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Crítica | Cobra Kai (6ª temporada)

  • Foto do escritor: Matheus Gomes
    Matheus Gomes
  • 17 de fev.
  • 4 min de leitura

Com um desfecho sólido e emocionante, a série mostra que é, e sempre foi, sobre Johnny Lawrence.

Divulgação


Após 7 anos, a jornada de Cobra Kai chegou ao fim. A produção, que começou sua história sob o teto do finado Youtube Red com o propósito de dar ao personagem de Johnny Lawrence (William Zabka), vilão do filme original, o protagonismo que os fãs da franquia original sempre sonharam, migrou para a Netflix a partir de sua 3ª temporada, onde parece ter encontrado um verdadeiro lar para ampliar seu enredo cheio de galhofas à moda dos anos 80. E, diga-se de passagem, o charme nostálgico nunca se perdeu.


Apesar dos altos e baixos ao longo de seis temporadas - sintomas de um prolongamento para além do necessário -, a série nunca pecou no seu aspecto mais consagrado: honrar o legado do sucesso de 1984. Neste último ano, o saudosismo ainda está lá, seja pelo retorno de personagens que marcaram a trilogia original ou pela trilha sonora nostálgica. No entanto, a temporada final também trouxe um toque de inovação ao longo de seus 15 episódios, o que, para o bem ou para o mal, traz um novo ingrediente para aquilo que já vínhamos acompanhando incessantemente há anos.


Pensada para ser uma história com 3 “mini-temporadas”, cada pedaço da sexta temporada apresentou início e desfecho de suas tramas. A primeira, lançada em julho de 2024 nos recebeu com a aparente derrota de Terry Silver (Thomas Ian Griffith) e resolução do constante quarteto amoroso entre Sam (Mary Mouser), Miguel (Xolo Maridueña), Robby (Tanner Buchanan) e Tory (Peyton List). 


Nessa largada, é altamente perceptível a perda de ritmo, que sacrifica alguns desenvolvimentos pessoais de personagens que já tiveram seu arco de autoconhecimento concluído, apenas para justificar a extensão da história com cinco episódios a mais em relação aos anos anteriores. Exemplos disso foram o retorno de Tory ao Cobra Kai de Kreese (Martin Kove) e os constantes desentendimentos entre LaRusso (Ralph Macchio) e Lawrence, que voltaram a ocupar espaço sem agregar novas camadas à narrativa.


Ainda assim, esse susto inicial de estarmos diante de um finale com “mais do mesmo” foi, todavia, dispersado à medida em que tivemos acesso às Partes 2 e 3. Como mencionado acima, a inclusão de novos ingredientes à trama se tornou muito bem-vinda à medida em que o enredo nos levava a terrenos mais elevados; exemplos disso são novas descobertas sobre o passado do até então ilibado Sr. Miyagi, que coloca a admiração de Daniel-san em xeque, como também a transferência da ambientação, que sai do Vale de Los Angeles e vai até Madrid para a disputa do mundial “Sekai Taikai”. Com isso, os desafios parecem exigir muito mais em termos de tensão dramática, com consequências reais e, por vezes, inacreditáveis, em especial à forma como termina a parte 2. 


Em termos mais técnicos, essa ousadia trazida com o fim da série também nos proporcionou a oportunidade de ver um pouco mais do alcance emocional do elenco principal, que quase se desfez em lágrimas em uma cena ou outra. Destaque aqui para a interlocução entre Kreese e Lawrence em um dos episódios finais, em uma sequência digna de nota por sua intensidade e carga emocional, um momento de fragilidade que não estávamos acostumados a ver dessas duas peças.


Assim, ainda que em muitos momentos haja escolhas de roteiro que não parecem fazer muito sentido ou sejam extremamente previsíveis, o saldo é positivo. Esses tropeços, embora notáveis, não chegam a comprometer a experiência como um todo. A série compensa suas falhas com momentos de alta emoção, cenas de ação empolgantes e um carisma inegável dos personagens, entregando um desfecho que, no geral, faz jus à sua trajetória e ao carinho dos fãs.

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Encerrar algo que fez tanto sucesso agradando a todos é sempre uma tarefa árdua, para não dizer quase impossível. Ainda assim, por mais que parecesse improvável que isso acontecesse logo com Cobra Kai, é preciso das às devidas vênias: estamos diante de um final perfeito, pelo menos para aquele universo, que endereça suas expectativas com louvor e nunca se leva a sério quando o assunto é breguice, mas sempre mantém o respeito àquilo que a tornou tão cativante ao longo dos anos.


Aqui temos um ponto central em toda a jornada que merece destaque: a série sempre foi, e continua sendo, sobre Johnny Lawrence. Embora tenha sido colocado de lado em alguns momentos ao longo das temporadas, o retorno do personagem ao centro da trama acontece de forma quase orgânica. Johnny, que começa como um perdedor preso ao passado e ressentido com a vida, evolui para sensei, pai de menina e, finalmente, campeão mundial de karatê. Sua jornada é marcada por altos e baixos emocionais, que desembocam em um crescimento pessoal sincero e extremamente comovente.


Ver essa evolução, culminando em sua redenção completa, é o verdadeiro coração da série. No fim das contas, Johnny Lawrence é o nosso verdadeiro Karate Kid, mostrando que, mesmo décadas depois, é possível encontrar novos caminhos e reescrever a própria história.


Com direito a (muita) pancadaria, melodrama e até efeitos especiais mais elaborados que não faziam parte dos ingredientes das temporadas passadas, Cobra Kai encerra sua jornada no auge. Sendo um dos produtos mais adorados da Netflix, a série conquistou uma legião de fãs ansiosos pelo desfecho (incluindo este que vos escreve), entregando o equilíbrio perfeito entre nostalgia, ação e uma conclusão emocional para os arcos de personagens tão carismáticos.


Brega como nunca, divertida como sempre, Cobra Kai prova que, de fato, nunca morre. E, embora a história tenha chegado ao fim, é impossível não sentir uma saudade desse universo que, por tanto tempo, nos fez rir, torcer e acreditar na força do karatê, por mais ridículo que isso soe.


Nota: 4.5/5




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