Bom enredo é desperdiçado com execução de muito mau gosto
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Em 1917, Rebeca (Valentina Herszage) foge da fome e da guerra na Polônia e chega ao Brasil para reencontrar o marido e iniciar uma nova vida. No Rio de Janeiro, ela descobre que seu marido faleceu e acaba refém de uma grande rede de prostituição e tráfico de mulheres, chefiada pelo impiedoso Tzvi (Caco Ciocler). Rebeca transgride suas próprias crenças e encontra aliadas que vivem o mesmo drama. Juntas, elas decidem lutar por liberdade.
O cineasta João Jardim pode ter tido as melhores das intenções em retratar uma história tão pungente – e certamente desconhecida para a maior parte dos brasileiros –, mas a falta de tato e de sensibilidade que esse texto carece é perceptível em sua direção. A condução do filme prefere planos fechados onde coloca as mulheres em evidência e consegue transmitir a sensação de aprisionamento e sufoco a que as personagens femininas estão submetidas, o que é uma escolha de estilo compreensiva e até bem empregada. Mas para além disso, todas as outras decisões que são tomadas ao querer evidenciar a violência e os abusos sofridos são completamente questionáveis. O longa tem uma grande adversidade com seu ritmo e tenta usar esses momentos impactantes, por assim dizer, como situações-chave no desenvolvimento do enredo, o que reduz o protagonismo das mulheres ao papel de vítima e não consegue dar a força e a relevância que acha que está dando àquelas personagens.
Por vezes o filme parece se inspirar no premiado Entre Mulheres (2022), de Sarah Polley, para tentar construir em cena a rede de apoio feminina que fará com que elas superem seus obstáculos, mas falta diálogos, falta tempo de tela, e falta também profundidade. Se muito do óbvio mostrado nas partes de agressão fosse transferido para a simplicidade da troca entre suas protagonistas, o longa teria uma roupagem mais sincera e mais justa.
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Valentina Herszage mostra porque é um dos nomes de destaque no cinema brasileiro dos últimos 5 anos. A atriz consegue passear por diferentes gêneros com naturalidade e aqui carrega a trama com garra e muito sentimento na voz e no olhar. Caco Ciocler também interpreta bem seu cínico antagonista e contrapõe Valentina com nuances variadas.
Jardim é um diretor com muita experiência em televisão e isso reflete em seu novo filme. Os enquadramentos, a montagem e o desenho de som, são alguns dos elementos que mostram seu viés mais enxuto ao arquitetar sua narrativa filmada, o que torna o filme contido, mas não menos impositivo.
As Polacas se valida pela urgência de seu tema, como registro artístico-histórico, e como problema ainda vigente, mas provavelmente uma visão feminina (ou mais visões femininas) no tratamento da história traria uma melhora substancial no teor e no resultado.
Nota: 2/5
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