Crítica | House of Guinness (1ª temporada)
- Filipe Chaves

- 1 de out.
- 3 min de leitura
Uma mistura de Peaky Blinders com Succession que não atinge seu potencial completo, mas entretém

Foto: Divulgação/Netflix
No século XIX, no ano de 1868, a família irlandesa por trás da Cervejaria Guinness sofre um abalo após a morte do patriarca Benjamin Guinness, e agora, cabe aos filhos Arthur (Anthony Boyle), Edward (Louis Partridge), Anne (Emily Fairn) e Ben (Fionn O’Shea) lidar com as consequências desta perda, seja no drama familiar ou na empresa. Criada por Steven Knight, o mesmo de Peaky Blinders, as semelhanças são várias, principalmente visualmente, porque se passam em épocas parecidas, então a ambientação, os figurinos, tudo nesse sentido remete à série de Tommy Shelby e possuem o mesmo capricho técnico. No entanto, o lado mais criminoso abordado lá, dá lugar à disputa dos herdeiros e ao legado da cervejaria, o que já me lembra mais a história dos Roy. Desde muito tempo na televisão, uma série de sucesso leva à outra parecida e tudo bem, o que não pode, é deixar de ter identidade própria. Felizmente, é o caso aqui e os primeiros episódios estabelecem muito bem as peças no tabuleiro, mesmo que no decorrer da temporada, a pressa atrapalhe o desenvolvimento.
Arthur é o filho mais velho, vivia uma vida boêmia em Londres e agora recebe uma responsabilidade que ele não queria: tomar conta dos negócios da família. Edward, por sua vez, o mais jovem e mais responsável, sonhava com isso, e lhe foi incumbido que ajudasse Arthur nesta missão. À Anne, por ser mulher, lhe sobrou se casar, praticamente. E Ben, que tem graves problemas com o álcool, também não lhe foi confiado nada, nem pelo testamento nem pelo roteiro, já que o rapaz termina praticamente do mesmo jeito que começa. Anthony e Edward ganham mais destaque por conta da sua relação contraposta e Boyle consegue tirar de letra as nuances do seu Arthur, passeando facilmente entre o humor e o drama com carisma, tendo em vista a evolução com o passar dos episódios. Partridge se divide entre a seriedade e inocência de um jovem precoce. Enquanto Emily Fairn está bem como Anne, porém ela começa com uma certa evidência e vai perdendo aos poucos.

Foto: Divulgação/Netflix
A trama possui três outras personagens femininas que ganham mais nuance do que Anne, que são Lady Olivia (Danielle Galligan), Ellen (Niamh McComarck) e Adelaide (Ann Skelly). Olivia se torna esposa de Arthur e têm uma relação bem interessante, digamos assim, para evitar spoilers, e Galligan confere um atrevimento à moça que jamais soa forçado, ainda quando lhe é exigido mais esforço em um arco dramático nos episódios finais. Ellen faz parte da irmandade feniana, que traz à tona um lado mais político da produção, e se envolve romanticamente com um dos Guinness, com quem divide uma fantástica química e é um daqueles casais proibidos que a gente adora torcer. Enquanto Adelaide, já é da família e aparece menos, mas sempre de maneira muito pontual e com uma personalidade forte ressaltada através de um texto ácido. Outro dos protagonistas é Sean Rafferty (James Norton), que é o gerente da fábrica de cerveja e, nos bastidores, o capanga principal dos Guinness e eventualmente se envolve em um caso com uma das mulheres citadas. O rapaz começa como um clichê, mas é perceptível como Norton está adorando cada segundo no papel e consegue fazer com que ele funcione muito dentro daquele universo.
Acho importante destacar as relações existentes, mesmo que não possa detalhá-las. É um dos pontos que mais me agradaram na série, ainda que seja algo que deixe em evidência o seu maior defeito: a pressa. Um dos trunfos da televisão em relação ao cinema é o tempo para se desenvolver tramas, personagens e conexões entre eles. Ainda que House of Guinness estabeleça uma boa base para estas conexões, dentro de um contexto histórico e político, os constantes avanços de períodos no enredo, atrapalham como um todo, não deixando que a série atinja o seu potencial de complexidade que existe ali e o roteiro não tenha o mesmo cuidado que há na direção, design de produção, fotografia ou trilha sonora. Há uma cena no final da temporada em que Arthur ressalta as diferenças das pessoas que eles eram no primeiro episódio. É um paralelo válido e é claro que a temporada acaba exatamente como Steven Knight pretendia, por isso ele passa por ponto A e B, pulando o C, vislumbra o D e chega no E, com a maioria de seus personagens. É notório como isso é reflexo dos tempos atuais e House of Guinness poderia figurar entre as grandes, mas escolhe apenas entreter, o que consegue bem. E eu digo isso porque é uma série da qual gostei bastante, mas tinha potencial para ser mais. A 2ª temporada ainda não foi confirmada, mas esta termina com um baita gancho.
Nota: 3,5/5





