O terror sabe se apresentar como jovem mesmo estando num molde bem conhecido
Foto: Divulgação
A mais nova moda entre um grupo de jovens na Austrália é se deixar serem possuídos por espíritos errantes em pequenas festas particulares e filmar o resultado dessas possessões para se divertir e compartilhar na internet depois. Bom, certamente o jogo vai sair do controle e dali pra frente o desacerto vai ser imensurável.
Vamos começar colocando as cartas na mesa. O trajeto de Fale Comigo é bem conhecido e está presente nos melhores e também em alguns dos piores filmes comerciais do gênero. Temos jovens, temos um jogo, temos assombrações sobrenaturais e temos uma maldição a ser quebrada. Mas os irmãos Danny e Michael Philippou – youtubers e diretores estreantes – sabem precisamente o que fazer com tudo e como apresentar essa estrutura sem parecer repetitivo, pelo contrário, eles têm tanto domínio do material que têm em mãos que conseguem literalmente brincar com o terror (numa cena específica mais do que em qualquer outra) e deixar a experiência do filme mais lúdica do que se espera de um terror.
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O longa-metragem tem apenas uma hora e meia de duração, mas sabe aproveitar cada segundo. Os três atos são muito bem marcados e muito bem distribuídos fazendo com que vários dos atores coadjuvantes tenham bons momentos em cena. E que elenco comprometido em botar os (seus) fantasmas para fora! Eles passam pelo suspense, pela comédia e pelo drama reflexivo e se mostram superconfortáveis em todos os momentos. E todo o elenco tem um argumento bom para trabalhar, em especial a protagonista Mia (Sophie Wilde) que um ano após perder sua mãe luta para seguir com sua vida em meio à depressão e ao vazio deixado por sua progenitora. A relação entre o real, o imaginário, os pesadelos e as visões de fato sobrenaturais fazem de Mia uma personagem cheia de camas a serem exploradas.
Sem efeitos grandiosos, sem cenografias complexas, mas com um trabalho de maquiagem de qualidade, o sucesso do filme depende do trabalho dos atores e das espertas e enxutas escolhas dos diretores. O ritual é simples, e os objetos existem por qualquer que seja a razão. A produção não se demora elaborando teorias sobre a mão que, quando apartada, consegue evocar espíritos. E tampouco está interessada em dar explicações e respostas, isso certamente vai ficar paras a já confirmada continuação – ou continuações.
Porém isso não limita o longa a explorar as possibilidades que sua motivação oferece. Ele funciona tanto como abertura de uma infinita e provavelmente cansável franquia, mas também funciona como solo. Ele se encerra de maneira redonda dentro de sua própria mística mostrando que os jovens diretores têm bagagem de conteúdo, de técnica e têm estilo para maquiar bem suas escolhas.
Nota: 4/5
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