top of page
Background.png

Oxente Pipoca anuncia os homenageados da 1ª edição do Prêmio Arara do Audiovisual Brasileiro

  • Foto do escritor: Oxente Pipoca
    Oxente Pipoca
  • há 6 horas
  • 8 min de leitura

Os destaques que marcaram o ano no cinema brasileiro, incluindo O Agente Secreto, Oeste Outra Vez e A Natureza das Coisas Invisíveis


ree

Após 6 anos celebrando o melhor do cinema brasileiro em todas as suas frentes, o Oxente Pipoca lança oficialmente o Prêmio Arara do Audiovisual Brasileiro – uma homenagem a nomes que se destacaram ao longo do ano e ajudaram a reafirmar a diversidade do nosso audiovisual.


Selecionados pela equipe editorial do Oxente Pipoca, os primeiros homenageados formam um grupo único de vozes, trajetórias e obras que seguem ecoando para além do agora. São escolhas que refletem não apenas excelência artística, mas também impacto cultural e capacidade de diálogo com diferentes públicos e contextos do país.


Ao longo de sua trajetória, o Oxente Pipoca se consolidou como um espaço de reflexão, crítica e valorização do cinema nacional, acompanhando de perto lançamentos, festivais, premiações e trajetórias de realizadores de diferentes regiões. O Prêmio Arara surge, assim, como um desdobramento natural desse trabalho, ampliando o olhar do projeto para além da cobertura e assumindo também um papel ativo de reconhecimento.


“O nome Prêmio Arara do Audiovisual Brasileiro carrega um aceno sutil às origens do Oxente Pipoca em Aracaju (Arara + Caju), cidade onde o projeto foi criado. O prêmio-homenagem nasce a partir de um olhar local, mas que quer se articular em escala nacional, acompanhando a diversidade e o alcance do nosso audiovisual”, disse Rafael Carvalho, editor-chefe do Oxente Pipoca.

Mais do que um retrato de um único ano, esta primeira edição do Prêmio Arara se propõe como um gesto de reconhecimento: uma seleção que aponta para a pluralidade do cinema brasileiro contemporâneo e para os caminhos que ele continua indo.


Quanto às regras, buscamos estabelecer uma homenagem por filme, valorizando a diversidade de obras ao longo da seleção e ampliando o conjunto de títulos reconhecidos. A única exceção foi a categoria de Melhor Filme, pensada para permitir repetições quando necessário, e a Vanguarda, que não exige vinculação a um projeto específico. Além disso, apenas longas-metragens com lançamento comercial nos cinemas brasileiros a partir de 1º de janeiro foram elegíveis. Produções exibidas exclusivamente em festivais, sem estreia comercial oficial, ficaram fora da seleção.


A seguir, o Oxente Pipoca apresenta os homenageados do Prêmio Arara do Audiovisual Brasileiro 2025:


ree

Prêmio Vanguarda: Antônio Pitanga


Escolhemos Antônio Pitanga como homenageado por sua trajetória singular e contínua reinvenção artística que atravessa mais de seis décadas de história do cinema nacional. Pitanga é um dos principais nomes do Cinema Novo e uma das maiores referências no audiovisual brasileiro, acumula mais de 70 filmes e atuações que marcaram épocas e influenciaram gerações, participando de obras fundamentais como Barravento e Ganga Zumba, além de protagonizar e dirigir filmes que exploram a identidade e a ancestralidade afro-brasileira. Recentemente, ele retornou à direção com o longa Malês (2025), revivendo um capítulo histórico da resistência negra no Brasil. Em 2025 também esteve presente no premiado Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, e no drama Margeado, de Diego Zon. A escolha de Pitanga reflete nossa valorização de um artista que não apenas ajudou a moldar o cinema brasileiro, mas que segue vanguardista ao conectar memórias, lutas e narrativas contemporâneas com força e sensibilidade.


ree

Melhor Filme: Oeste Outra Vez


Érico Rassi já havia demonstrado seu olhar atento para retratar masculinidades decadentes dentro dos códigos do faroeste em seu primeiro longa "Comeback". Mas "Oeste Outra Vez" marca um inegável salto em sua filmografia ao opor os personagens de Ângelo Antônio e Babu numa narrativa onde a ausência de figuras femininas apenas amplia a violência e solidão destes homens, que tentam a todo custo justificar as lacunas em suas almas. Engraçado e tenso em igual medida, o filme captura muito da iconografia e do legado do faroeste para transportá-lo e subvertê-lo em meio às paisagens de um Goiás profundo e ermo, marcando também a ascensão do estado como um grande polo do audiovisual brasileiro para os próximos anos.


ree

Melhor Direção: Kleber Mendonça Filho (O Agente Secreto)


