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Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | Continente

Filme usa bem analogias e subgêneros do terror para contar história sobre a luta de classes

Foto: Divulgação


Quando recebi a oportunidade de assistir Continente por uma cabine de imprensa online aqui pro Oxente, Pipoca?, pouco sabia da história além de que era um terror que se passava no sul do Brasil e isso foi uma das melhores coisas que aconteceram para minha experiência com a história ser bem mais imersiva e surpreendente do que eu esperava. Lançado na última quinta-feira, 31, nos cinemas de todo país, o longa nacional Continente é uma trama que cresce mais ainda quando você sabe poucos detalhes sobre a sua trama.


Em linhas gerais, o filme conta a história de Amanda que, após 15 anos morando no exterior, retorna para casa com seu namorado francês Martin. Eles chegam na casa da fazenda de seu pai, que fica num vilarejo remoto e isolado no sul do Brasil. Lá, Amanda encontra seu pai em estado de coma em meio a grandes tensões entre ele e os trabalhadores da fazenda. A única médica do vilarejo é Helô, uma jovem mulher que se resigna a cuidar dos moradores locais. A morte iminente do fazendeiro coloca Amanda, Martin e Helô no coração de acontecimentos perturbadores entre os habitantes do vilarejo e os donos da fazenda.


Dirigido por Davi Pretto, Continente começa com um suspense tímido, gerando no telespectador aquela dúvida sobre o que está acontecendo de fato no local. Essa atmosfera de tensão e dúvida aparece bem na história tanto através do roteiro, tanto com as escolhas de direção de arte e trilha sonora, que tentam catapultar esse medo também em quem está assistindo através da tensão iminente no olhar daquelas pessoas. Essa primeira parte do filme consegue criar muito bem essa dúvida e me causou uma sensação de sufocamento e angústia tal qual a que os personagens sentiram ao chegar no local. 

Foto: Divulgação


Muito disso acontece pela competência do elenco que Davi Pretto tem em mãos. Protagonizado por Olívia Torres, que é uma força motriz em tela como Amanda, todo filme se sustenta muito bem por essas boas atuações que se complementam entre si durante as cenas. Com uma boa fotografia que mistura bem os tons frios e quentes e uma direção que foca em planos fechados, o filme tem uma ótima cenografia e competentes trabalhos de som e edição.  


Quando Continente larga a mão do suspense e abraça a violência, a segunda parte do filme incorpora um terror mais visual e corporal, fazendo com que a trama se engrene para um caminho diferente do que pensamos. O roteiro de Davi em parceria com Igor Verde e Paola Wink dá um giro de chave na história, quase como inserindo um segundo filme dentro do outro, pelas diferenças perceptíveis tanto visuais e técnicas, quanto no desenrolar da história. É isso é algo muito positivo para uma trama que utiliza-se bem de analogias para apontar um problema crônico do social do Brasil.


Isso não significa que o longa não tem problemas. Algumas escolhas de trilha sonora me incomodaram bastante, especialmente nessa segunda parte da história. Além disso, a falta de aprofundamento na mitologia ou a falta de explicações de como e porquês da trama podem incomodar alguns telespectadores que preferem o didatismo em certas histórias, mesmo que Continente deixe claríssimo o que denuncia. 


Falar de problemas sociais, luta de classes e relações de trabalho não é novidade. O excelente Propriedade (2022) de Daniel Bandeira também escancara essa problemática, de uma forma, talvez, mais didática e expositiva. Continente, ao tratar dos mesmos temas, utiliza-se desse horror de gênero para falar de uma história que talvez seja o retrato esquecido de um Brasil que ainda existe e fere milhares de trabalhadores de forma sistemática. No fim, assisti-lo é uma experiência catártica, visual e visceral que te faz pensar durante horas a fio após o fim da projeção.


Nota: 4/5

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