Nova série do Apple TV+ mistura matemática com suspense, mas não chega no resultado ideal

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Em uma determinada cena, Edward, o protagonista interpretado por Leo Woodall, questiona “e se as regras fossem diferentes? E se os números não se comportassem como nós presumimos?”, e ele chega a uma resposta, mas a série é rasa demais para fazer a gente se importar com esse processo científico e simplesmente faz questão de nos lembrar a todo instante, com palavras, o quão brilhante ele é. A máxima do “mostre, não fale” não foi aplicada aqui e isso é um problema. É esse tal brilhantismo de Edward que desperta o interesse de Taylah (Quintessa Swindell), uma jovem agente da NSA encarregada de vigiar matemáticos, e logo os dois percebem que estão sendo perseguidos e precisam se juntar para sobreviver.
A matemática é só uma desculpa para mais uma trama de conspiração sem muita inovação e que deixa a desejar justamente onde deveria se diferenciar. É assistível, entretém boa parte do tempo e tem até um certo ritmo, mas ainda assim esquecível. A narrativa vai se montando através de vários mistérios, que a princípio, pareciam até flertar com o Código Da Vinci e afins, no entanto logo perdi essa impressão com a revelação de quem eram os vilões de fato. Não que seja imprevisível, muito pelo contrário, porque quando as peças começam a se mexer, logo é perceptível onde querem chegar, usando recursos pouco surpreendentes que se repetem ao ponto de serem enfadonhos. Porém, há sequências de perseguições que empolgam e conseguem elevar a tensão, bem como algumas – poucas – lutas corpo a corpo que são muito bem ensaiadas. Além do mais, é notável pelas localizações que a Apple investiu bem nos cenários, em belas cidades pela Europa. É uma pena que a série não consiga estar à altura.

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O elenco é outro ponto inconsistente, mas não é inteiramente culpa deles, e sim do roteiro de Steve Thompson, criador e showrunner, que falha em dar qualquer nuance. Leo Woodall aqui perde todo o carisma que tinha apresentado em The White Lotus e Um Dia, com o clichezão do gênio que não sabe muito bem se relacionar com pessoas. É um protagonista apático por isso, com um texto que não ajuda e um ator que não tenta ou não tem experiência suficiente para ir além e a direção de Brady Hood também não consegue tirar dele o seu melhor. A Taylah de Quintessa Swindell, é a agente espertinha com um trauma do passado. Contou mais um clichê? Pois acertou, e digo mais: ela também tem dificuldade de confiar em terceiros. Swindell está ok, mas só. Quem se destaca e quase parece uma pessoa real – ou pelo menos humana – é Sidse Babett Knudsen, no papel de Andrea, a não ser quando o roteiro convenientemente emburrece a personagem. Entretanto, o foco maior é na dupla Edward e Taylah e a série tenta construir ali uma relação, com uma dinâmica tão sem graça que é difícil alguém se importar com eles.
São oito episódios nesta 1ª temporada, e como eu disse, é assistível, mas diante da quantidade absurda de produções que temos hoje em dia nos streamings, Alvo Primário dificilmente se destacará e talvez se ela se levasse menos a sério, resultaria em algo mais ousado. Os mistérios até que são interessantes, mas as respostas e reviravoltas previsíveis acabam só demonstrando a fragilidade da trama. Para não ser injusto, há uma atitude de um personagem que surpreende no episódio final, mas logo fica claro que ela acontece unicamente no intuito de criar ganchos para uma possível 2ª temporada, e não necessariamente com o desenvolvimento que levou até ali. Se vai ser renovada, eu não faço ideia, porém o que eu sei é que não há empolgação da minha parte em acompanhar uma série que é só ok, com uma premissa de um filme mediano que poderia passar na Sessão da Tarde nos anos 90 e ninguém lembraria o nome no dia seguinte.
Nota: 2,5/5
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