O cinema de Kleber Mendonça Filho é profundamente atmosférico em suas escolhas, e "O Agente Secreto" pode ser o aperfeiçoamento desta sua marca autoral, onde, ainda que sequer ouçamos a palavra "ditadura" ser mencionada nesta Recife dos anos 70, sentimos constantemente o espírito opressivo e violento que paira sobre a cidade e os personagens. As características do diretor - dentre elas suas referências ao cinema maneirista de DePalma e colegas - seguem firmes e fortes, e até refinadas em alguns casos, e mesmo aqueles incomodados pelas escolhas narrativas do filme devem reconhecer que Mendonça Filho alcançou um nível de maturidade que coloca sua filmografia no panteão do nosso cinema, assumindo uma identidade inegavelmente local e nordestina mesmo quando seu apelo se torna cada vez mais global.


ree

Melhor Roteiro: A Natureza das Coisas Invisíveis (Rafaela Camelo)


Poucos temas receberam abordagens tão plurais no cinema quanto a morte, e ainda assim encontramos obras que trazem uma perspectiva tão fresca e singular que só nos resta o encantamento pelo que vemos em tela. Em "A Natureza das Coisas Invisíveis", Rafaela Camela discute a morte pela ótica infantil, e seu texto é marcado por uma sutileza e delicadeza que traduz brilhantemente como uma criança pode entender e vivenciar a morte e o luto. Essa delicadeza se estende aos diversos outros campos - a relação das protagonistas com suas mães, uma revelação sobre uma delas, o mergulho em um certo realismo mágico e em elementos espirituais que super se coadunam com a temática principal -, possibilitando que o filme encontre um equilíbrio raro entre os tabus que cercam a morte e a ingenuidade que permeia o olhar fílmico de Camelo tanto no campo formal e narrativo, nos inserindo na perspectiva dessas meninas e permanecendo fiel a esse perspectiva até o fim.


ree

Melhor Curta-Metragem - Empate: O Céu Não Sabe Meu Nome (Carol Aó)


Carol Aó une ancestralidade, naturalismo, teor social, memória, antológico e metafísico num filme poético e quase documental. O Céu Não Sabe Meu Nome é uma experiência sinestésica e objetiva sobre pertencimento: físico, emocional e espiritual; sobre coletividade, sobre a fluidez da vida e sobre fé. Tudo isso montado de forma cirúrgica e muito bem desenhado com o auxílio de uma direção de arte rica. Seus breves 20 minutos se expandem com força e magnitude e parecem projetar o trabalho para fora da tela.


Melhor Curta-Metragem - Empate: Ataques Psicotrônicos (Calebe Lopes)


Em meio à tradição do realismo social presente no nosso cinema, fazer uma obra de gênero incorre em diversos desafios. Felizmente, Calebe Lopes supera esses desafios com facilidade ao construir em "Ataques Psicotrônicos" um filme que jamais nega as suas referências - "Eraserhead", "Tetsuo - O Homem de Ferro", o body horror do cinema de David Cronemberg - mas que não se acanha em "antropofagizá-las" para construir uma obra com a qual nos identificamos facilmente por causa dos nossos contextos socioculturais e brasileiros. A atmosfera de paranoia, dúvida e opressão que permeia os poucos mais de 20 minutos do filme servem bem a uma narrativa que se volta para as experiências traumáticas de viver no meio evangélico brasileiro, tudo isso em meio a uma mise-en-scéne que reflete o amadurecimento de Calebe e seu potencial para ser uma das figuras mais notáveis do cinema de gênero do nosso país.


ree

Melhor Atriz: Shirley Cruz (A Melhor Mãe do Mundo)


Shirley Cruz é o corpo e a alma de A Melhor Mãe do Mundo. Ela é a âncora visceral que amarra todos as nuances do longa mesmo quando ele patina entre tons que não chegam a dialogar diretamente entre si. É impossível desviar o olhar da força, da bravura, da verdade e da qualidade do desempenho da atriz. Entregando uma força no olhar arrebatadora e capaz de expressar tanta verdade quanto as palavras verbalizadas ditas nos diálogos, a atuação de Shirley permanece por muito após os créditos finais.


ree

Melhor Ator: Jesuíta Barbosa (Homem com H)


Sim, Jesuíta Barbosa não é fisicamente semelhante a Ney Matogrosso, mas chega uma hora em "Homem com H" que nos esquecemos disso, tão assombrosa é a maneira como o ator incorpora o músico, abraçando todo o seu lado animalesco, performático, histriônico e expansivo. É sobre fisicalidade e sobre usar o corpo como um próprio instrumento, e o mérito de Jesuíta é capturar a maneira pela qual Ney fez (e faz) isso dentro e fora dos palcos. O mais impressionante disso tudo é que ele ainda faz parecer fácil, algo que só um grande ator seria capaz.


