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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Música

Sinestesia, herança brasileira e os dilemas do amor se unem nessa divertida comédia romântica.

Foto: Divulgação


Desde pequeno me vi cercado pela música. Ter um ouvido absoluto e um pai músico que me apresentou às suas bandas favoritas desde cedo fez com que a música e a musicalidade sempre tivessem um lugar cativo no meu dia a dia, de maneiras muitas vezes assombrosas — como ao memorizar álbuns inteiros ou cultivar obsessões como marcar o tempo das músicas que estou “ouvindo” em minha cabeça e até fazer beat box de bateria, instrumento que eu também toco. Talvez por isso, essas manias e idiossincrasias tenham me feito ser empático à condição que aflige Rudy (Rudy Mancuso).


Embora não se assuma frontalmente como um musical, Música faz jus ao seu título (pelo menos em sua primeira metade) ao explorar como a sinestesia de seu protagonista está diretamente ligada à sua forma de ver e viver o mundo, e como a incapacidade das outras pessoas de entender sua condição e seu interesse em viver da música o aflige. Mas não se preocupe, este não é um drama sério: Mancuso, que traz para a tela uma vaga adaptação de sua própria vida, constrói uma obra leve e divertida, explorando tanto sua condição sinestésica quanto sua herança brasileira, tudo isso enquanto nos conduz pelos caminhos da comédia romântica.

Foto: Divulgação


Esse lado romântico da obra vem através de um triângulo amoroso entre Rudy, sua ex Haley (Francesca Reale) e seu novo interesse amoroso Isabella (Camila Mendes), que também partilha das raízes brasileiras como ele. Infelizmente é aqui que Música vacila; embora a química de Mancuso e Mendes seja cativante de assistir — não à toa, os dois começaram a namorar durante a produção do filme —, o triângulo pouco agrega ao conflito dramático da obra. Na verdade, ele se torna apenas irritante depois de um tempo, e pior: rouba o espaço das demais vertentes que o longa quer trabalhar.


Felizmente, há os momentos que nos apresentam visualmente a riqueza da sinestesia de Rudy, e que me fizeram desejar que esse flerte com o musical fosse muito além. Além do mais, diversas cenas possibilitaram com que, como brasileiro, me sentisse contemplado por ver um longa estadunidense que consegue quebrar o estereótipo de latinos como uma entidade homogênea, tanto em instantes simples — como o uso de Canta Canta, Minha Gente, de Martinho da Vila — como na fluidez e transições incríveis entre o inglês e português, especialmente nas cenas de Rudy e sua mãe (vivida pela própria mãe de Mancuso, em toda a sua glória de carioca suburbana).


É uma pena, portanto, que o lado da comédia romântica acabe empalidecendo frente às outras abordagens trazidas em Música, e digo isso como um devoto fã do gênero. Acaba gerando uma desigualdade na obra, mas felizmente é possível ver como ela se sustenta por outros méritos, ilustrando um potencial caminho para Rudy Mancuso na direção — e se for para ver mais da sua química com Camila Mendes e seu amor pela música e pelo Brasil sendo mais explorados, mal posso esperar.


Nota: 3,5/5

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