top of page
Background.png

Crítica | Herança de Narcisa (Festival do Rio 2025)

  • Foto do escritor: Gabriella Ferreira
    Gabriella Ferreira
  • 13 de out.
  • 3 min de leitura

Paolla Oliveira é espinha dorsal de filme que transita entre drama familiar e thriller psicológico

ree

Foto: Reprodução


Vencedor do Troféu Redentor de Melhor Filme pelo Júri Popular na Mostra Novos Rumos do 27º Festival do Rio, Herança de Narcisa, dirigido por Clarissa Appelt e Daniel Dias, mergulha na complexa relação entre mãe e filha e nos segredos que atravessam gerações. Protagonizado por Paolla Oliveira, o longa acompanha Ana, que retorna à casa de sua falecida mãe, a ex-vedete Narcisa, com a intenção de vender o casarão herdado. No entanto, a herança se revela muito mais sombria do que ela imaginava, trazendo à tona traumas antigos e acontecimentos que transformam o espaço em um território marcado pelo luto, pelo passado e por memórias que se recusam a ser esquecidas.


O filme, que transita entre o drama familiar e o thriller psicológico, explora bem a questão dos traumas, ressentimentos e segredos que atravessam gerações, e quando se aprofunda nessas nuances dramáticas que realmente se destaca. Paolla Oliveira é a espinha dorsal do filme, conduzindo a narrativa de maneira impecável. Sua atuação quase dupla, equilibrando a filha em luto e a memória de uma mãe vaidosa e negligente com os próprios filhos, dá profundidade à história e segura o espectador em cada cena. Embora o filme construa uma boa atmosfera de tensão, os momentos de terror não são seu ponto forte; o que funciona mesmo são os conflitos emocionais, as relações familiares complexas e o peso das memórias que permeiam cada espaço da casa.


A direção de Clarissa Appelt e Daniel Dias destaca-se pela maneira sensível como utiliza o espaço da casa herdada como elemento narrativo. O casarão funciona quase como um personagem, com seus cômodos amplos, corredores escuros e móveis antigos, carregando memórias e segredos da família. Cada movimento de câmera e detalhe captado contribui para criar diferentes sensações no espectador, alternando entre familiaridade e inquietação, reforçando o peso do luto e a complexidade da relação entre mãe e filha.

ree

Foto: Reprodução


Além disso, a arquitetura e os objetos da casa são usados para explorar as nuances emocionais da narrativa. Em alguns momentos, o espaço transmite acolhimento e nostalgia, lembrando a infância de Ana; em outros, torna-se opressor, refletindo traumas e ressentimentos. A fotografia complementa essa exploração, brincando com luz e sombra para intensificar a atmosfera dramática e psicológica, mostrando que o filme encontra sua força não apenas no terror, mas na construção de camadas simbólicas e emocionais dentro desse espaço.


O maior problema de Herança de Narcisa, na minha opinião, está nos momentos em que ele tenta transitar para o terror propriamente dito. Apesar da boa atmosfera de tensão, essas cenas acabam enfraquecendo a narrativa, pois fica difícil decidir se Herança de Narcisa quer ser verdadeiramente assustador ou se é um drama familiar. A mistura às vezes funciona, mas em outros momentos gera uma incongruência narrativa: quando o longa mergulha de vez no fantástico, o efeito que deveria ser macabro acaba soando bobo, tirando a força das cenas e comprometendo a coerência do tom que o filme estabelece nos trechos mais dramáticos e psicológicos.


Apesar de suas falhas ao transitar para o terror, Herança de Narcisa se firma como um retrato sensível e profundo das relações familiares e do luto. A força do filme está na exploração psicológica dos personagens, na atuação de Paolla Oliveira e na maneira como a casa se torna um reflexo do passado e das memórias que não se apagam. E onde no fim, o longa se destaca mais como um drama familiar carregado de simbolismos do que como um thriller assustador.


Nota: 3/5

bottom of page