ree

Melhor Atriz Coadjuvante: Gilda Nomacce (Prédio Vazio)


Desde a estreia no curta Um Ramo (2007), Gilda Nomacce construiu uma das carreiras mais prolíficas e ricas do cinema brasileiro contemporâneo, transitando com naturalidade entre o terror e o drama, sempre marcada por grande entrega física e emocional. Com mais de uma centena de obras e dezenas de curtas no currículo, tornou-se musa de uma geração de jovens cineastas justamente por essa disponibilidade radical ao risco. Em Prédio Vazio, de Rodrigo Aragão, Nomacce condensa essa trajetória em uma atuação que sustenta o terror urbano do filme não apenas pelo susto, mas pela atmosfera: sua personagem encarna o mal-estar cotidiano, o medo que nasce do espaço e da solidão, transformando o edifício em um organismo vivo. Mais do que um exercício de gênero, sua performance reafirma a força de uma atriz que entende o horror como experiência humana, íntima, social e profundamente contemporânea.


ree

Melhor Ator Coadjuvante: Elenco de Oeste Outra Vez


Em um filme marcado pelas ausências femininas e dominado por figuras masculinas, era fundamental um elenco masculino à altura da tarefa de interpretar homens quebrados, movidos por suas naturezas violentas e, ainda assim, patéticas, abraçando um certo humor perverso e cínico que rege o texto de Érico Rassi. Felizmente, Ângelo Antônio, Babu, Rodger Rogério, Daniel Porpino, Adanilo e Antônio Pitanga mais do que dão conta do recado, oferecendo diversas perspectivas do que é ser homem ao passo em que são unidos (ou divididos) por aquilo que têm de comum. Certos nomes podem se destacar mais que outros (impossível não se deslumbrar com a facilidade com a qual Rodger Rogério rouba a cena), mas a sinergia do elenco mais do que justifica esse prêmio coletivo.


ree

Melhor Ator Revelação: Isaac Amendoim (Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa)


Isaac Amendoim (Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa): A grande alma do filme está em Isaac Amendoim, que entrega um Chico Bento capaz de transbordar os sentimentos mais genuínos que sempre habitaram os quadrinhos da Turma da Mônica. Há algo de profundamente verdadeiro na sua interpretação, que respeita a essência do personagem ao mesmo tempo em que a expande para o cinema com naturalidade e sensibilidade. Como dito em nossa crítica, o humor inocente que ele "deposita no personagem, a energia caótica típica de suas ações e até mesmo uma tremenda dose de sensibilidade são marcas de um talento em ascensão". Isaac é, sem dúvida, a própria definição de revelação, ainda mais impressionante por sustentar com tanta segurança um papel dessa magnitude.


Melhor Atriz Revelação: Jamilli Correa (Manas)


O potencial de Jamilli é imenso. Em Manas, ela constrói uma atuação silenciosa, mas ao mesmo tempo grandiosa, que foge do óbvio e faz o filme escapar da cartilha mais comum do gênero. É justamente nessa contenção cheia de força que o longa encontra parte da sua identidade e se afirma como um dos grandes dramas do cinema brasileiro de 2025. Cercada por um elenco repleto de nomes fortes, Correa se apoia nessa troca para crescer em cena e entregar exatamente o que o filme de Marianna Brennand exige: uma sensibilidade sem igual, capaz de fazer esse tema tão urgente ressoar em todo o mundo.


ree

Melhor Filme de Comédia: O Melhor Amigo


Comédia romântica, queer, musical, nordestina e tropical. Qual outro filme nacional contempla essas características? O Melhor Amigo já nasceu clássico por levantar suas bandeiras sem deixar de lado a diversão, e o entretenimento do espectador. Com as cores vibrantes do litoral cearense refletindo a intensidade, o tesão e o delírio febril dos romances tórridos de seus personagens, o longa-metragem de Allan Deberton não tem receio de exagerar nem de se curtir, e faz tudo isso com qualidade visual.


ree

Melhor Documentário: Apolo (Tainá Müller e Isis Broken)


A trajetória de Ísis Broken, Lourenzo Gabriel e do pequeno Apolo se constrói em meio a uma luta cotidiana por direitos básicos. Apolo carrega em seu cerne a busca por dignidade, arte e afeto, fazendo com que essa experiência ressoe no espectador de maneira singular e profundamente sensível. Ambientado no contexto da pandemia da Covid-19, o filme acompanha Lourenzo e a sergipana Ísis Broken ao narrar os desafios enfrentados durante uma gestação trans no Brasil contemporâneo. O que poderia se limitar a um relato íntimo se expande e ganha força, transcendendo o pessoal para se afirmar como um potente manifesto sobre identidade, existência e resistência. Imperdível.

bottom of page