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Crítica | Nosferatu (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 1 dia
  • 2 min de leitura

Imagens hipnotizantes num filme que se desgasta rápido

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Foto: Reprodução


Um dos grandes méritos de ter adentrado numa pós-graduação de Cinema foi a possibilidade de conhecer e abraçar outras possibilidades de se fazer filme para além do modelo comercial hollywoodiano. Uma dessas possibilidades reside justamente no caráter não-narrativo e experimental que o cinema pode assumir, com obras que rejeitam possibilidades tradicionais de interpretação e compreensão daquilo que se vê em tela. São obras que nos desafiam e convidam a sair de uma posição cômoda nesta relação espectatorial.

 

Nosferatu, de Cristiano Burlan, certamente se enquadra nesse modelo de cinema, dispensando qualquer narrativa tradicional ao trazer o mais famoso dos vampiros para as terras brasileiras e desfilando-o por uma série de imagens muito distintas. A presença de veteranos como Helena Ignez e o saudoso Jean-Claude Bernardet confere peso à obra, mas eles são apenas parte de um todo que engloba uma miríade de olhares e referências: desde corridas por ruas noturnas em busca de vítimas, performances em teatros e bares abandonados e (muitos) monólogos) sobre arte, performance atoral e mortalidade.

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Foto: Reprodução


É inegável que Burlan sabe construir imagens marcantes, especialmente com o filtro de preto-e-branco que confere essa textura sombria e gótica à obra, ainda que com algumas incursões de outras cores (como o vermelho do título do filme exposto num cargueiro nos minutos iniciais), o que traz um certo caráter hipnótico a determinados momentos do filme. Trazer Ignez e Bernardet também carrega seu valor, visto que o filme discute essas ideias sobre mortalidade, e não à toa a melhor cena do filme envolve os dois, além da recriação da cena final de Família do Barulho com a própria Ignez.


Infelizmente, são sequências isoladas em um filme tão sobrecarregado pelo seu excesso de ideias que, mesmo com pouco mais de 80 minutos, se torna cada vez mais maçante. Nem mesmo a construção dessas imagens pode por si só sustentar ideias tão descompassadas, as quais são resumidas a serem transmitidas com longos (e muitas vezes pretensiosos) monólogos. Vê-se um crescente descompasso entre as sequências, tratadas de maneira isolada e sem uma coesão interna que permita interligar tudo que o filme deseja abordar.


Obviamente, o problema não reside na natureza experimental e não-narrativa do filme. Mas existe uma diferença entre o desafiador e o prepotente, e em sua maior parte Nosferatu cai no segundo. Tem seu mérito pela maneira como nos traz Ignez e Bernardet em tela e por uma mise-en-scène que nos presenteia como imagens belíssimas. Infelizmente, por mais que o cinema seja a arte das imagens em movimento, às vezes elas não são o suficiente.


Nota: 2/5


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