ele consegue dar muita naturalidade às situações, com gírias e referências bastante atuais. No entanto, às vezes escorrega no exagero em alguns casos e alguns diálogos e circunstâncias soam forçadas com muita exposição. Marquezine tem alguns monólogos fortes sobre essa crise existencial da idade e como eu disse, a atriz está excelente em todos eles, mas o texto em si, em um especificamente, me passa a sensação de “você precisa se identificar” e tira a naturalidade da cena.
Entre alguns baixos e vários altos, a série consegue capturar bem a essência das idas e vindas dos 20 e poucos. É comum que alguns ciclos se repitam e isso não me incomoda em um período da vida onde tudo que temos são incertezas e isso é bem retratado nos dez episódios de quase quarenta minutos cada, onde há um equilíbrio entre o drama e a comédia – que nem sempre funciona, devo dizer – nunca deixando o clima pesar demais. O ritmo é bom e em momento algum a série se torna maçante, mesmo com os defeitos que eu já apontei. A última cena - da qual eu gosto muito - tem tons de finitude, mas pode ser que haja espaço para mais, porém acho que funciona melhor como uma minissérie, pois uma 2ª temporada poderia ficar repetitiva e colocar a maturidade atingida em jogo. O principal ponto são os erros que nos fazem humanos e é através deles que aprendemos a ser quem somos. É um válido sopro de honestidade.
Nota: 3,5/5
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